Iaiá Garcia
- Fernando Carlos
- 19 de mar. de 2019
- 6 min de leitura

Obra da primeira fase de Machado de Assis, ainda fazendo parte do romantismo. Considerado como uma trilogia juntamente com a Mão e a Luva e Helena, que depois entrou de vez na escola literária Realismo com outra trilogia com Dom Casmurro, Memórias Póstuma de Brás Cuba e Quincas Borba.
Iaiá Garcia é uma daquelas obras suaves, delicada e serenas e que prende o leitor da primeira a última página. O enredo se passa em 1966, narrado em terceira pessoa e ao estilo de Machado de Assis, isto é, ele fala com o leitor, dá palpites e comenta passagens da historia, sendo que o pano de fundo é o período em que o Brasil esteve na sua grande Guerra contra o Paraguai. É um tipo de leitura que não cansa e se inicia com um homem chamado Seu Luiz Garcia, 45 anos funcionário público, morava em Santa Tereza RJ, viúvo a 17 anos, o que deixa apático emocionalmente e agindo com desdém, amargurado pela tristeza, se mantendo mais isolado, não gosta de muita convivência com outros, muito solitário e introspectivo.

Ele tinha um escravo livre, o Preto Raimundo com 51 anos e vivia com seu ex-patrão por gratidão, mas também por falta de opção e cuida muito bem de seu Luiz e de sua filha Iaiá, a menina dos olhos de Seu Luiz, que a tratava com todo primor possível que no início da obra ela está com 11 anos, num colégio interno e vamos vê-la crescer e se tornar uma mulher dissimuladas, uma peste. Temos a Dona Valéria, também viúva de um desembargador que vive com seu filho Jorge. Estela é uma jovem doce, resignada por ser pobre, mas muito bondosa e delicada filha do serviçal da casa de Dona Valéria.

Um belo dia Seu Luiz é chamado para ir a casa de sua uma grande amiga Dona Valéria para atender um grande pedido dela, que ele intervenha com seu filho para que ele vá se alistar para a Guerra do Paraguai. O fato surpreende o Seu Luiz, que tenta descobrir porque ela quer seu filho vá para a Guerra, pois existe um risco altíssimo de que ele morra. Uma mãe mandar um filho jovem para a Guerra é quase mandá-lo para a morte naquele tempo, naquela Guerra, mas pois por traz desse pedido existe uma motivação que é absuta do ponto de vista dele. Esse filho está apaixonado por uma mulher que não seria um bom casamento, pois ela vem de uma classe baixa
Iaiá Garcia é uma mulher sagaz, desde aos 18 anos ela consegue perceber apenas pelo olhar quais são as intenções das pessoas e seus anseios e é dona de uma personalidade temperamental e ela é filha de Luiz Garcia.

Quando Seu Luiz vai conversar com o jovem Jorge ele relata que existe um grande amor por uma moça com o nome de Estela, que é filha de um senhor que toda a vida serviu a família da Senhora Valéria, que por sua vez tem um carinho muito forte pela Estela, além de madrinha é quase uma mãe e pretende dar um dote a ela para que ela possa se casar, mas não imaginava que seu próprio filho iria ser o pretendente de sua mão. Ela tenta mandar seu filho, já formado em Direito, para a Europa para esquecer a Estela, mas ele tão apaixonado não quis e portanto seu último recurso é mandá-lo para a Guerra.

Quando Seu Luiz tenta explicar para Dona Valéria que existe a possibilidade dele morrer na guerra, ela rebate dizendo que não, que ele vai voltar como Herói.
Estela se sente inadequada para casar-se com Jorge e resolve sair da casa de sua madrinha e ele sente que seu amor não é correspondido e decido realmente ir para a Guerra e passa por Uruguai, Paraguai e Argentina num período de 5 anos e aqui no Brasil, Dona Valéria achando que o amor do filho já terminou, chama Estela novamente para morar na casa dela, o que faz com que ela se aproxime demais com a família de seu Luiz e ele casa-se justamente com

Estela, a moça que Jorge gostava, embora ele realmente não sabia que ela era a moça que ele gostava, depois do casamento, Jorge mandava frequentemente cartas falando do seu amor por Estela e que ele não havia esquecido dela, mas Estela nunca havia lido,pois ficava no escritório do Seu Luiz. Estela era amiga muito próxima de Iaiá Garcia e tinha muita afinidade com ela, que nessa época era uma criança de 13 anos. Durante a Guerra Jorge fica sabendo que sua mãe morreu e volta para o Rio de Janeiro depois de 5 anos afastado.
Quando Jorge volta da Guerra a Iaiá Garcia já está com 17 anos, mais velha, madura e muito inteligente. Num dia que ela está arrumando o escritório de seu pai, ela vê estela lendo uma carta de Jorge que ele ainda está muito apaixonado por ela, pois o amor é muito forte, que nunca ele vai conseguir esquecê-la e lendo começa a passar mal, Iaiá entende tudo, que ela casou-se com seu pai, mas ainda amava o jovem Jorge e o clima na casa muda completamente, pos Iaiá não consegue se manter neutra e se sente incomodada com a presença de de Jorge na casa.

Seu pai está com sua saúde bastante debilitada e ele mesmo acha que não vai durar muito tempo, mas deposita muito carinho e respeito pelo jovem que está hospedado em sua casa após a guerra e pede ao Jorge que cuide de sua família caso o pior aconteça.
Iaiá Garcia não se convence que o amor de Jorge e Estela tenha acabado, ainda mais agora que seu pai está doente e pede para que Jorge assuma todos os negócios da família, ela acha que sua Madrasta e Jorge vivem uma relação proibida e que a paixão dos dois não havia acabado e se transforma, de uma moça doce e angelical em uma peste, falsa, sonsa e dissimulada e o relacionamento dela com ambos mudam completamente
Procópio Dias é um velho próspero, mas medíocre, maldoso, invejoso, horroroso e nojento, que procura Jorge por ter um interesse matrimonial com Iaiá Garcia e como ele tem que viajar para Argentina. Iaiá, por sua vez, começa um jogo de sedução pesado com Jorge, com intuito de se vingar de sua madrasta, por achar que ela traia seu pai, mas ela não contava que ela se apaixonaria por Jorge e ele por ela. Estela, que até então estava numa situação soturna, somente observava e esperava a hora de deixar que Jorge ficasse com Iaiá, mas sofre calada.

Quando Luiz falece, o caminho está livre para que Jorge e Iaiá se case, mas ela se faz de infantil e diz que não pode casar com Jorge porque Estela é que ama Jorge e não ela. Estela tenta dar um basta tentando explicar que o que aconteceu no passado acabou, já que Iaiá estava noiva de Jorge e por birra desistiu do noivado, mas Estela toma as rédeas da situação e diz que eles se casem que ela ia tomar outro rumo para sua vida e finalmente se casam Iaá com Jorge.
Estela muda para outra cidade e trabalha tomando um rumo completamente inesperado como uma mulher independente, algo incomum para a época, enquanto que o casamento de Jorge com Iaiá segue morno, comum, sem um final feliz.
Publicado em 1978, essa obra tem a importância de mostrar a vida cotidiana das famílias do Rio de janeiro do começo de século XIX, os casamentos motivados por interesses das classes sociais, amores impedidos por questões sociais e o dinheiro como grande agente das ações humanas. Embora o personagem central é a Iaiá Garcia, cada personagem da obra tem uma importância fundamental na trama, dificultando identificar um único protagonista o que torna a obra complexa deamao=is para sua época.
O que se destaca nessa obra é seu lirismo e os jogos psicológicos que se desenrola durante a trama. Iaiá Garcia e Estela tem personalidades totalmente opostas, a primeira não quer enxergar a realidade e a outra procura se impor .

A obra é repleta de reviravoltas e os personagens são ambíguos deixando o leitor meio que distante sem se identifica com nenhum, pois nenhum é completamente honesto consigo mesmo ou com o outro, nem falam tudo que se deveria falar, Além do fato que eles mudam seus pensamentos e comportamentos, típico da ambigüidade humana, o que Machado de Assis faz muito bem e ele como narrador também é um caso a parte, pois ao mesmo tempo que ele descreve os pensamentos dos personagens ele cria uma narrativa completamente diferente e não narra o que se espera ou o que é aguardado pelo leitor. Um quebra-cabeça psicológico que não revela tudo dos personagens deixando que o leitor tire as suas conclusões próprias.

Filme
Que estranha forma de amar (1978). Direção de Geraldo Vietre, baseado no livro Iaiá Garcia de Machado de Assis. Sinópse: Um jovem militar retorna da Guerra do Paraguai e encontra sua prometida casada e também sua paixão secreta igualmente casada com um viúvo que tem uma filha. As coisas se complicam quando ele começa a se apaixonar pela moça, enteada de seu antigo amor, Iaiá Garcia.
Elenco de Que Estranha Forma de Amar
Benjamin Cattan Procópio Dias
Berta Zemel Estela
Dina Lisboa Valéria
Jacyra Sampaio Raimunda
Márcia Maria Eulália
Paulo Figueiredo Jorge
Solange Theodoro Iaiá Garcia
Wilson Fragoso Luiz Garcia
Filme aplaudida pela crítica e público, considerado como um filme magistral direçãio impecável de um diretor até então desconhedo, uma das melhores transposições respeitosas de Machado de Assis para o cinema. O elenco está excelente, a cena final é encantador com o crédito do roteirista. Embora os eventos possa ser um tanto pouco dramático, magistralmente compensada pela desoladora e belíssima fotografia e interpretações encantadoras em sua aterradora sutileza.
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