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A Hora e Vez de Augusto Matraga

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 14 de mar. de 2019
  • 11 min de leitura

João Guimarães Rosa

Essa obra marca o início da terceira fase do Modernismo no Brasil. Na verdade é um conto de outra obra chamada Sagarana, uma coletânea de 8 contos iniciada em 1938 e revisada e publicada em 1946.

A terceira fase do modernimso pretende criar uma literatura engajada, mas focada mais no subjetivo e universalidade das histórias, isto é, não ficar focada no regionalismo e problemas locais do Brasil, já que o mundo estava bastante diversificado depois do fim da segunda guerra mundial o fortalecimento do Socialismo na Russia, seguido da revolução Cubana que implantou o comunismo na ilha, na China a revolução Socialista de Mao Tse Tung em contrapartida o fortalecimento do capitalismo nos EUA e Europa como um todo criava uma situação de tensão entre duas formas de economia, uma bipolaridade entre comunismo e capitalismo. No Brasil tivemos o fim da ditadura de Getúlio Vargas, que já durava 15 anos. Com todas essas novidades, a escrita literária precisava ser mais bem engajada, muito mais elaborada e com uma temática mais universal com aprofundamento do psicológico dos personagens para que o mundo inteiro se interessasse e com uma linguagem extremamente precisa.


Embora aqui dentro a segunda fase do modernismo mudou a concepção da escrita e solidificou as bases que o movimento modernista preconizou, era voltada especificamente para leitores do Brasil e de interesse sociológico regional, problemática que eram pertinentes e de crítica importância social, mas que não se compara ao que veio a seguir e temos dois autores chamados João que foram denominados de engenheiro da linguagem: João Cabral de Melo Neto e João Guimarães Rosa. Ambos com obras monumentais, mas com um cuidado de ourives para escolher as palavras para seus textos, uma linguagem inovadora, rica e com referências universais num texto com inter-textualidade além de meta-linguagem. As inovações que seu antecessor Graciliano Ramos trouxe com sua obra máxima “Vidas Secas” foram reaproveitadas e reformuladas, assim como a narração em terceira pessoa de forma indireta, em que se confundem personagem e narrador, onde o narrador entra na mente do personagem e narra com seu modo de falar.


Guimarães Rosa é tido como um dos mais intelectual de todos, irritavelmente inteligente, ele entrou na faculdade de medicina aos 16 anos e seguiu carreira médica no interior de Minas Gerais e com isso anotava o modo de falar das pessoas, estudava os costumes de cada povoado e depois usou toda essa esperiência de vida nas suas obras. Ele dominava várias línguas muito jovem ainda e com fluência, como o Holandês, Alemão, Arabe, Esperanto, enfim, ele era um poliglota. Ele não fica muito tempo como médico, segue carreira diplomática iniciando como cônsul e escritor. Com tanta cultura ele tinha alguns problemas que o incomodava, como por exemplo, superstição e a questão do que é o bem e o mal e isso vai entrar nas obras.


Guimarães Rosa com todo essa bagagem lingüística, ainda vai criar outra língua, a própria língua, uma neolígua utilizando de neologismo. Na sua literatura ele vai produzir expressões e palavras que vai produzir um estranhamento. Como sua temática será o sertanejo e os jagunços, ele não quer reproduzir o modoe de falar pobre deles, ele vai recriar um outro regionalismo. Outra coisa que ele vai ser radicalmente diferente dos outros autores que escreveu sobra o sertão é que ele vai brincar com essa definição da palavra Sertão, que no descobrimento o Brasil significava apenas lugar distante do mar e depois passou a ser região desconhecida. Portanto, ele vai criar o sertão da mente dele, como ele deseja, não como os naturalistas, mas um sertão grandioso e fantástico.


Sagarana é o nome da obra e já é um neologismo. Saga é de origem germânica e nos remete a lendas e Rana é de origem indígena que significa próximo, dessa forma sagarana significa lendas próximas, histórias nossas que são quase lendas. A hora e vez de Augusto Matraga tem uma peculiaridade no nome, pois deveria ser “A Hora e a vez” ele retira o “a” para enfatizar o modo de falar do sertanejo. Todos os nomes dos personagens principais se referem a uma inter-textualidade a começar com o protagonista Augusto Matraga, Augusto referência ao Imperador de Roma Augustos, Matragajá está no texto sendo explicado, “Matraga não é uma praga. Matraga não é nada, Matraga é o Esteves .” O nome dele é Augusto Esteves, conhecido como Nhô Augusto. Ele é um tipo mandão e nunca precisou trabalhar.


O conto também não é um conto. Da mesma forma que aconteceu com o conto de Machado de Assis “O Alienista” esse conto de Rosa é muito extenso e complexo para ser a penas um conto e é muito curto, com poucos personagens para ser uma novela com vários capítulos, dessa forma fica sem uma classificação. Teríamos como colocar em capítulo, mas daria uns 5 ou 6 capítulos. Didaticamente vamos resumir e estudar essa obra como se fosse capítulos.

No primeiro capítulo, temos Nhô Augusto mostrado como o próprio diabo em pessoa. Ele tem uns jagunços que trabalham com ele, mas é a personificação do mal, não paga o salários dos seus jagunços, mata sem peso na consciência, roubava se dó, pegava as mulheres dos outros, mete medo em todos a sua volta, é um bom atirador e bom de briga e tratam mal sua esposa e filhinha que sofrem com um homem assim caladas e é beberrão, violento e mulherengo.


Nesse primeiro capítulo ele se envolve num leilão de mulheres com os capiaos na cidade enquanto sua esposa e filha ficam trabalhando na casa. Tem duas mulheres sendo leiloadas para sexo e ele arremata uma delas, ambas são feias, mas ele pega a melhor e depois de arrematar e irem para o quarto, ele não faz nada, com ela, simplesmente a pega para se mostrar a seus capangas.


No segundo capítulo o foco é na esposa de Nhô Augusto, que se chama Dona Dionora, que o narrador fala,” amou por 2 anos, ficou em dúvida por 3 anos e depois apareceu outro que gostava dela.” Ela vai ter um caso com um senhor chamado Ovídio. Esse nome remete ao poeta latino que escreveu “Metamorfoses” que cita o Carpe Dia, viva a vida e não é a toa que ele colocou esse nome. Colocar uma mulher sertaneja no início do século XX tendo um amante é algo muito revolucionário e avançado para a época, além de muito audacioso. Além disso ela tem uma filhinha chamada mimita. A família deveria sair em viagem com Nhô Augusto, só que ele está na cidade, longe de casa e saindo de um bar e entrando em outro e manda um de seus capangas chamado Quim (Abreviatura de Joaquim) ir até a casa dele, que fica distante da cidade e avisar para ela ir sozinha para o interior com a filha porque ele está na farra.


O fato é que sua esposa decidiu largá-lo e viver com seu amante Ovídio, que já havia proposto isso: “Querida, vamos “simbora”, porque esse seu marido não te merece. Eu vou e vou ser feliz até quando deus queira” Ela decide levar a filha e ficar com o Ovídio e quando Quim chega com a mensagem do “patrão” ela manda ele retornar com essa decisão. A grande dificuldade de Quim é retornar e falar para Nhô que sua esposa fugiu com o amante e filha.

Ele tem muito medo, pois seu patrão já matou um homem, então quando ele volta para dar a noticia, pede para que Nhô se levante da rede, já que ele estava meio bêbado e meio dormindo, e disse que tinha algo muito serio e falou que sua esposa havia o abandonado. Ele se irrita, fala que vai matar a esposa e o amante, mas que antes tinha um ajuste de conta com um inimigo Major Consilva.


Cápitulo 3 – Nessa parte teremos a queda de Augusto Matraga. Como ele não havia pago seus capangas ou empregados, como queiram entender, eles foram trabalhar para um homem tão poderosos quanto Matraga e havia sobrado apenas o Quim. Ele o chamou para ir até a casa do Major para resgatar seus capangas e depois de matar o Major Consilva, iria matar sua esposa e amante, mas o Major havia preparado uma emboscada, pois já sabia que haveria esse confronto. Quim morreu de medo de ir e Matraga mandou que ele ficasse lá mesmo, pois se ele não era homem suficiente, não queria a ajuda de um covarde e que resolveria sozinho.

Chegando lá, caiu na emboscada e o amarraram para que o Major decidisse o que fazer. Diante do Major Consilva, Augusto Matraga se manteve firme e agressivo e desafiando-o para uma briga entre homens, mas o major não aceitou, dizendo que pela reputação do Augusto, ele deveria sofrer muito antes de morrer e mandou os capangas quebrarem todos os ossos de Matraga e depois arrastar ate o penhasco e matar com um tiro de misericórdia e isso fui realizado,

arrastaram ate o penhasco, mas Augusto era tão valente que conseguiu se livrar das cordas, mesmo com dois ossos quebrados de uma das pernas e um osso da outra, andou até o desfiladeiro e se jogou. Os capangas não viram para onde foi seu ex-chefe, procuraram e não encontraram e foram embora, desistindo de matá-lo.

Capitulo 4- Aqui se trata do título da obra, chegou a vez de Augusto Matraga, mas ainda não chegou a hora. Quando ele cai do desfiladeiro, fica desacordado e um casal de negro Quitéria e Serapião o encontra e preparam para enterrá-lo, mas percebem que ainda ele respira e decidem cuidar dele. O nome Quitéria não é acaso, significa aquela que “quita a dor” vai cuidar, colocando madeira como tala para os ossos, ervas e curativos para a dor e feridas, mas mesmo assim ele sofre demasiadamente de dor por muito e muito tempo, meses de dor e entra em depressão e teremos uma crise de consci~encia. Ele passa a refletir o que foi, quem ele é e porque deve sofrer de fato. Ele aceita tudo que está passando como uma punição justa.


O Serapião, que vem do nome do Deus Egípsio Serapios, deus da medicina e que cuidou dele em todos os sentidos, percebe que ele já está bem do corpo, mas mal da alma, está muito depressivo e decide chamar um padre para conversar com ele. O Padre fala justamente isso, que ele nunca trabalhou na vida e está vivo até agora, mas que ele deveria entender que já chegou a hora dele, que a partir de hoje ele deveria trabalhar de graça até ele sentir que pagou todos os pecados da vida, de ter sido um péssimo pai, marido e patrão, além de ser muito ma


Capitulo 5- Temos nessa parte a transformação radical de Nhô Augusto, ele vai tentar espantar o Diabo: “Matraga fazendo a celebre oração: "Jesus, de coração manso e sereno, faça com que eu tenha um coração como o seu: eu vou pro céu nem que seja na porretada". Vai trabalhar de graça numa vila, deixando para traz o casal de negros, que agora ele os considera como pais.


Seguindo o conselho do Padre, nunca mais vai beber ou sair com mulheres pela luxuria e ser um homem bom ao extremo através de boas ações. Todos os pensamentos ruins ele vai tentar mudar para pensamentos bons. Essa luta entre o bem e o mal, entre o Diabo e Deus vai ser uma constante nas obras de Guimarães Rosa. Nessa parte mostra esse duelo consigo mesmo, ele sente necessidade de beber uma pinga, ou sair com uma mulher, mas ele logo pensa que não deve, pois ele tem uma esposa e filha, ele tratou mal seus empregados e continua a trabalhar na roça por comida.


Certo dia chega ao vilarejo o Joaozinho Bem Bem, um pistoleiro, um jagunço com seus capangas e é considerado o lampião do sertão de Minas e todos fogem ou fecham suas porta e apenas Nhô Augusto o recebe e dá abrigo e comida. Bem bem é uma onomatopéia que sugere o barulho de tiro de revolver além de que de bem ele não tem nada. Augusto vê os jagubnços e o conflito interno retoma e ele pega na espingarda de um dos capangas de Bem, Bem e sente desejo de seguir com o bando, mas recusa o convite de Bem Bem, pois como ele mecheu na arma, Bem Bem sabia que ele conhecia e que o passado dele deveria ser de um homem macho.


Finalmente, depois de todos descansarem o bando parte e Augusto decide partir também para outro caminho e outra cidade.

Capitulo 6 – Quando ele decide ir embora, ganha um burrico, mas Augusto recusa inicialmente, mas o padre fala que Jesus Cristo usava um burrico e ele aceita pelo que o padre insistiu. Aqui temos uma intertextualidade com a passagem da Bíblia onde Jesus entra em Jerusalém na vépera da Pascoa montado num burrico.

Joaozinho Bem Bem está numa comunidade para fazer vingança, já que um rapaz da cidade matou um capanga de Bem Bem e ele foi até a casa desse rapaz, mas ele havia fugido, então cercou a casa com a família dentro, mandou o pai do rapaz escolher um filho homem para o sacrifício e que suas filhas seriam todas usadas pelo bando.


O pai implorou para que o matasse e não um de seus filhos, mas a lei do sertão não era assim, olho por olho, dente por dente, se matou um jovem do bando, seria pela morte de outro jovem, além do que, se ele não fizesse tal justiça, seria mal visto e perderia o respeito diante de todos. Nessa hora chega no burrico o Nhô Augosto, que é recebido com gosto por Bem Bem, tratando-o até como alguém da família do Bem Bem, chamando-o de mano Velho e Augusto de meu parente, troca de afinidades. Bem Bem explicou que Juruminho havia morrido e se ele não desejava ficar no lugar e entregou a arma do falecido para Augusto, mas ele sabendo o que Bem Bem deseja, já foi falando que ninguém iria matar nenhum ou abusar de nenhuma daquela casa, somente sobre o seu cadáver e desafiou Bem Bem para um duelo.

Um dos capangas tentou atirar, mas Matraga deu um tiro certeiro e feriu outro. Bem Bem resolveu descer do cavalo e aceitar o duelo que foi entre dois grandes homens, embora ambos se feriram e cada um teve tempo de falar suas últimas palavras. Bem Bem disse que morria feliz porque morreu na mão de um homem valente e corajoso, morro com honra. Augusto Matraga espera seu rival no duelo morrer e manda enterrar o corpo com honras e pergunta ao bando se alguém ouviu falar de Nhô Augusto e um deles disse que sim, que ele era seu primo.


Augusto diz: ”pois é, então o senhor é o João Lomba, testemunhe agora a morte minha, de Augusto Matraga e ponha a benção na minha filha... seja lá onde for que ela esteja e fale para Dionora que está tudo em ordem” e morre. O Velho pai do rapaz que matou Jurumim diz, foi esse homem, que veio montado num burrico, que seu sua vida pela vida de minha família, ficando evidente a conversão total de Augusto Matraga e que essa era a hora e a vez dele. Até nas palavras que o autor cria, imitando o modo de falar do sertanejo, vemos a religiosidade, como por exemplo “nomopadrofilhospritossantamein, avança cambada de filho da mãe que chegou minha vez”


Filme

A Hora e Vez de Augusto Matraga é um filme de drama brasileiro de 1965 baseado no conto de mesmo nome da obra Sagarana, de João Guimarães Rosa. Foi dirigido por Roberto Santos, que também o escreveu com Gianfrancesco Guarnieri. Foi vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 1966. Um dos melhores filmes nacionais da década de 60 com excelente direção com cenas inesquecíveis protagonizadas por Leonardo Villar e Jofre Soares. Roberto Santos fez com maestria a adaptação da obra de João Guimarães Rosa para o cinema extremamente fiel.. A exposição do ser no mundo, sem o determinismo científico, que marcaram as obras antecessoras na segunda fase do modernismo, o naturalismo, valorizando as formas e as maneiras de construção de saber do homem sertanejo do norte das Minas Gerais.


O homem se fazendo e se transformando no seu mundo, através das interações com os outros seres de seu mundo, compreendendo e interpretando a si mesmo e a seu mundo, pelas metáforas fruto das suas interações. Roteiro: Roberto Santos, Gianfrancesco Guarnieri. o filme reúne música original de Geraldo Vandré (1935), fotografia de Hélio Silva (1959), montagem de Silvio Reinoldi, diálogos de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) e interpretação de Leonardo Villar (1923) (Augusto Matraga), Flávio Migliaccio (1934) (Quim Recadeiro),Jofre Soares (1918-1996) (Joãozinho Bem-Bem) e Maurício do Valle (padre moço).


Publicado em 1946 no volume Sagarana, o conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga é considerado um “entre os dez ou doze mais perfeitos da língua” pelo crítico literário Antonio Candido (1918). O filme, realizado quase 20 anos depois pelo cineasta paulistano, introduz algumas mudanças no enredo, tais como a cena inicial, em que os jagunços contratados por nhô Augusto amedrontam as criancinhas vestidas de anjo e os moradores do lugar, o que não há no conto; a cena final, em que a luta se passa dentro de uma igreja e no conto, em uma casa; a cena em que nhô

Augusto doma o jumento, momento fundamental do filme é uma adição de Roberto Santos; e a cena do enterro, também.

Sinopse Augusto Matraga (Leonardo Villar) é um fazendeiro violento, que é traído pela esposa, emboscado por seus inimigos, acaba massacrado e é dado como morto. É salvo por um casal de negros e, desde então, volta-se para a religiosidade. Mas quando conhece Joãozinho Bem Bem (Jofre Soares), um jagunço famoso, este percebe nele o homem violento. Daí em diante Matraga vive o conflito entre o desejo e a vingança e sua penitência pelos erros cometidos.

 
 
 

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