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José de Alencar - Indianismo

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 3 de abr. de 2019
  • 6 min de leitura

José Martiniano de Alencar nasceu no Ceará, em 1829, no final do Primeiro Reinado, de lá saindo para a Corte aos dez anos. No Rio de Janeiro, conclui seus estudos secundários, transferindo-se para São Paulo, onde cursa a Faculdade de Direito. De volta ao Rio, entra em contato com a intelec­tua­lidade literária, nomes como Machado, Manuel Antônio de Almeida – e estréia como escritor no Correio Mercantil aos 25 anos, mas logo de início entra na famosa polêmica com Gonçalves de Magalhães sobre o poema épico a Confederação dos Tamoios. Discordando do poeta, quando este afirma ser o poema a grande epopéia brasileira, Alencar, em 1857, publica, em resposta, O Guarani, verdadeira narrativa épica do Segundo Império.

Para se falar da obra O Guarani, temos que falar do autor José de Alencar, pois temos muito dele para sua compreensão.


José de Alencar cearense, veio de uma família de políticos, seu Pai José de Alencar, um grande latifundiário era o homem mais poderoso do Ceará e bastante influente na política no Rio de Janeiro, ocupava a cadeira permanente do Senado Brasileiro e foi um dos homens que manteve o Império no chamado golpe da maioridade que deu a maioridade para o Imperador Dom Pedro II e o Brasil estava livre do contra golpe do Padre Fijá em dar poder aos liberais e possível República. Seu pai desejava criar seu filho como um aristocrata e dando todos os tipos de mimos para que isso se realizasse, mas José de Alencar Filho não se manteve quieto em seu palácio no Ceará, mas sim estudou em São Paulo, se formou em Advocacia e entrou para a política como Deputado pelo Ceará, foi ministro da justiça e pretendeu ser Senador como seu pai, mas por implicância do imperador, isso foi negado. Na época ele passou a trabalhar no jornal e a escrever, já que na época, os políticos não recebiam salários como hoje. O fato é que ele bateu de frente com o poeta preferido da corte, Gonçalves de Magalhães que havia escrito “Revolução dos Tamoios” fazendo críticas quanto a falta de um protagonista, da incongruência do enredo, enfim, ele criticou em público o poeta e essa briga lhe rendeu grandes inimizades, mas resultou no impulso para a realização da sua primeira obra indianista, O Guarani.


Temos que entender que o Brasil estava vivendo a independência de Portugal, com a proclamação e agora com a coroação do Dom Pedro II, mas José de Alencar teve a mais erudita das educações brasileiras, tendo lido escritores franceses e por lá se escrevia como a escola realista defendia, fruto das repercussões da revolução industrial na Inglaterra e denúncias das desigualdades sociais surgidas e crítica ao romantismo que antes era predominante. O Brasil, atrasado 100 anos em seu desenvolvimento em relação a Europa, ainda iria sofrer 5 anos com a Guerra com o Paraguai, uma guerra desastrosa defendida obstinadamente pelo Imperador, mas na literatura ser buscava os idéias Românticos, e foi ai que José de Alencar percebeu que nós precisávamos resgatar nossa história, decifrar quem era o verdadeiro brasileiro e sua raiz, que para ele seria o indígena, negligenciando os africanos, que estavam já miscigenados com portugueses, mas Alencar nunca foi favorável aos movimentos abolicionistas, portanto suas obras indianistas, que forma uma trilogia tendo O Guarani como sua obra prima e primeira, mostra um indígena já europeizado, junto de uma portuguesa loura de olhos verdes. Sua obra seguinte, considerada mundialmente como a melhor obra do autor, Iracema, já temos a união da índia Iracema com o português Martins tendo um filho dessa união, Moacir, mas vejam que Moacir significa em linguia tupi guarani o filho da dor.


O Romantismo onde se insere O guarani busca trazer nas obras a identidade da nação. Essa obra é tão fundamental que se considera José de Alencar como o patrono da literatura nacional, já que ele vai colocar todas as características estritamente nacionais, mas fazendo uma intertextualidade com as novidades e cultura européia. A obra é gigantesca e dividida em 4 partes, com uma quantidade de personagens tão ricos que em muitas vezes nos perdemos. É claro que Alencar idealizou muito o tal indígena, ele se apresenta como um gênio, pois aprende falar português em apenas três meses e ainda fala melhor que os outros estrangeiros um nobre pela sua educação e um homem apaixonado demais, que daria sua vida em sacrifício pela mulher amada.


Claro que ele estava buscando aproximar o leitor ao mesmo tempo que ele buscava resgatar esse herói brasileiro que vai constituir, juntamente com o colonizador português o provo brasileiro, mas exagerou demais ao colocar o índio com penas na cabeça usando uma camiseta branca, como as camisetas da Hering logo no início da obra. Ele salva demais a sua amada, na obra toda, ele a salva 5 vezes, mas nada disse ira a riqueza da obra no geral. O que devemos ressaltar é que romantismo é ligado ao platonismo, isto é, os personagens são idealizados com o que o autor pensa e que acha que é o ideal. José de Alencar nunca teve contato com um índio de verdade na sua vida toda. Ele era um nobre, criado com muito mimo e era bastante sensível e educado nas melhores escolas e sua referencia de personagens vinham de obras de autores como Emili Zola, Gustav Flaubert e Vitor Hugo. Tudo que ele pretendia era dar ao protagonista um formato de grande herói, como Hércules da mitologia grega, sua heroína também idealizada demais, ela era a mais bela, loira de olhos verdes, mas diferente das mulheres da corte, suas leitoras, ela era impositiva, poderosa, sendo cortejada e admirada por três homens, um italiano (estrangeiro) um português e o indígena, o Peri, que era bastante subserviente dela, fazia todas as suas vontades e oferecia a sua vida se fosse preciso. As mulheres da época do romance eram justamente o contrário, totalmente submissas aos homens e em sua maioria analfabetas.


O que vamos testemunhar nessa obra é a idealização da mulher para José de Alencar, que depois vai escrever uma trilogia Lucíola, A Diva e Senhora, com a mesma característica dessa mulher, forte, poderosa e deslumbrante que arrebata os corações dos homens que caem a seus pés e desejos. Mesmo a sua obre indianista seguinte ele vai criar uma mulher indígena nesses moldes, forte, poderosa, mas muito idealizada. Como sabemos, José de Alencar tem uma grande admiração pelos pés femininos, vai escrever um romance sobre fetiche “A Pata da Gazela” e na obra “Iracema, a virgem dos lábios de mel”, tem uma descrição totalmente fora do que se entende por uma indígena, pois ela “...tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira... nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas”. Uma mulher que vivia descalça na selva tinha o pé gracioso e nú? Muita idealização e um tesão especial por essa parte do corpo, pois no mínimo era bem cascudo, mas isso é romantismo.


O guarani é a primeira obra indianista de José de Alencar que faz parte da primeira fase do romantismo na literatura brasileira escrito em 1857. A obra é tão famosa e na época ficou da mesma forma consagrada, que o compositor erudito Carlos Gomes fez uma opera. Alencar traz a brasilianidade de volta a literatura através da imagem do indígena, mas como falamos, esse índio é bastante idealizado assim com o a obra do autor é altamente maniqueísta, o bem contra o mal, o certo contra o errado e na época se sabia que o nosso índio guarani era muito violento e praticavam o canibalismo, embora não vivesse próximo ao litoral, muito menos no litoral do Rio de Janeiro, mas Alencar cria um índio com qualidades católicas, visando agradar aos leitores europeus, embora essa obra seja essencial e uma das mais importante para a literatura brasileira, não conseguimos ver um índio ali, mas sim uma caricatura.


Finalmente o livro mais maduro do autor e terceiro e último da trilogia indianista temos Ubirajara publicado em 1874, determina uma guinada na literatura brasileira e consolida a série indianista de Alencar. Pela primeira vez o escritor se grande importante se volta para o passado e o legado brasileiro analisando somente o índio brasileiro em si, sua cultura, rituais, honra e ética sem a contaminação dos colonizadores portugueses, numa época em que boa cultura vinha pronta da França e da Inglaterra.

Os romances indianistas de José de Alencar trouxeram as atenções para os trópicos, através de seus selvagens idealizados. José de Alencar alcançou o status de grande escritor brasileiro e de um dos fundadores da nossa literatura, aclamado como patrono da literatura brasileira, com obras numa linguagem bem nacional.


Em suas obras classificadas como indianistas, o escritor cearense recria o mito do bom selvagem de Rousseau em nosso indígena. Defensor da associação entre o nativo e o europeu colonizador, observa, nesse casamento, inúmeras vantagens para ambos os povos: enquanto aquele oferece a natureza virgem, este lhe dá, em troca a cultura. Alencar lança mão do amor espiritualizado, motivador de toda a trama. A pureza de sentimentos supera todos os obstáculos gerados por diferenças sociais. A natureza brasileira é o cenário do romance indianista. A paisagem, pintada pela poesia, é um recanto de salvação. O herói é totalmente idealizado, o índio mitificado, desde o tipo físico até o caráter, tudo nele remete à força selvagem, indômita e independente que brota da terra.

 
 
 

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