A Viuvinha
- Fernando Carlos
- 12 de abr. de 2019
- 6 min de leitura

Obra de José de Alencar publicado em 1860, um livre bem pequeno, o próprio autor coloca no texto que não deseja fazer um romance, mas contar uma história, como se fosse um conto: “Mas eu não escrevo um romance, conto-lhe uma história. A verdade dispensa a verosimilhança”.
Realmente é bem pequeno, com poucos personagens e se trata do ideal do romantismo, já que é um romance urbano encenado no Rio de Janeiro tendo como uma das características centrais a idealização da mulher, Carolina é pura, casta, bela, jovem (conhece Jorge aos 15 anos de idade) e mantém-se fiel ao amor mesmo após a suposta morte do marido e o próprio nome faz referência a uma carola, quer dizer uma mulher recatada e religiosa, uma carola de igreja, inclusive o primeiro encontro do protagonista Jorge com Carolina é dentro de uma igreja, fato esse incomum para o personagem que na verdade era um boêmio e nem sabia rezar, já Carolina é um exemplo de uma carola, sempre devota ao amor e ao marido, firme nos seus ideais.

Jorge é um personagem claramente romântico, egocêntrico. Ele vive um homem que herdou uma firma pela morte de seu pai, mas também dívidas, mas tora todo seu dinheiro, sem se preocupar em limpar o nome do pai. Vive na farra, noitada e mulheres, até conhecer Carolina, sua paixão, egocentrismo, é rico, honesto e na flor da idade. Tudo isso situado em uma sociedade que já se mostrava desigual. O foco da crítica de José de Alencar é justamente a moral, a honra de um homem e o dinheiro. O autor era monarquista e nessa época estávamos vivendo a revolução industrial na Inglaterra e os movimentos para a independência dos Estados Unidos da América que ocorreu em 1775, se se seguiu a grande guerra de secessão no ano seguinte a publicação dessa obra, de 1861 a 1865, o que beneficiou muito o Ceará, terra de José de Alencar, pois eles passaram a ser os maiores importadores de algodão para a Inglaterra para a revolução Industrial têxtil que já imperava desde 1850 por lá.

A obra inicia falando da vida fácil que levava Jorge, julgando-se financeiramente confortável, Jorge passa os três anos a seguir a morte do pai fazendo todas as loucuras que podia. Seu cotidiano era marcado por cortejar mulheres, gastar fortunas em festas, com comidas e bebidas, e estar em companhia de amigos também afortunados até conhecer sua grande paixão ao conhecer Carolina, uma menina pobre, mas com uma dignidade inabalável, além de ser absolutamente linda e culta sensível e doce, enfim, a perfeição em uma mulher para se casar. O amor fez com que o rapaz mudasse da água para o vinho durante esse breve período que sucedeu ao encontro na igreja. Jorge abandonou de vez a vida frugal e se mostrava cada mais vez mais humilde e modesto nos hábitos, vivendo apenas do seu trabalho e ignorando a farta herança que havia recebido.
O fato é que antes do casamento, depois de dois meses apenas de namoro, ele é chamado pelo Sr. Almeida, que é seu tutor, é revelado que, devido sua vida desregrada ele perdeu toda sua pouca fortuna e, além disso, ficaram as dívidas de seu pai para ele honrar pagando tudo e limpar o nome do velho falecido. É de se imaginar o espanto do rapaz, que se casaria em breve com Carolina e desejava deixar a vida de excessos para trás, embora esperasse que a herança lhe conferisse algum conforto conjugal.

Jorge cogita desmarcar o evento para não desgraçar a vida da futura noiva. Contudo, percebe que deixá-la pouco antes de subir ao altar seria péssimo para a reputação da jovem. Inicialmente pena em matá-la, mas depois ele decide por suicidar-se, mas sem uma explicação lógica, ele deseja se casar primeiro e na noite de núpcias, ele dá ópio para sua noiva que dorme antes de se consumar o casamento e Jorge para dar um tiro na cabeça e antes escreve uma carta explicando o fato para Carolina. Seu tutor Almeida tem um plano melhor, visando obter lucros com alguns papeis que comprou do falecido, colocar um corpo de alguém que se suicidou naquela noite no lugar dele, de forma que ninguém pudesse identificar o real cadáver, depara-se com um cadáver com o rosto esfacelado pelas balas e era o que precisavam e deixam uma carta de suicídio dizendo para enterrar o mais rápido possível para não dar o desgosto de seus familiares o verem assim.
Agora Carolina é conhecida como A Viuvinha, uma moça que se casou em um dia e no dia seguinte viu suicidado o próprio marido. Jorge, supostamente morto, na verdade permanece vivo e adquire uma nova identidade.

Ele agora se chama Carlos e é um negociante estrangeiro, pois Jorge parte para os Estados Unidos da America com a ajuda de Almeida e trabalha para recuperar a firma e resgatar todas as titularidades de dívidas e limpar o nome do pai e de seu próprio nome, pois sua fama estava péssima no Rio de Janeiro e assim se faz, mas no decorrer da obra é descrito todos os sacrifícios e penúrias que Jorge passou por três longos anos dos EUA e depois nos últimos dois anos aqui no Brasil na tentativa de recuperar crédito e seu nome, mas como estava bem envelhecido e com barba, ninguém o reconheceu como Jorge e ele adotou o nome de Carlos e depois de tudo colocado em ordem ele passou a visitar a casa de sua esposa, que se mantivera vestida de preto todos esses cinco anos de viuvez e era muito falada pela capital, devido sua beleza e formosura e por não se render a outro pretendente depois da morte de seu marido. Após três anos nos EUA ele volta ao Brasil e passa mais dois anos limpando o nome do pai e se firmando como negociante. Carlos passa a seguir Carolina para saber se a antiga esposa, de fato, o amava e comprova que sim, a jovem nunca deixou de ser fiel a Jorge. Uma das provas é que, apesar da juventude, Carolina jamais deixou de vestir a cor preta.
Carlos

passa a enviar cartas anônimas para avaliar a reação da sua esposa, até que ela deixa de abrir tais cartas, que continha apenas uma flor. Ela passou achar que era uma mensagem do além, pois percebia a presença de Jorge e no início ela sempre pegava, mas depois deixou de lado. Numa noite ele consegue segurar a mão dela quando ela estava na janela e ela apenas vê um vulto. Num outro momento ele deixa uma carta na janela dizendo para encontrá-lo debaixo de uma árvore no fundo do quintal. Nesse encontro ele tem a voz mais gravem está bastante magro e desnutrido e com uma vasta barba e tenta cortejá-la, mas ela fica firme com sua convicção que ama apenas um homem e sempre o amará que é seu marido falecido. Carlos toma coragem e revela seu amor a Carolina, que permanece sendo fiel ao marido, embora se sinta um pouco dividida com a declaração do novo homem que a corteja. Por fim, Carlos assume que é

Jorge e transparece seus planos e últimos anos de vida. Carolina imediatamente o perdoa e o casal se une outra vez. Isso era a prova de que Jorge precisava para revelar que ele não havia morrido e ambos seguem felizes para sempre.
Análise da obra.
Narrado em terceira pessoa. Certamente essa obra faz uma crítica à sociedade capitalista em que o dinheiro é o centro de tudo. Se a pessoa tem o dinheiro, ele é o rei do Rio de Janeiro, mas no caso Jorge tem o dinheiro do pai e não de si, mas é o rei, pode casar-se com a mais bela e recatada mulher da capital e ainda pode ter tido quantas mulheres desejar. Almeida ajuda seu tutorado apenas para ganhar um lucro nos papeis adquiridos, embora fale da amizade que tinha com o pai, mas veja que esse personagem vive somente pelos negócios, ele não namora ou se casa ou se é mencionado isso.
“Para um homem habituado aos cômodos da vida, a essa existência da gente rica, que tem a chave de ouro que abre todas as portas, o talismã que vence todos os impossíveis, essa palavra pobre é a desgraça, é mais do que a desgraça, é uma fatalidade”.

Existe muito humor negro na obra. Um dos exemplos pode ser encontrado quando o narrador descreve a profissão de Carlos:
Há uma profissão, cujo nome é tão vago, tão genérico, que pode abranger tudo. Falo da profissão de negociante. Quando um moço não quer abraçar alguma profissão trabalhosa, diz-se negociante, isto é, ocupado em tratar dos seus negócios.
Finalmente essa obra tem esse lado de mistério, de amor platônico, um amor romântico que vai além do túmulo e que se concretiza justamente na fidelidade a idéia inicial de que ela ama apenas um homem, e se preservam, se mortifica em vida, por acreditar nesse amor pregado pelo Romantismo.

O livro faz referência a outro romance de José de Alencar (Cinco minutos)
Na última página de A viuvinha, lemos um parágrafo nada fortuito:
Carlota é amiga íntima de Carolina. Elas acham ambas um ponto de semelhança na sua vida; é a felicidade depois de cruéis e terríveis provanças. As nossas famílias se visitam com muita frequência; e posso dizer-lhe que somos uns para os outros a única sociedade.
Carlota, supostamente vizinha e amiga íntima de Carolina, é a protagonista do romance de intitulado Cinco Minutos.
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