Blade Runner
- Fernando Carlos
- 22 de ago. de 2019
- 9 min de leitura

Andróides sonham com ovelhas elétricas? De Philip K. Dick.
Philip K. Dick é considerado um gênio da ficção científica e foi descoberto pelo mundo depois da adaptação de seu livro com esse nome enorme por Ridley Scoth, que também teve um trabalho enorme para buscar um nome mais comerciável, pois o protagonista da obra é um Caçador de recompensas, como o diretor desejava algo mais chamativo, comprou os direitos autorais do nome de outra obra Blade Runner que na tradução seria “Aquele que corre com lâminas” e assim fez seu filme, que aqui no Brasil ficou conhecido como “Blade Runner, o caçador de andróides” e ficou consagrado como uma das mais cultuadas ficções científicas até os dias de hoje, inclusive com continuação.

Esta obra mostra um mundo distópico onde o planeta Terra foi devastado por uma guerra atômica. Foi escrita no período da guerra fria e, portanto o mundo estava perplexo com os resultados de duas grandes guerras mundiais e se assombravam pela devastação do uso das duas grandes bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaque. Nesta distopia houve a terceira guerra mundial e o planeta Terra está sofrendo as conseqüências da radiação de uma super-bomba nuclear. Quase toda humanidade está morta e temos apenas os sobreviventes, grande parte desses sobreviventes tiveram que emigrar para os mundos-colônias, fugindo da poeira radioativa que extinguiu inúmeras espécies de animais e de plantas, como primeira opção o planeta Marte. Toda criatura viva se torna, então, um objeto de desejo para aqueles que permaneceram. Ter um animal de estimação era um privilégio de poucos e valia muito mais que os automóveis que voavam, ou uma residência, enfim, para ostentar naquele mundo era preciso ter um animal de estimação, pois era muito raro.

Existia uma tabela de preços de cada animal, desde a barata até a ovelha (que dá nome ao livro), mas algumas espécies, como a coruja, por exemplo, não existia. Para a maioria que não podia pagar por um espécime autêntico, empresas começam a desenvolver réplicas eletrônicas e incrivelmente realistas de pássaros, gatos, ovelhas. No filme se vê uma coruja no telhado de uma igreja e se questiona: É de verdade? Claro que não, elas não existem mais. Como o planeta Marte é praticamente um deserto, sem nenhuma planta ou seres vivos, era preciso colonizar e para isso, teríamos que ter mão de obra braçal, mas como antes da bomba os seres humanos eram tão evoluídos e consumistas, tiveram a grande idéia de fazer seres humanos artificiais como se criavam animais. O fato é que a indústria evoluiu e já estávamos numa situação em que quase nada se diferenciavam seres humanos dos humanóides, eles sentiam emoções, com aparência perfeita e até sangue artificial se colocavam. Na memória e seu passado eram colocadas “criadas” por computador. Praticamente são indistinguíveis dos serres humanos, era praticamente impossível distinguir um andróide de um ser humano.

Essa última geração de andróides desenvolveram raiva e revolta. Como eles eram criados para serem trabalhadores escravos como na época da antiguidade, alguns se revoltavam com seus donos e fugiam ou matavam para o planeta Terra e eram caçados pelo que restou da polícia. Por isso entra em ação os caçadores de andróide. Aqui entra o personagem principal Rick Deckard, um caçador de recompensas. Seu trabalho é eliminar andróides que vivem ilegalmente na Terra. Seu sonho de consumo era substituir sua ovelha de estimação elétrica por um animal de verdade. Os vizinhos fingiam que seus animais eram reais e escondiam de toda forma dos outros para ostentar. A grande chance aparece ao ser designado para perseguir seis andróides fugitivos de Marte. Ao contrário da maioria da população que sobreviveu à guerra atômica, não emigrou para as colônias interplanetárias após a devastação da Terra, permanecendo numa San Francisco decadente, coberta pela poeira radioativa que dizimou inúmeras espécies de animais e plantas.

Na tentativa de trazer algum alento e sentido à sua existência, Deckard busca melhorar seu padrão de vida até que finalmente consiga substituir sua ovelha de estimação elétrica por um animal verdadeiro; um sonho de consumo que vai além de sua condição financeira. Um novo trabalho parece ser o ponto de virada para Rick: perseguir seis androides fugitivos e aposentá-los. Mas suas convicções podem mudar quando percebe que a linha que separa o real do fabricado não é mais tão nítida como ele acreditava.

A questão filosófica que o autor coloca é o fato de matar sem dó e piedade. Temos assuntos ligados a religião na obra, mas o que o caçador pensa é que andróide não pode ser morto, já que ele não nasceu e sim foram fabricados. Eles não têm memória real, mas um programa de computador, não tem lembranças emotivas como desejar se apegar a um animal real como um cão. A questão filosófica é justamente questionar a realidade, o que nos torna humanos? Rène Descartes foi referencia básica, com sua máxima: “Penso, logo existo”. Os andróides pensam então eles existem? É quando Rick percebe que a linha que separa humanos e andróides não é tão nítida como acreditava.
O livro inteiro se trata basicamente sobre isso: Qual o critério que se usa para distingue um humano de outra coisa semelhante? A resposta seria a empatia, a capacidade de se colocar no lugar dos outros, se importarem com outros interesses que não sejam os seus próprios, mas o pior é que Deckard percebe que nem isso é suficiente, pois existem seres humanos que não tem tanta empatia assim. Ele tem que eliminar uma andróide que canta ópera.

Ele é amante de óperas e está impressionado com uma cantora de ópera andróide e se emociona com a qualidade que ela interpreta “A Flauta Mágica” de Mozart numa de suas apresentações e sabe que lá tem outro caçador de andróide que é totalmente frio, mata sem nenhum constrangimento. Ele questiona quem seria mais humano dos dois, mas tem que matar essa andróide e ai começa seus questionamentos.
Existe um texto para se determinar quem é humano e quem é andróide, pois como falamos, é muito imperceptível a diferença entre ambos, portanto os humanos têm uma memória afetiva com animais real e se faz um interrogatório nesse teste e duas perguntas estão relacionados a matança de animais. Como os humanóides não têm lembranças reais de animais, ao se perguntar o que ele sente ao ganhar uma carteira de couro legítimo ou ter um tapete de pelo de urso, a resposta será de estupefação, sendo que se fosse um ser humano reagiria com outro tipo de emoção, pois até nos dias de hoje não aceitamos nada que venha a ser artigo da caça de um animal em extinção. Mas existe uma andróide que quase conhece Deckard que ela é humana, a Rachel, embora ele no ultime momento ele descobre que ela é uma humanóide e não é humana, deixando claro para ele que há alguns andróides que realmente demonstram algum tipo de sensibilidade e empatia, que ele não acreditava ser possível.

Para confundir mais nossa cabeça, nesse mundo temos uma caixa de empatia párea entrar em sintonia com uma certa religião dessa época chamada mercealismo, mas temos também existe um sintetizador de ânimo. Através de um programa de computador nós escolhemos como queremos que nossa emoção seja bastando escolher nosso humor para aquele dia e esse programa dita como será nossa empatia. Deckard, no livro, é casado com uma mulher depressiva e num certo dia ela escolhe ficar triste e seu marido questiona, porque deseja ficar triste se pode ficar alegre? Mostrando que os sentimentos nos seres humanos passam ser artificial assim como nos andróides e nesse dia o Deckard escolhe ser produtivo e gostar do meu trabalho. Isso nos remete muito a obra “Admirável mundo novo” e a pílula SOMA que cria felicidade artificial nas pessoas.

Nessa distopia o autor imagina um novo tipo de religião chamada de mercialismo, em que existe um tipo de Buda chamado Mércia, um sujeito que mistura budismo com cristiani9smo e através da caixa de empatia, todos os humanos são conectados a essa religião. Também temos os problemas com os reais seres humanos que foram afetados pela radioatividade e não tem um cérebro totalmente completo, uma espécie de debilidade mental e são chamados de especiais e são considerados como uma classe de seres humanos inferiores.
Existem tantos assuntos colocados pela obra que daria várias postagens, pois a revolta dos escravos questiona a revolta dos explorados numa visão marxista, a questão da mídia é colocada como na obra Fahrenheit 451 em que todos ficam obcecados por um programa que todos assistem diariamente, a poluição e a possibilidade da terceira guerra mundial, a desertificação do mundo e finalmente a questão do existencialismo propriamente dito.

Na época em que Ridley Scoth começou a filmar, o autor criticou bastante o roteiro, disser que estavam destruindo sua obra e por isso trocaram o roteirista até que o autor aceitou e gostou muito, mas infelizmente ele faleceu meses antes do lançamento do filme. Ele enviou uma carta emocionante aos produtores de Blade Runner, na qual enaltece o filme e profetiza seu sucesso, a última entrevista concedida pelo autor, publicada na revista The Twilight Zone na ocasião do lançamento do filme, e um posfácio escrito pelo jornalista, escritor e tradutor desta edição, Ronaldo Bressane, que faz uma análise crítica da obra e traça paralelos entre filme e livro.

Em Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, Philip K. Dick cria uma atmosfera sombria e perturbadora para contar uma história impressionante, e, claro, abordar questões filosóficas profundas sobre a natureza da vida, da religião, da tecnologia e da própria condição humana.
Blade Runner, Caçador de Androides. (Blade Runner, 1982), foge totalmente da obra original, temos apenas um esqueleto do livro, mas tudo é modificado, ao invés de um mundo desértico com máscaras para respirar e ter que usar protetor nas genitálias para não dar problemas com a reprodução humana, tem um mundo caótico, super povoado e que chove o tempo todo. O Policial caçador de recompensa não se mostra casado, mas um solteirão bem apessoado, diferente do filme em que ele é um careca, casado e vive numa espelunca na intenção de trazer adjetivos suficientes para agradar todos os tipos de platéia.

A história é ambientada no início do século XXI, Los Angeles cheio de arranha-céus decadentes, corroídos por uma incessante chuva ácida que teima em cair. Deckard é interpretado por Harrison Ford com função de exterminar ("aposentar" é o termo técnico) quatro androides desertores, sendo que na obra são 6 e não são chamados de Replicantes, como na obra fugiram para a terra após uma rebelião em um sistema estelar. O detalhe é que essa geração de androides - a NEXUS 6 - é o mais próximo que os humanos chegaram da perfeição robótica com grande inteligência, agilidade e força física, os replicantes têm um objetivo a ser alcançado: A busca por mais tempo de vida, já que estão programados para viverem apenas quatro anos. Em 1992, dez anos após o lançamento de Blade Runner, o diretor Ridley Scott lançou uma versão pessoal para o filme, que contém cenas extras e tem um final bem diferente do exibido na versão original do filme.

Adaptada pelos roteiristas Hampton Fancher e David Peoples dirigido por Ridley Scott, o diretor de arte David Snyder e o diretor de fotografia Jordan Cronenweth, no que é o mais relevante trabalho de suas carreiras. Todo o visual futurista-retrô é inspirado nos filmes noir da década de 50 e em outro clássico da ficção científica, Metrópolis, de Fritz Lang. Igualmente marcante é a trilha sonora de Vangelis - uma das mais reconhecidas do cinema até hoje. Rutger Hauer é o líder dos andróides e está em seu melhor papel. É dele um dos melhores momentos do filme, quando profere a célebre frase "todos esses momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva".
Além de conquistar o célebre título de cult movie, Blade Runner é considerado até hoje um dos filmes mais influentes da década de 1980, tanto visualmente como pelo próprio roteiro sugestivo.

Sinopse: No início do século XXI, uma grande corporação desenvolve um robô que é mais forte e ágil que o ser humano e se equiparando em inteligência. São conhecidos como replicantes e utilizados como escravos na colonização e exploração de outros planetas. Mas, quando um grupo dos robôs mais evoluídos provoca um motim, em uma colônia fora da Terra, este incidente faz os replicantes serem considerados ilegais na Terra, sob pena de morte. A partir de então, policiais de um esquadrão de elite, conhecidos como Blade Runner, têm ordem de atirar para matar em replicantes encontrados na Terra, mas tal ato não é chamado de execução e sim de remoção. Até que, em novembro de 2019, em Los Angeles, quando cinco replicantes chegam à Terra, um ex-Blade Runner (Harrison Ford) é encarregado de caçá-los. O que poderia se tornar um filme de ação futurista , muda o contesto ao apresentar um Blade Runner com crise existencial, um homem que se nega a eliminar essas maquinas e que tem que faze-lo contra a própria vontade .

Blade Runner é um dos melhores filmes de ficção científica. Um filme que traz o dialoga em primeiro lugar, com excelentes atuações e um final in-aberto que te deixa pensando por horas. Virou um cult, com uma legião de fãs que viam e reviam o filme. O roteiro tomou muitas liberdades em relação ao conto original de Philip K. Dick, mas não o diminuiu, pelo contrário, manteve as linhas básicas e sua influência se faz sentir até hoje. Nada define melhor um filme como um clássico.
Prêmios: BAFTA 1983. Ganhou: Melhor Direção de Fotografia Melhor Figurino Melhor Direção de Arte/Design de Produção
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