120 Dias de Sodoma.
- Fernando Carlos
- 11 de set. de 2019
- 7 min de leitura

Eu vou tentar me isentar o máximo possível de fazer meus comentários pessoais dessa obra, devido a não ter tanto discernimento do porquê um homem vindo da filosofia das luzes (Iluminismo), filósofo da escola da libertinagem escreveu uma obra tão pesada, tão angustiante com tanta violência gratuita que nos faz sentir muito mal e até abandonar a leitura, como fiz várias vezes, mas o manuscrito original da obra, que estava em Berlin nas mãos de um psiquiatra chamado Iwan Bloch que teve interesse em estudar os casos relatados, coisas que jamais poderíamos poder passar pela cabeça de um ser humano, comprou e publicou em 1904 uma versão repleta de erros com o pseudônimo "Dr. Eugen Dühren" para evitar a controvérsia. Certamente o nome Sadismo vem daí, mas quem ler a obra original, verá que as atrocidades que 4 personagens fazem com mulheres, sim, o livro é misógino, não tem nada próximo ao que se entende por sadismo nos dias de hoje.

Enfim, o tal Marques de Sade escreveu "120 dias de Sodoma" no espaço de trinta e sete dias em 1785, enquanto estava preso na Bastilha. Ele foi condenado a prisão por quatro processos, mas nenhum envolvia homicídio, portanto as barbaridades que lemos, o modo cruel de matança que está lá registrado, foi simplesmente fruto da imaginação do autor, ele próprio nunca fez algo parecido, apenas usou cenas carregadas de sangue para fazer uma crítica aos pilares da sociedade de seu tempo. Quando a bastilha foi atacada e saqueada em 14 de Julho de 1789 durante o início da Revolução Francesa, Sade ficou extremamente preocupado em não perder tudo que havia escrito até então e deixou o rolo de papel que estava escrevendo na cela e foi transferido para terminar sua pena num manicômio e posteriormente seu manuscrito foi encontrado na sua cela e foi vendido ao marquês de Villeneuve-Trans, cuja família o conservou durante três gerações. Seus descendentes, Charles e Marie-Laure de Noailles, adquirem o manuscrito e publicam-no em 1929 numa edição limitada aos "bibliófilos subscritores" para evitar a censura. Ele ficou desaparecido até que chegou as mãos de um colecionador suíço de obras eróticas Gérard Nordmann. Finalmente, depois de batalhas judiciais, idas e vindas veio a decisão de que o manuscrito original fique preservado na França a partir de 2014. O Presidente da França Emmanuel Macron (2017 até os dias atuais) declarou a obra patrimônio da França e hoje pudemos ter uma tradução aqui no Brasil, já que o que havia aqui era uma tradução de Portugal.

Filho do Conde de Sade Jean Baptiste François Joseph e de Marie Eleonore de Mailé de Carman estudou com os maiores e melhores escolas e professores da França. Chegou ao posto de coronel e lutou na Guerra dos Sete Anos. Tornou-se capitão do regimento de cavalaria de Bourogne. Em 1763 casa-se com Reneé-Pélagie de Montreuil no mesmo ano que é condenado por libertinagem com pena de 15 dias na prisão de Vincennes. Levando uma vida de boêmio, mantém relacionamentos com atrizes e dançarinas. Teve mais três condenações, uma por maus tratos. Teve três filhos, chegou a patenmte de tenente. Em 1784 é levado para a Bastilha e ai que escreveu: “Os 120 Dias de Sodoma” (1785), “Os Infortúnios da Virtude” (1788). “Eugênie de Franvel” (1788). Resumindo, ele passou grande parte de sua vida em prisões, pagando por crimes de licenciosidade, perversões e violências sexuais, porém, foi nessa época que escreveu uma obra ampla e complexa. Ateu, fazia críticas à religião dominante, fazia apologia ao crime e usava termos grotescos para tecer suas críticas morais à sociedade urbana.

Em 1789, com a tomada da Bastilha, o Marquês de Sade é transferido para Charenton e todos os seus documentos e bens pessoais são saqueados. No ano seguinte é libertado e inicia sua ligação com Marie-Constance Quesnet. Em 1791 publica “Justini”. No ano seguinte seu texto “La Suborneur” é levado à cena, mas não obtém sucesso. Em 1793 redige textos políticos e acusado de delito é preso em Carnes Saint-Lazane, na casa de saúde de Picpus. É condenado à pena de morte, mas é liberado. Marquês de Sade faleceu em Saint Maurice, França, no dia 2 de dezembro de 1814.

Na obra em questão conta a história de quatro ricos homens, um Duque, o irmão dele que é um bispo, um magistrado e um banqueiro, todos pensadores Libertinos europeus que se abstraíam dos princípios morais do seu período, como aqueles relacionados à moral sexual, sendo caracterizado também como hedonista ao extremo. Eles repre4sentam os pilares da sociedade de seu tempo e é por isso que Sade os colocam juntos, justamente para criticar essa sociedade e foi um dos maiores críticos da sua época. Eles resolvem experimentar a máxima gratificação sexual em orgias preparadas para tal e utilizando as mais diversas experiências. Para isso, eles se trancaram por quatro meses (120 dias) num castelo inacessível na Floresta Negra com um harém de quarenta e seis vítimas, a maioria adolescente de ambos os sexos, e recrutaram quatro cafetinas para contar a história de suas vidas e suas aventuras. A narrativa das mulheres se torna inspiração para abusos sexuais e torturas das mais dolorosas e sangrentas possíveis de nossa imaginação pensar ou criar em suas vítimas. Eles seguem um conjunto de regras muito rigorosas. O que pode ou o que não pode ser feito com aquelas pessoas estão dentro das regras. Existe uma racionalidade que justifica a irracionalidade, praticas de selvageria total submetidas à regras da civilização, quer dizer, não são coisas que se pode associar normalmente e torna o enredo muito perturbador, essa ambigüidade da obra. Se verem, tudo é múltiplo de 4, são 4 libertinos, 4 prostitutas que percorreram 16 (4 x 4) províncias da França, cada uma traz 28 vítimas (7 x 4) em 4 meses (120 dias). A escala deve ser segunda aumentando em intensidade até terminar em assassinato. Qual a intenção? Buscar o máximo de prazer nisso, mas o que vemos é apenas volúpia, pois é muito sofrimento relatado.

Eles elencaram 600 paixões divididos em 4, 150 para cada cafetina contar, sendo que as finais, as ligadas ao assassinato da mulher realmente extrapola tudo que se pode ter escrito até aquele momento. É uma violência descrita de forma pura e dura de ser ler, mesmo os sádicos teriam muita dificuldade de aceitar o que está descrito por lá. Eu iria descrever o enredo, mas resolvi falar apenas alguma coisa fundamentais para poupar os leitores e quem deseja que vá a obra, temos de graça em PDF disponível em português, basta pesquisar que vai achar. A obra escandalosa, 120 Dias de Sodoma foi um marco na literatura mundial e deixou uma profunda mácula devido a tanta insanidade desenfreada escrita. Ainda hoje provoca asco, espanto e perplexidade ao ser lido. O fato de se tratar de atrocidades de crianças e adolescentes em um castelo para servirem aos seus prazeres sexuais de quatro homens ricos e poderosos causa horror e ódio. Por fim, quatro cafetinas são responsáveis por relatar os atos insanos que se sucederam no castelo. Realmente uma obra indigesta para qualquer indivíduo sério.

A situação é mais terrível, pois eles estão confinados no fim do mundo, longe de todos e sem que nenhuma chance de escapar.
Temos cenas descrita de forma crua e fria de sodomia, assassinato, estupro, sacrilégio com virgens encantadoras, que são violentadas e massacradas; a isso se junta uma lista interminável de horrores de pura violência. Citações como a de “Bum-Cleaver, que era incapaz de executa um ataque por trás sem rasgar a bunda da vítima, pois a cabeça de seu membro parecia o coração de um boi, tinha vinte e um centímetros de circunferência...”

A crítica a religião com frases como: “Se Deus existisse ele não deixaria a gente fazer isso com você.”
Em cenas mais sanguinolentas “Ele obriga o rapaz a assistir sua amante ser mutilada, e comer sua carne, principalmente as nádegas, seios, e coração... o libertino inflige várias feridas profundas sobre ele e o deixa para sangrar até a morte; se ele se abstém de comer, então ele morre de fome.”
Cenas de pura escatofilia junto com total brutalidade e selvageria: “Ele pula em cima da garota, a morde por toda parte, o clitóris e mamilos da garota são removidos com seus dentes. Ele ruge e grita como um animal feroz, e descarrega enquanto grita. A garota caga, ele come seu cocô no chão.”[…] Ele fode delicadamente, e enquanto sodomiza, abre o crânio, remove o cérebro, e enche a cavidade com chumbo derretido.”

Filme
Salò ou Os 120 Dias de Sodoma (Salò o Le 120 Giornate di Sodoma) – Itália, 1975 Direção: Pier Paolo Pasolini Roteiro: Pier Paolo Pasolini, Marquês de Sade, Pupi Avati, Sergio Citti.
Sinópse: Um grupo de fascistas resolve aprisionar dezesseis jovens, dentre meninos e meninas, para uma série de rituais sádicos durante 120 dias ininterruptos. Pasolini reconstrói a obra literária de Sade em outra perspectiva histórica e isso gerou interpretações reducionistas sobre suas intenções. O filme é dividido em três partes. Em 1944, na cidade de Saló ocupada por nazistas, no norte da Itália, quatro fascistas sequestram 16 jovens saudáveis e os aprisionam em um palácio perto de Marzabotto. Além deles, há quatro mulheres de meia-idade, sendo que três delas relatam as histórias de Dante e de Sade, e a quarta acompanha ao piano. Na mansão vigiada por guardas, os fascistas vão cometer todo tipo de experiências com os jovens, que passam a ser usados como uma fonte de prazer sexual, masoquismo e morte.

Quando o filme foi lançado na Alemanha Ocidental em fevereiro de 1976, ele foi confiscado pelo estado para que ele fosse banido do país. A corte do distrito de Stuttgart classificou-o como pornográfico e pregador da violência. Entretanto, tal ação não foi efetiva, pois poucos dias depois o filme foi permitido para toda a Alemanha Ocidental. Ennio Morricone, que compôs a trilha sonora, disse que ele se sentiu muito desconfortável ao ver o filme.
Adaptação cinematográfica para Os 120 Dias de Sodoma, do Marquês de Sade um dos filmes mais terrivelmente abjetos de toda a sua história. A crueldade infindável que marca o filme supera as aspirações mais perversas do marquês. Em Salò ou Os 120 Dias de Sodoma, desce aos infernos mais pestilentos da alma humana num palco assombrosamente mundano com ataque à Igreja Católica e aos regimes fascistas e crítica à sociedade capitalista. Um desfile grotesco de obscenidades e bizarrices.

O mal é exposto sem máscaras nem subterfúgios: “Você irá morrer muitas vezes aqui”, diz um deles. Os rituais de tortura e depravação ocorrem com jovens assustados e indefesos, sem nenhuma possibilidade de reação. Pasolini limita-se a registrar a crueldade humana in natura, sem embelezá-la. A ojeriza e o sofrimento são seu foco.
Nem a música que serve de tema para os intermináveis açoites.
(CRÍTICA DE MARCELO SOBRINHO)
Site Consultado:
www.adorocinema.com
Pier Paolo Pasolini é considerado um gênio do cinema italiano e tem filmes cults como Mamma Roma, Decameron, Pocilga, O Evangelho Segundo São Matheus e tantos outros. Mais este filme Saló é um dos mais bizarros da história do cinema mundial.