top of page
Blog: Blog2
Buscar

A mulher de trinta anos

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 14 de mai. de 2019
  • 5 min de leitura

(La Femme de trente nas)

Honoré de Balzac

Falar de Balzac é algo que poucos não ousam, pois ele é um monumento da literatura universal e somente sua biografia daria páginas e mais páginas, inclusive já existe uma mini-série francesa estrelada por Gerald Departie e não é nada menos que o pai do estilo Realista, mas eu sempre digo que, se há um pai, existe uma mãe e sem sombra de dúvida é o genial escritor francês Auguste Flaubert com sua obra Madame Bovary. O estilo realista tem a audácia de abordar e criticar a sociedade do momento histórico do autor e ser o mais verossímil possível. Balzac, sem nenhuma modéstia, fez um projeto de escrever A Divina Comédia onde ele escreveu mais de 80 obras para descrer o universo da sociedade da França focando nos costumes, filosofia e psicologia de todas as pessoas e de todas as classes sociais. Pode? Pois bem, ele faleceu em 1850 com 51 anos de idade e mais de 80 obras geniais.


Quando se fala e Balzac no Brasil, logo vem a idéia da mulher balzaquiana, que seria a mulher madura para o amor ou relacionamento amoroso devido uma das obras dessa empreitada em que ele vai abordar justamente a mulher de 30 anos de idade, que na época já era considerada uma mulher bem maduram o que hoje se fala da mulher na idade da loba, isto é,mulher com fase sexual ativa com mais de 45 anos de idade, embora essa obra seja uma das menores, mas é a que ficou mais famosa e foi escrita em 1842. O autor foi escrevendo fragmentos dispersos, que reuniu de forma a se constituir uma obra única, mas ficou de difícil compreensão, pois ele ia acrescentando os capítulos aos poucos. Segundo Paulo Rónai, "esse conjunto de seis episódios disparatados, mal reunidos entre si e rematados por uma conclusão melodramática, é mais apropriado a enfastiar o leitor do que a fazê-lo procurar outras obras do romancista."


Existem muitas especulações sobre os bastidores do por que ele decidiu fazer uma obra tão polêmica para sua época. Uma delas é o fato de seus pais terem 30 anos de diferente de idade, mas seu pai quem era o mais velho e sua mãe era muito jovem e distante do autor, inclusive ele foi criado numa escola interna. Outra possibilidade é que sua amante era bem mais velha que ele, mas lendo sua vida e a obra, nada tem haver.

A história inicia com nossa heroína Julia, uma jovem que se apaixona pelo seu primo, coronel do exército de Napoleão, Marques Vítor d'Aiglemont e o desposa por amor contra gosto de seu pai, quer dizer, não é um casamento arranjado, mas ambos se amavam e seria algo ideal para um final feliz. Inicialmente ela se encanta, mas no decorrer de sua vida conjugal, ela percebe que não era o que imaginava e como era uma mulher culta e inteligente, inclusive ela é uma professora e consegue ter o discernimento que o casamento torna a mulher uma submissa ao homem, inclusive ela verbaliza isso, que o casamento é uma instituição que oficializa a situação da mulher submissa ao seu marido que possui liberdade total. Realmente o marido dela tem que trabalhar, por ser o provedor da residência e essa ausência a deixa incomodada e no decorrer da trama ela entre em profunda depressão e infelicidade. O tempo todo ela se mostra languida. Com o nascimento de sua filha Helena existe uma pequena melhora do humor, mas logo volta e sua tristeza e isolamento social, que inclusive necessita de atendimento médico e aparece um jovem médico da Inglaterra chamado Artur, que também tem a personalidade melancólica, mas que promete tratar Julia e ambos acabam se identificando e um tem atração pelo outro, embora ela fica com o pé atrás.


O jovem médico volta para sua terra e num outro momento Júlia fica sabendo que Artur está morando em Paris, mas está à beira da morte e quer se despedir de seu verdadeiro amor. Ambos se vêem, mas logo Vítor morre.

Deprimida, Júlia retira-se para um castelo no interior da França, com a filha Helena, mas agora sem o marido. O curandeiro da aldeia tenta animá-la, sem sucesso.

Agora chegamos no ponto em que a obra se foca, que é quando ela chega aos trinta anos, que para o autor: é "bela idade de trinta anos, ápice poético da vida das mulheres". Na opinião do autor a mulher tem sua beleza na sua juventude, mas maturidade e experiência aos 30 anos. O que não ajuda muito entender sua opinião real. Na trama ela conhece Carlos de Vandenesse, que se apaixona por ela e, por isso, cancela uma viagem programada. "Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis para um rapaz; e nada mais natural, mais fortemente urdido e mais bem preestabelecido que os laços profundos, de que a sociedade nos oferece tantos exemplos, entre uma mulher como a marquesa e um rapaz como Vandenesse." Essa relação não passa de um "casto e modesto beijo" na face de Júlia.

Num passeio com Carlos Vandenesse, Júlia, sua filha Helena e seu filho, tamb´pem chamaod Carlos, que não sabemos se é legítimo ou não, ela simplesmente, depois que o amante se despede, num momento de desatenção da mãe, Helena empurra o pequeno Carlos para dentro de um rio e ele morre afogado.


A história dá um salto e temos o casal Júlia e Vítor mais velhos, morando na casa de campo em Versalhes com os filhos (Helena e dois novos irmãos, Abel e Moína). Os criados se ausentaram para as núpcias de um deles. Batem à porta e quando o marquês vai atender depara com um fugitivo da justiça ensanguentado, a quem dá abrigo. Depois sua filha Helena foge com ele, abandonando a família. Esse fugitivo vai reaparecer 6 anos depois como um pirata, num momento em que seu pai perdeu toda sua fortuna num ataque por piratas, mas por um deles ser seu genro, a fortuna e vida de Vítor são poupadas, mas ele morre esgotado de fadiga depois. Helena também quase morre num naufrágio agonizante.

A obra termina com Júlia, já com cinquenta anos, sofre com a indiferença da filha Moína (agora casada e condessa), e acaba morrendo.

Análise da obra.


Certamente a obra trata das mazelas do matrimônio, do tério, da posição da mulher numa sociedade machista e da depressão. Certamente não se tinha conhecimento dessa doença como nos dias de hoje, mas Freud a descreveu num de seus trabalhos científicos chamado Luto e melancolia, mostrando que se sabia que tais situações vividas e sentidas pela nossa Julia existia de fato, não foi criana pelo autor. Mostra de forma clara a situação de mulheres casadas o fardo e o peso de suas obrigações sociais e legais, histórico e psicológico.


Outro ponto a se analisar é o fato dela ser adultera ou leviana, mas fica claro seus sentimentos conflitantes de desejo e culpa, dando a impressão de que Balzac denuncia a pouca capacidade de seu marido, o Barão Victor d’Aiglemont, perceber as necessidades de sua esposa ou discernir com muita clareza entre seu cavalo e a mulher. Temos um enredo não totalmente linear, mas que não tira a beleza e lirismo de forte inspiração sobre o amadurecimento da mulher, quando jovem temos a beleza mais intensa e na maturidade a experiência. Vemos aqui o amadurecimento em construção, ora tecendo uma reveladora “análise psicológica”, ora se inclinando para o “folhetim desvairado.” “O século XIX encarregou-se de amainar os excessos românticos dos personagens, a Revolução Francesa deixara suas marcas e já assume contornos algo mais pragmáticos, ou... modernos, em A mulher de trinta anos”. (Angel Bojadsen)


 
 
 

Comments


  • generic-social-link
  • twitter
  • linkedin

©2018 by a obra por trás do filme. Proudly created with Wix.com

bottom of page