6º Ciclo "Luzia-Homem”
- Fernando Carlos
- 1 de jan. de 2019
- 4 min de leitura

de Domingos Olympio:
“A criação de um mito mulher”
Ciclo de Conferências “Cadeira 41”
Vídeo completo postado no youtube. Data da postagem: 09/08/2018.
Data da visualização: 13:27h do dia 01/01/2019.
Apresentação de Ana Maria Machado

Palestrante Professora Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti. Antropóloga e bisneta por parte de pai de Domingos Olympio Braga Cavalcanti.
Inicialmente ela conta uma síntese da história publicada em 1903 da cabocla Luzia que chega a Sobral - CE como retirante em direção ao mar da grande seca de 1877/79 e sua mãe enferma.

Trabalhando potente e forte na construção de uma penitenciária e é chamada de pelas mulheres da região de macho-fêmea. Teresinha, uma moça branca prostituída vai em sua defesa e faz amizade e é assediada por Capriuna, segurança da obra e desejada pelo respeitoso Alexandre, que lhe propõe casamento. Como existe um resumo detalhado nesse blog, não entrarei em detalhes, somente ressaltando que temos a descoberta de uma sexualidade que permanecerá irrealizada. Sua sexualidade é vivida de modo contraditório da Luzia santa ou heroína guerreira assexuada, mas sim temos uma nova concepção de um novo mito mulher, quando Alexandre, liberto da prisão orquestrada por Capriuna e oferece a possibilidade de matrimônio a Luzia, ela será assassinada numa tentativa de estupro por Capriuna que, na luta tomba brutalmente esfaqueada, tendo na mão crispada um dos olhos de Capriuna, que urrando de dor tomba num precipício próximo e ela morre virgem.

A obra é ficcional, embora houvesse nessa época a construção da penitenciária em Sobral, que aqui é simbólico. A fala de Luzia é um misto de linguagem erudita com oralidade popular da época e região. As vezes populares relatam aspectos que deram a fama de Macho-fêmea para Luzia, como o fato dela carregar sobre uma tábua 50 tijolos, Paul em visita a obra falou: ”passou por mim uma mulher extraordinária carregando uma parede”. Viram elas levar sobre a cabeça uma jarra d´água que valia 3 potes, de outra feita, ela removera e assentara de uma só vez uma soleira de granito da porta principal da prisão.

Dessa forma teremos a dupla valência de Luzia emerge sobre a forma de preconceito em meio as vozes que a admiram e a invejam, uma senhora dona que nem parece mulher fêmea, a Luzia-Homem, Luzia masculina, porque cumpria ao mesmo tempo com sucesso tarefas masculinas, mas também feminina, pois seus músculos de aço escondiam, sob formas esbeltas e graciosas das morenas moças do sertão e convivia com recatos, cuidados femininos e conduta reservada. Pela beleza e força emerge o tema central que é o desejo sexual e das possíveis condutas que elaboram, poderes que Luzia tem e que não está protegida pela classe social inserida.

Luzia a Teresinha contrastam-se e complementam-se durante o romance, são a saúde e a juventude feminina em oposição a velhice e doença da mãe. Luiza tem sua virgindade e seu corpo usado como macho e Teresinha, a delgada moça branca, se prostituiu para sobreviver. No decorrer da trama, Luzia sensualiza-se e Teresinha se purifica. A vulnerabilidade torná-se patente, pois ela recebia cartas e serenatas provocativas de Capriuna e tinha a fraqueza de lê-las e esconder isso de Alexandre, que vinha lhe pedir em matrimônio e dizia a si mesma: “Esse malvado me há de desgraçar. A desgraça é o vírus pecaminoso que rondava as moças da sua idade”. No romance é evidente uma sensualização entre Luzia e Teresinha, cenas como a admiração de Teresinha ao vê-la banhar-se nua nu rio, quando admirava ela dormindo na rede ao seu lado , quase seminua, mas em nenhum momento se demonstra algo lesbiano, embora emerge a sexualidade de Luzia em estado de latência justamente nessa fase, pois a fisicalidade do desejo não traz necessariamente consigo a definição da orientação sexual.

A sexualidade de Luzia parece se romper em estado puro para ela e para os outros, embora ela refutava o amor por vários motivos colocados por ela mesma, que um marido não daria toda proteção que um homem deveria dar, que eles podem deixar suas esposas por outras moças, coisas muito freqüente e estava convicta que jamais aceitaria ser submissa a alguém, quanto mais a um marido. Terezinha tinha uma história de amor em que o seu macho lhe batia, isso era inadmissível para Luzia e a própria Teresinha falava que até os maridos casados na igreja batiam em suas esposas... Embora ela julga monstruosa essa escravidão da mulher se entregando ao homem, essa passividade ao senhor de seu corpo por paixão, essa coisa animal de coisa mudar de dono, ela viu força e beleza em Teresinha.

Na conclusão, Luzia são as várias possibilidades de ser mulher experimentada pela personagem, máscula-virado, a mulher submissa ao julgo sexual masculino dentro e fora do casamento, aquela que teme a atração que exerce sobre outras pessoas sexualmente, é assediada e vítima de estupro, incerta em sua orientação sexual e surpreendida com a proposta de matrimônio sem acreditar no amor, excitante entre o afeto amoroso e a pura atração, enfim, é a sexualidade em processo e descoberta.
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