20 000 Léguas Submarinas
- Fernando Carlos
- 21 de fev. de 2020
- 11 min de leitura

Jules Verne
Muitos o consideram um homem profético, inovador como escritor e é muito famoso como criador de histórias de aventuras fantásticas que os leitores da sua época não viam a hora dele anunciar sua próxima história. Eu pessoalmente já falei em outra resenha que Jules Verne (1828-1905) é um dos meus autores prediletos, desde criança e suas obras estão cheia de criatividade e teorias reais ou de sua imaginação, mas tão próximas da veracidade que se tornaram reais somente no presente e que instigam nossa curiosidade que faz dele o pai da ficção científica, sendo que esse estilo já existe desde a década de 20 e falamos na postagem de Metrópolis (uma distopia). Já havia se consagrado com outras histórias ligadas a ficção científica, um dos maiores escritores do mundo desse estilo, como Viagem ao Centro da Terra, Viagem a Lua e o livre que vamos falar, gerou especulações sobre ele ter o dom da profecia. Assim como Leonardo Da Vinci escreveu e desenhos máquinas que foram inventadas somente num futuro longínquo, Verne, ao escreve 20 000 léguas submarinas fez previsões para o futuro ou simplesmente antecipou o que viria a ser as navegações ultramarinas a começar pelo submarino criado pela sua história desconectados com a superfície terrestre, isto é, naquela época já existia algo que pudesse mergulhar em águas profundas, mas obviamente ligadas por cabos a superfície terrestre, aqui não, já temos o protótipo de uma máquina autômato que navega livremente com energia da própria máquina e com tripulação hermeticamente fechada como os submarinos atuais, na obra chamado de Náuticos do capitão Nemo.
Outra criação dele foi o escafandro, uma roupa feita de metal com bomba de oxigênio acoplado a roupa e visor para que se pudesse sair do “Nautilus” e nadar no fundo do mar desconectado do submarino, inclusive na história eles andam na superfície do fundo do mar para caçar no sentido de caça não predatória, isto é, para se alimentar ou para colher amostrar para pesquisas. Também temos o que chamamos no dias de hoje de “Aqüicultura” que seria a produção de peixes, moluscos, plantas aquáticas para consumo do homem, uma fazendinha submarina, mais uma previsão do que viria a ser no futuro do grande escritor e finalmente a exploração de navio naufragados. Ainda hoje existem navios naufragados que estão tão numa profundidade tão grande que nossa tecnologia ainda não conseguiu criar uma máquina ou robô que consiga chegar tão perto desses navios. Se essas “profecias” não estimularam a curiosidade de ler essa obra, então ainda existe a criatividade fervilhante desse autor ao criar criaturas espetaculares, ora monstruosas oura fabulosa, além da riqueza de detalhes do fundo do mar e numa narrativa clara, coerente e cativante.

O livro 20.000 Léguas Submarinas foi publicado em 1870 na França, conta a história do professor Aronnax, um naturalista francês, seu criado chamado Conselho e o arpoador Ned Land. Eles foram convidados, quase que convocados para participar de uma busca e apreensão ou caça de um mosntro marítimo nunca antes visno nos mares pela fragata norte-americana, pois eles não sabiam com que espécie estavam lidando e precisavam de alguém com profundo conhecimento marítimo. No decorrer da história Verne nos revela que na verdade se trata de um submarino navegado a esmo por um capitão amalucado, mas culto demais chamado Capitão Nemo.
Imbuído com conhecimento científico da época, o autor Jules Verne coloca tais conhecimentos nas falas de seus personagens que dá veracidade ao que escreve como, por exemplo, na voz do Capital falando sobre o Mar: “O mar é tudo! Cobre sete décimos do globo terrestre. Seu bafejo é puro e saudável. É o imenso deserto onde o homem nunca está só, pois sente a vida efervescer ao seu lado. […] Foi pelo mar que o globo começou, e quem sabe não terminará! Aqui reina a suprema tranquilidade“. Os três fazem parte dessa uma expedição que busca um terrível monstro marinho, uma ameaça à todas as embarcações. Depois de serem lançados ao mar e ver o navio destruído, os três encontram algo que está longe de ser uma criatura mágica ou mitológica: o monstro, na verdade, é o Nautilus, um submarino movido a eletricidade, sem qualquer contato com os continentes, que tem como engenheiro e mestre o misterioso Capitão Nemo. A fragata é atacada pelo Nautilus e eles ficam a derina no mar aberto até que foram resgatados pelo capitão Nemo. Ele captura os três e permite que eles conheçam o futuro, isto dentro de sua nau, mas como prisioneiros. Eles podem andar livremente, ter tudo que lhes for necessário, mas sob a seguinte condição de não poder entrar em contato com a vida terrestre. Ao lado da tripulação e do Capitão, os três passam a serem prisioneiros em uma jornada subaquática, desbravando oceanos enquanto aprendem sobre si mesmos, sobre o enigmático capitão e passam a rever seus conceitos de amizade e convivência.

A impressão que Nemo causou ao capitão era que ele carregava um ódio sobre a humanidade e estava totalmente isolado e diz: “Saberia eu um dia a nação a que pertencia aquele homem estranho, que se vangloriava de não pertencer a nação nenhuma? Quem teria provocado o ódio que ele votara à humanidade, ódio que talvez buscasse vinganças terríveis?”.
A bordo de seu navio ele rompeu os laços com toda a humanidade e com o continente. Ele conheceu todos os mares da Terra colecionando tesouros e protegendo a natureza e os oprimidos contra a sanha destruidora da Humanidade. Nos dias de hoje ele seria tachado de eco-chato ou um existencialista pessimista niilista dentro da filosofia do filósofo alemão Frederich Nietzsche, mas naquela época não existia a preocupação em preservação da natureza e, ao contrário do niilismo, a população do meado do século XIX estava em franco desenvolvimento e otimismo, mas também havia o expansionismo mundial, onde nações poderosas oprimiam os menos favorecidos, mas o que valia mesmo era a máxima de quem pode mais tem direitos e a França, juntamente com a Inglaterra dominavam a economia mundial.
Nessa obra em específico, Verne está mais maduro e muito mais atualizado com as grandes descobertas da ciência e o desenvolvimentismo tecnológico e portanto vai retratar com mais veracidade e convicção o pensamento científico do século XIX, um relato histórico com riqueza de detalhes. Em relação especificamente a política ele vai fazer uma crítica ao que denominamos era dos Impérios dando real contribuição para historiadores. Embora nas Américas os países tornaram independentes da Inglaterra, França, Portugal (Brasil declarou sua independência em 1822), Espanha e Holanda, mas na África, Ásia e algumas ilhas do pacífico existiam muitas colônias e4m que eram devastados pelos dominantes em busca de riquezas naturais. O capitão Nemo, não quer apenas distância dos países colonizadores e a França era um dos mais poderosos, mas queria também vingança. Inclusive, além de busca por pedras preciosas,. Eles buscavam combustíveis fosseis, como carvão e petróleo e esse submarino do capitão Nemo era sustentável e ecológico, já que a energia era elétrica advinda de reações químicas utilizando a própria água do mar. Embora tudo nesse livro Verne buscava uma explicação científica plausível, ele não tinha como justificar como e dava tal reação, hoje poderíamos entender como captação de energia solar ou algo que se assemelha a etanol, mesmo assim sabemos que é necessário gasolina, mas os resultados dos carros elétricos faz com que possamos entender as aspirações de Verne no que diz respeito a um submarino não poluente e que não utiliza combustível fóssil, lembrando que, embora seja ficção, ele buscava as melhores teorias para não parecer loucura pura.
Outra sacada do autor é a dessalinização da água do mar em água potável, não era necessário utilizar os lençóis aqüíferos terrestres, mas sim do próprio Mar e ainda uma espécie de ventilação tipo ar-condicionado que deixava o ambiente em temperatura agradável e a energia elétrica que deixava tudo bem iluminado dentro da nau e fora dela podendo a tripulação ver todas as maravilhas dentro das profundezas do oceano. Tudo isso já existe e para nós não é nada absurdo, mas naquela época pensar nessas possibilidades deixava os leitores desejantes de conhecer o Nemo e sua estrovenga. O problema é que Jules Verne não explica as reais motivações de Nemo e nem o que levou ele a tomar essas atitudes. Vejam que não existe a figura feminina nessa história, os protagonistas são todos homens do mar.

Embora seja uma obra prima e reconhecida mundialmente, existem muitas críticas sobre vários aspectos, creio que se ele foi o primeiro autor de ficção científica como entendemos nos dias de hoje, seria obvio entender que falhas na escrita seria inevitáveis e os autores que se seguiram seria imperdoáveis, mas não podemos deixar de destacar críticas por essa desculpa.
Creio que a mais obvia está no fato da falta das mulheres no livro todo e da paixão. Devemos lembrar que ele era amigo de duas lendas da literatura Victor Hugo e Alexandre Dumas, romancistas consagrados e no sentido romântico mesmo. Sempre as paixões amorosas davam a leveza e dinâmica narrativa. Aqui não tem nada mais que uma raiva e frustração de Nemo, nome esse que em latim significa “nada”, quer dizer, ele é a representação do nada e a explicação que o autor deixou para nós no final da história, ao atacar violentamente um navio, pelo fato dele ser de um país que provocou a morte de sua esposa, Ok... mas e daí? O que a nau e os tripulantes tinham haver coma morte de sua mulher amada? Não seria uma generalização extrema? Até xenofobia? E porque a morte da sua esposa geraria tanta raiva inconsequente e irracional por parte de Nemo? Também a sua decisão de agredir os colonizadores e se isolar nas profundezas do Oceano? Porque ele tomou o professor como seu prisioneiro? Para satisfazer seu ego e ter alguém com quem conversar? Nada disso fica claro e nem mostra o objetivo moral da obra.

Se o Capitão Nemo é um homem frustrado com a perda da amada, um revoltado que acumulava as riquezas e dava para nações vítimas das grandes potências, não estaria compatível ou em congruência como Jules Verne o descreve, um homem inteligente, curioso e envolvido com a pesquisa, profissionalmente engenheiro e, portanto não tem nada haver em cortar relações com a humanidade e viver exclusivamente do mar e do que ele oferece, já que vive no fundo dos oceanos para investigar espécies, observar o mundo à distância a troco de que? Destruir os dominadores? Eles seriam os responsáveis para a destruição e poluição dos Oceanos. Devemos lembrar grande da obra Moby Dick escrita 81 anos depois que e vai dialogar de certa forma com 20 000 léguas submarina e fala da pesca indiscriminada de baleias para retirar o óleo para combustíveis fósseis publicado em 1951 por Herman Melville, um estadunidense. Moby Dick, um cachalote, foi perseguido, ferido várias vezes por baleeiros e conseguiu se defender e destruí-los, nas aventuras narradas pelo marinheiro Ishmael junto com o Capitão Ahab e o primeiro imediato Starbuck a bordo do baleeiro. O livro foi revolucionário para a época, com descrições intrincadas e imaginativas do personagem-narrador, suas reflexões pessoais e grandes trechos de não-ficção, sobre variados assuntos, como métodos de caça com arpões e detalhes sobre as embarcações, funcionamentos e armazenamento de produtos extraídos das baleias.

O romance foi inspirado em fatos reais no naufrágio do navio Essex, que perseguiu teimosamente essa baleia e ao tentar destruí-la, afundou. Outra fonte de inspiração foi o cachalote albino Mocha Dick, supostamente morta na década de 1830 ao largo da ilha chilena de Mocha, que se defendia dos navios que a perturbavam com premeditada ferocidade.
O Capitão Nemo seria essa baleia defensora dos Oceanos e foi mais uma previsão de Jules Verne? Mostrar as pessoas que ele tem poder e pode destruir a humanidade? Não existe lógica alguma nisso, além do fato de estarmos vivendo nessa época os impactos da Revolução Industrial e as ressonâncias do puritanismo e ao mesmo tempo otimismo as novas tecnologias e desenvolvimento industrial e a necessidade de conquistar outros territórios, até países para a expansão dos Impérios franceses e Ingleses na Era Vitoriana, pois havia os curiosos e os que tinham curiosidade e otimismo às novas tecnologias e Julio Verne era um dos expoentes da divulgação desse momento.
Segundo Leonardo Campos: “É preciso refletir também que na época era inconcebível que qualquer nação estivesse distante do sentimento de cobiça no que tange aos ideais de uma potência econômica sem absorção das novas tecnologias. O desenvolvimento de cunho industrial, conforme traz sabiamente Hobsbawn em A Era dos Impérios, era embasado pelo laboratório de pesquisa, parte da expansão da economia capitalista que acompanhavam de perto a tecnologia como uma fonte de manutenção de status de um sistema global”.
A solução final encontrada é simplista demais para um grande gênio da literatura chamado Jules Verne, pois os três capturados conseguem fugir num barco sem grandes dificuldades aos olhos do gênio do mau capitão Nemo que nada pode fazer. Surge um redemoinho para ajudar em que quase naufragam a embarcação do Nemo e ele desaparece sem nenhuma explicação razoável. Obviamente existe uma recusa de permanecer nesse paraíso claustrofóbico, mas qual seria o destino do Nemo? Ele proibia a caça das Baleias, já que citamos Moby Dick, profetizou dizendo que num futuro elas estariam extintas devido a caça predatória. Será que Verne considerava o Nemo algo que seria extinto? Tudo ficou aberto a novas interpretações, mas o contexto não faz sentido para tal reflexão.
Finalmente outra crítica são as passagens de extrema descrição das coisas, animais, fauna e flora marítima nos mínimos detalhes totalmente desnecessária para a dinâmica do enredo e fluência da história, Parágrafos enormes com números e cálculos que nem um leitor que gosta de matemática iria se entusiasmar naquilo descrito com tanto rigor, claro que para dar veracidade das coisas, mas sabemos que metade daquilo vem da imaginação, a famosa cena em que um polvo gigante abraça a Nau com seus tentáculos, coisa impossível de existir, ainda mais o modo com que Nemo se liberta do polvo, dando choques elétricos sem nenhuma explicação de como ele consegue tal façanha, sem nenhuma descrição plausível para aquilo acontecer.

Cinema
Temos várias adaptações para essa obra em 1907 (produzido pelo francês George Mélies), 1916 (por Stuart Paton), 1954 por Walt Disney, 1972 (por Rankin-Bass), 1979 (por Gary Nelson, intitulada Abismo Negro), dentre outras a de 1954 é a mais fidedigna. Re-filmado mais duas vezes, em 1996 e 1997, sendo que em ambas recebeu como título 20000 Léguas Submarinas.
20 000 léguas submarinas (1954) com Kirk Douglas e James Mason. Direção: Richard Fleischer.
Sinopse: Em 1868 relatos alarmantes sobre um monstro marinho, que destruía navios facilmente, geram um temor nas companhias de navegação. Em virtude disto vários navios não levantam âncora, pois não há tripulação. Em São Francisco um professor francês, especialista em vida marinha, precisa ir à Shangai e enfrenta o mesmo problema, pois a tripulação do seu navio desertou. Mas ele e seu assistente são convidados pelo governo americano para uma viagem que pretende confirmar ou negar estes boatos. Após três meses e meio de buscas, o capitão decide abandonar sua empreitada. No entanto, na mesma noite, o navio é atacado pelo monstro e o professor, seu assistente e um arpoador são lançados ao mar. Enquanto o navio danificado fica à deriva os três encontram o "monstro", que na verdade é um submarino (algo inconcebível para a época). Após alguma hesitação, o capitão da embarcação os acolhe. É claro que se trata de um gênio, mas o professor quer saber quais os motivos que fizeram aquele homem se isolar do mundo, se podia contribuir com seu enorme conhecimento. Gradativamente revelações estarrecedoras vão surgindo.
Critica

Sem dúvida é um excelente filme, um dos melhores do gênero e uma adaptação honesta e mais fidedigna da obra original de Jules Verne dentre os outros filmes adaptados. Os efeitos visuais perfeitos para a época, não devendo nada para os dias atuais, impressionante e sem novidade por vir dos filmes de Walt Disney, que em termos de qualidade técnica são os mais avançados de seu tempo. Grandes atuações, principalmente do Kirk Douglas. O roteiro ajuda bastante, pois já falamos que o livro tem descrições demais e coisas que podem perder a dinâmica, por querer ser muito didático e verossímil, pois ele não foca numa raiz central e deixa os personagens sem ação. O capitão Nemo poderia ter sido mais bem explorado, mas já falamos que o mistério e ser enigmático foi a intenção de Jules Verne e toda sua ciência.

As motivações que o levam o Capitão Nemo ser um recluso ficou menos claro, o que deixa mais mistério no ar e até uma fraqueza do enredo. O fato é que o filme acaba sendo sensacional maravilhoso e com um visual atraente e faz com que a gente embarque de cabeça nessa aventura infanto-juvenil com momentos de tensão ou suspense. Um romance onde só tem homens. Nota 10.
Site consultados
Cantosclassicos.com
Planocritico.com
Adorocinema.com
Wikipedia.org
Vinte Mil Léguas Submarinas é um belissimo filme e clássico estrelado pelo astro norte-americano kirk Douglas e também eu li o livro clássico do escritor francês Júlio Verne e tenho em minha coleção. Uma das mais famosas obras literárias de Verne e o livro foi obra de referência para as expedições de Jacques Cousteau.