Análise da obra Dom Casmurro.

Analise da obra

Dom Casmurro é um belíssimo tratado do ponto de vista da riqueza psicológica dos personagens publicado em 1900. Existe a intertextualidade com Shakespeare, especificamente a obra Otelo que trata da traição ou não de Desdêmona. Iago é o causador da dúvida em Otelo, ao dizer que ela o traiu. Verificamos que nessa obra de Machado de Assis o personagem assiste a peça teatral, fazendo com que reforce a dúvida se Capitulina o traiu com seu amigo Escobar. Devemos notar que ele se chama Bento Santiago, isto é, as últimas 4 letras é o nome do mentiroso da peça Otelo, o Iago. O prenome e o sobre sobrenome remete a santidade Bento Santo. Capitulina, remete ao capitólio, ao congresso dos EUA, onde existe as articulações políticas. Tudo nos leva a crer que tudo não passou de uma armação da mente perturbada do Bento em achar que foi traído.

Durante o decorrer da narrativa, em primeira pessoa, fica claro as evidências de que houve

de fato a traição, ela era mais viva e esperta que ele, manipulava todos em sua volta e as semelhanças físicas e comportamentais do filho com do seu amigo leva a crer que houve traição, mas por outro lado, temos que observar que quem nos conta a história é justamente quem duvida, isto é, ele é ao mesmo tempo a vítima, o acusador e o próprio juiz do adultério e por ele, não havia a menor dúvida sobre o ocorrido. Ele mesmo aponta que era extremamente ciumento.

O adultério era crime até 2005, que poderia pegar pena de 15 dias a 6 meses. Do ponto de vista do direito da família, com os testes de paternidade se resolveria na hora a questão. A genialidade de Machado de Assis é justamente o trabalho que ele imprime na personalidade e afetividade dos personagens, pois mesmo

sendo o narrador o homem vítima, mostra claramente que ele é, além de ciumento, um paranóico e que desde cedo, Capitu aos 15 anos já era uma mulher e dominava suas emoções, enquanto que Bentinho com a mesma idade era um boboca medroso e ainda articulava com adultos da forma mais dominante possível, e isso é mais notável, pois ela era de família pobre e ele de família abastada. Mesmo ele se fazendo de vítima, no caso da tentativa de matar seu próprio filho com o café envenenado, ele seria o criminoso, para se avaliar como Machado inverte os pólos. Escobar também tem uma personalidade forte, empreendedor, decidido e audaz. Fez família e fortuna e não tinha medos, mesmo sabendo que o mar estava de ressaca e poderia engoli-li, ele vai nadar, mas morre.

O personagem José Dias é egocêntrico e só pensa no que vai beneficiar a ele, mas Capitu

consegue dominá-lo. A questão de o pai desejar matar o filho no remete a teoria edípica de Freud e algumas referências ao Brasil e o império, devemos observar. O pai de Bento chama-se Pedro, referencia ao Pedro pai do imperador, pois Pedro I parte e abandona seu filho quando ele tinha 5 anos e na nossa história, o pai de bento, Pedro morre quando ele tem 5 anos. Pedro segundo tem como tutor um José, no caso José Bonifácio e na nossa história Bento tem como tutor também um José, que é Dias. Essas semelhanças não são coincidências, pois sabemos que o imperador Dom Pedro II era tão manipulado e inseguro como Bento.

Fica óbvio que Bento, o narrador da história era ciumento, paranóico e tinha

sérios problemas mentais para tomar atitudes tão extremadas com sua eterna amada Capitu e a rejeição do seu próprio filho, que mesmo que fosse fruto de uma traição, não tinha culpa alguma e praticamente foi abandonado pelo Bento. Jamais chegaremos a um consenso se Capito traiu ou não e essa era a finalidade de Machado de Assis, de deixar a dúvida no ar numa trama das mais complexas já vistas. Relembra a figura de mulheres adulteras da época, Madame Bovary e Primo Basílio, mas Capitu supera as duas juntas.