top of page
Blog: Blog2
Buscar

A bagaceira de José Américo

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 9 de fev. de 2019
  • 4 min de leitura

A Bagaceira, de José Américo de Almeida, autor alagoano, que viu a queda dos senhores de engenho e os estragos que a seca no nordeste provocou, principalmente em 1915, a maior já registrada até então, trata da vida no engenho e principalmente dos problemas dos retirantes. Basicamente a história se restringe a um triangulo amoroso entre uma retirante chamada Soledade com o Senhor de engenho Dagoberto que acolheu sua família da seca por alguns dias e seu filho Lúcio.

O livro marca o início de uma nova fase no modernismo, embora na narrativa, o autor, que escreve na terceira pessoa, usa ainda uma linguagem parnasiana, cheia de palavras difíceis, muita poética contrastando com as falas dos personagens da história. José Américo inclusive escreve que existe essa discrepância do narrador e das falas, fazendo até uma crítica do modo de falar do povo nordestino, mas sem dúvida é uma obra que muda o estilo e é totalmente revolucionária para o seu tempo. Com forte apelo pelas diversidades ocorridas nesse período no nordeste sendo que o autor consegue, mesmo com uma erudição, a sentir toda angustia e sofrimento desse povo. Ele já havia escritos alguns ensaios do mesmo tema especificamente de Alagoas, mas aqui ele preferiu fazer uma ficção.


Certo dia, bate-lhe à porta um grupo de retirantes, composto por Valentim, sua filha Soledade e Pirunga, filho de criação de Valentim. Dagoberto, por razões só reveladas posteriormente, acolhe a família em sua propriedade. O personagem principal é sem dúvida Soledade, a retirante, que chega a fazenda do Senhor de engenho Dagoberto, um homem bastante cruel com seus empregados e pede ajuda e abrigo para sua família junto com outros retirantes. Vive com seu único filho Lucio, mas em constante conflito com o pai, pois Lucio tem idéias inovadoras em prol ao próximo e ele vai fazer o oposto de seu pai, que para Dagoberto os empregados e retirantes que lá ficaram, só servem para obedecer ou ser punidos, mas Lucio vai mostrar todo seu lado romântico para cima de Soledade. O triangulo amoroso está feito e claro que o destaque e atração principal é Soledade.


Ela é o símbolo dos conflitos entre os personagens, retirante sertaneja é como a flor no ambiente hostil entre pai e filho. Assim sendo, Lúcio, ser puro e romântico, vê-se totalmente envolvido pela menina retirante. Porém, por mais que haja um flerte entre ambos durante toda a leitura, o estudante de Direito mantém-se imaculado perante Soledade. Após um período longe do engenho, Lúcio retorna decidido a casar-se com ela.


Ao externar suas intenções para seu pai, Dagoberto lhe revela um segredo que surpreenderá Lúcio e os leitores: seu pai havia abusado sexualmente de Soledade, tomando-a como sua rapariga, em sua pior definição. Doravante, o leitor acompanhará uma tragédia anunciada, tornando a leitura de “A Bagaceira” uma experiência marcante, comovente e deveras realista. Depara-se com uma estrutura socialmente injusta, violenta e preconceituosa.


O autor vai usar de muito simbolismo, resquício do naturalismo (“...Uma ressurreição de cemitérios antigos — esqueletos redivivos —, com o aspecto e o fedor das covas podres...“), ficando claro os jogos de interesses, denúncia da questão social no seu estado e no Nordeste, em especial, o aspecto da seca e da necessidade da população. É feita também uma análise da vida dos retirantes que surgem nas bagaceiras dos engenhos. o autor relata a íntima relação que há entre a fome e a exploração sexual das meninas sertanejas:


…a exploração bestial da carne magra. O gozo contrastante das mulheres desfeitas, corrompidas pelos fétidos sintomas da fome. O estômago exigia o sacrifício de todo o organismo, até nas suas partes mais melindrosas. Tudo era vendido pela hora da morte; só a virgindade se mercadejava a preço baixo. Meninas impúberes com os corpinhos conspurcados. Deitavam-se a elas nos fundos das bodegas por um rabo de bacalhau ou um brote duro”.


O impacto da obra foi enorme, mais de 30 edições, traduzido para o inglês, esperanto, francês e espanhol. Foi alvo de incontáveis artigos e resenhas literárias. José Américo foi quem fundou uma literatura genuinamente brasileira.

Ao se referir ao livro, o Professor Joel Pontes, da Universidade Fernando Pessoa, em crítica publicada no Pequeno Dicionário da Literatura Brasileira, disse:


A Bagaceira foi importante base para as obras de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz. Para ele, personagens como Dagoberto, Pirunga e Soledade retornam mais bem caracterizados nas obras posteriores dos escritores citados, deixando claro, contudo, que o romance tecnicamente não inova a prosa nordestina, pois ainda é um romance de tese. Isso pode ser percebido no capítulo “O Julgamento”, que é típico dos romances do século XIX e também presente em Os Sertões, de Euclides da Cunha. O ponto de destaque do romance é o aspecto sociológico e a poetização de cenas e sentimentos, sendo que estes dois detalhes por si sós já colocam o romance como uma obra importante da literatura brasileira em todos os tempos.

Acerca dos retirantes, o autor realiza uma triste e fatídica descrição que faz jus, em parte, à comoção do público de sua época


O livro teve várias adaptações para filmes, teatro e curta metragem. No cinema teve uma adaptação com o título Soledade roteirizado pelo cineasta Linduarte Noronha, pois Soledade é a personificação da inocência e da sensualidade feminina. Ela dispõe de seus dotes sexuais exercendo, assim, forte influência sobre todos os personagens. Lido pelo autor que gostou tanto que escreveu com próprio punho que esse roteiro tinha total fidelidade a sua obra.

Filme

Soledade – A Bagaceira (1976). Direção de Paulo Tiago. Sinopse: O grande engenho de Mazargão é modernizado por Lúcio, filho do coronel Dagoberto. Desde então, Lúcio passa a sofrer represálias do pai. O rapaz vai estudar na capital e, com a morte do governador João Pessoa e volta para o engenho com sua amada Soledade, uma das causadoras das brigas com seu pai, para implantar a revolução nos canaviais.


Personagens:

· Valentim – pai de Soledade

· Manuel Broca – brejeiro

· Soledade – amada, mulher fatal de Lúcio

· Dagoberto – velho, viúvo, pai de Lúcio

· Lúcio – moço apaixonado por Soledade

· Mãe de Lúcio e mulher de Dagoberto

· Pirunga – carrapato com ciúmes

· Carlota – mulher fatal que marcara nefandamente o Nordeste

· Milonga – mãe preta

 
 
 

Comments


  • generic-social-link
  • twitter
  • linkedin

©2018 by a obra por trás do filme. Proudly created with Wix.com

bottom of page