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Esaú e Jacó

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 22 de mar. de 2019
  • 8 min de leitura

Machado de Assis

Essa obra é a penúltima escrita pelo autor em 1904, depois viria Memórial de Aires, personagem essa obra. Para a unanimidade dos críticos e fãs do autor, essa é a obra mais chata e mais dissonante das demais, por se tratar de uma obra história sem um enredo amoroso, nem conflitos românticos existe e na trama não acontece nada de especial, sendo que a todo momento se espera alguma coisa se mantém a mesma. Embora se entenda que Machado queira fazer uma crítica ao momento político em que viveu a transição da Monarquia/império para a república em que não houve nenhuma mudança significativa, ele poderia fazer com pelo menos uma trama amoroso que envolvesse o leitor. Existe um triângulo amorosos, mas sem nenhuma emoção porque ele é a representação do momento político específico da mudança de Império para república temos um personagem que representa a monarquia, no papel do irmão gêmeo

Pedro, o nome já diz tudo, pois tivemos o Dom Pedro I e seu filho Dom Pedro II como representantes máximo da monarquia. Esse personagem vai ser representando com alguém retrógrado, trouxa, bobão e extremamente conservador nas suas idéias ideologia e comportamento. Vai ficar no Rio de Janeiro para estudar a ciência mais antiga e conservadora que é a medicina. Seu irmão será o Paulo, mais arrojado, com idéias revolucionárias, esperto, vivaz e sagaz sempre avante do seu tempo, bem vestido e com bom gosto para se vestir e comer. Paulo vaia estudar e São Paulo, não poderia ter mais redundância que Paulo e São Paulo, pois era a cidade da modernidade, que representava o núcleo dos cafeicultores desejosos de proclamar a república, com a melhor faculdade da época, faculdade de Direito e que representava uma profissão moderna, arrojada, com sua base na oratória e mudanças, enfim, ambos vão se apaixonar por uma linda jovem e cativante mulher chamada Flora, filha de um político conservador, mas que vai virar a casaca para a apoiar a república. Flora representa o Brasil, seu final vai ser trágico, porque ela vai falecer no decorrer da história com a seguinte mensagem do autor, não deixe e que o Brasil morra devido a duas ideologias diferentes ou por interesses políticos, o que vai deixar o leitor sem ter muito com que se envolver ou emocionar, pois fazer uma obra política é uma coisa, mas fazer um romance sem dramaticidade e enredo amoroso é algo perigoso.


Mas se tratando de Machado de Assis, existe sim sua importância, a intertextualidade a começar pelo título do livro. A intertextualidade se refere a obra bíblica Esaú e Jacó, são dois irmãos gêmeos que também nunca se deram e somente pela intervenção divina é que deus fez com que a esposa de Isaque engravidasse, uma gravidez tardia assim como a de Natividade. Veja que o nome da mãe dos gêmeos faz referencia ao natal e a Cristo, embora seus filhos serão os apóstulo de Cristo São Pedro e São Paulo. A Irmã de Natividade é a Perpétua, o nome é pelo fato dela não casar e nem ter filho, Perpétua vai cuidar dos gêmeos como se fosse seu e a ironia está presente logo no início da história, pois Natividade é uma mulher da alta classe, seu marido se tornou barão e portanto muito rica e devota ao catolicismo, mas quando seus filhos tinha um ano de idade ela vai procurar uma cabocla Barbara, um tipo de cigana, com sua irmã Perpétua uma vidente ou adivinha, que mora no morro do Castelo para saber sobre o futuro dos filhos e ela fala que as crianças vão ter coisas grandes e coisas futuras, algo muito vago, mas diz que essas crianças brigavam entre si desde o ventre. Como uma mulher tão culta e dedicada ao catolicismo vai no morro atrás de misticismo? Pior é que a cigana não falou nada de concreto e Natividade ficou eufórica e de tanta felicidade pagou a consulta muito mais que a cabocla cobrou e ainda na saída, tinha um mendigo chamado Nóbrega a qual ela deu uma boa esmola.


Esse dinheiro faz com que esse mendigo fique bem de vida, não rico, mas o bastante para bancar um casamento. Ele reaparece no final como pretendente da mão de Flora. Aqui temos duas referencias do próprio Machado de Assism, o conto A Cartomante, onde um homem bem de vida e atré cético a misticismo vai buscar a cartomante num momento de angustia e a obra Memórias póstumas de Brás Cubas em que o amigo mendigo filósofo de Brás, o Quincas Borba fica rico depois de roubar sua grana.

A obra é narrada em primeira pessoa, mas o autor cria uma outra situação fazendo referência ao mesmo estilo narrativo de Cervantes com sua obra Dom Quixote. Lá o narrador é um editor que encontrou uma estória e a mesma coisa vai ser aqui. O “Editor” está vasculhando os livros do Conselheiro José da Costa Mendes Aires e encontra 7 diários e um escrito ultimo, que vai contar a história dos gêmeos. Aires é um homem de grande importância na sociedade carioca a quem todos procuram para pedir conselhos e que tem um afeto mais que especial por natividade, inclusive fica no ar se eles tiveram ou não um caso e se os gêmeos são filhos dele.


Santos é o marido de Natividade, de origem humilde e que acabou ficando rico, com posses, mas nunca ligado a família. Ao saber que sua esposa estava grávida, ele procura o Conselheiro Aires, esse homem culto para ser orientado, já que a mulher ficou grávida numa idade incomum para a época, após 10 anos de casada e é ai a referência ao nome do livro, Esaú e Jacó. Santos queria uma filha, já sua esposa um filho e nasceu dois filhos e sua irmã Perpétua uma viúva muito devota ao catolicismo, recomendou que desse o nome dos apóstolos de Jesus Pedro, o fundado da Igreja e Paulo, o divulgador da palavra de Cristo.

Desde que nasceram as competições entre os dois ficavam evidentes. Embora são gêmeos idênticos, eles competiam desde o ventre e mesmo como bebês eles entravam em conflito para ver quem sugava mais leite da mama das amas de leite. Na adolescência tem uma pessagem em que eles vão comprar uma fugura, e Pedro compra a figura do Rei da França Luiz XVI, que fora decapitado, enquanto Paulo compra do líder da revolução francesa Robespierre, mostrando que um está ligado ao passado tradicional e o outro ao futuro revolucionário. Eles crescem e seguem a profissão que lhes foram impostos pelos pais, um médico (Pedro) e o outro advogado (Paulo).

O Conselheiro Aires é o narrador da história. Ele cria uma grande afeição com os meninos porque tem certeza que são seus filhos e existe a reciprocidade, e vai ajudar nas questões de divergência, pois cada um vai seguir uma linha política oposta ao outro, o conselheiro Aires sempre vai defender a opinião de cada um, jamais vai criticar uma escolha ou denegrir o pensamento, ele vai conciliar e colocar sempre os pontos positivos, seja qual for a opinião política em debate, pois ele é mais velho e muito culto e quer passar uma imagem de confiança.


Flora é a mulher jovem e carismática, que vai polarizar os dois irmãos. Eles se apaixonam pela mesma mulher e ela não consegue definir de quem ela gosta mais e portanto vai haver um triângulo amoroso, mas nada explícito ou escandaloso, pelo contrário bem morno. A relação com cada um é como se fossem de amigos, ela está feliz e ama quando está com Paulo, mas pensa no Pedro e a mesma coisa quando está com Pedro. Nesse ponto o romance perde bastante, pois não acontece o tal triângulo e nem tem como o leitor torcer por um ou para outro no que diz respeito ao romance. Somente nessa relação que não existe conflitos entre eles, pois não dão importância se é um ou o outro deixando a cabaça da Flora perturbada, já que eles não lutam pela mulher amada. O próprio conselheiro Aires tem grande afeto pela moça e dizia que ela é uma menina inexplicável, pois não dava para dizer com quem ela desejava ficar realmente. Ela era filha de um político chamado Batista, que o imperador Dom Pedro II ao perceber que ele apoiava a revolução o transferiu para outra região e ela fica muito triste em perder seus contatos e amigos, até as paixões, no caso Pedro era um monarquista e mesmo assim não gostou, mas aceitou sua partida, mas depois a monarquia cai e ela volta para a região, deixando Paulo muito feliz, porque ela voltou e como foi proclamada a república Paulo fica muito feliz, pois ele defendia justamente a república e ela volta para junto de ambos. Nessa hora reaparece aquele mendigo que sua mãe deu esmola, o Nobrega e agora rico, pede a mão de Flora e fica bastante insistente, mas ela não aceita, recusa, ele ainda insiste e ela fica doente.


O fato é que ela morre e nem teve tempo de escolher entre um e outro frustrando todos os leitores, pois todo enredo caminhava para um desfecho desse triângulo amoroso, romance, paixão, conflitos e Machado de Assis tira esse personagem tão rico e tão cativante deixando ambos os irmãos somente ligados a política, perde-se muito de emoção na história. Embora existe um pacto entre os dois no velório, um dizendo ao outro que se ela os desuniu, que agora com sua morte eles se unam, mas não dura muito tempo,, pois um mês ambos se encontram no cemitério para levar flores e iniciam novamente a competição, pois Pedro ficou mais tempo diante do túmulo e Paulo achou que ele estava roubando ela dele e voltam as disputas entre os dois.

Ambos os gêmeos se dão muito bem nas suas profissões e não buscam outra paixão e ambos acabam sendo deputados na Câmara em lados opostos e é ai que sua mãe acha que vai se cumprir o que a cabocla prévio, “Quem sabe serão presidentes? Um seria o vice do outro e revezasse”, mas isso não acontece.


Natividade morre de tifo apões ver seus filhos como deputados na mesma semana da posse de ambos e antes de morrer pede para que jurem que ambos se darão bem, mas embora eles juram isso no leito de morte, não conseguem, pois desde o ventre da mão eles se competiam e não vai ser por um juramento que se faz a paz. Além disso as visões políticas eram radicalmente opostas, nunca poderiam se acertar. Eles não gostam um do outro e não concordavam em nada, mas isso não fica explícito na obra, não temos debates frontais na história. Quando um tentava um debate acirrado, a mãe intervinha e mandava o outro ficar quieto e assim nada de confrontos para explicitar a rixa entre ambos os gêmeos e mesmo quando eram crianças e brigavam entre si, a mãe ia para o quarto chorar e lembrava o que a cabocla falou, que seriam, grandes homens e ela não entende, voltava a tentava apaziguar as brigas e isso foi até sua morte.


A obra termina mostrando que as coisas não mudaram. Na Câmara, eles exerciam pacificamente seus papeis de deputados, cada um com sua ideologia, mas pacificamente como profissionais que são, mas quando terminava suas atividades e entrava o recesso parlamentar, ambos voltava a brigar e até perguntavam para o conselheiro Ayres o que tinha havido entre eles e ele falava que sempre foram assim. Uma crítica que não houve mudança concreta em passar de Império para república.


Tem uma passagem muito cômica em que um confeiteiro manda fazer uma tabuleta para colocar na frente de sua confeitaria com o nome de confeitaria do Império, mas ele estava justamente na época da proclamação da república e manda o marceneiro parar de escrever no “d”ele vai ao Aires perguntar se coloca Confeitaria imperial, o antigo nome, ou confeitaria do Cadete, sede da república. Mas tinha medo que os monarquistas voltassem ao poder, e Aires manda colocar seu próprio nome, pois isso seria irrelevante e ele não iria ofender ninguém, seria neutro. Essa é mais uma crítica de Machado de Assis a política da época, que mesmo com a república, os problemas brasileiros e a população não veria nenhuma mudança.




 
 
 

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