Jane Eyre
- Fernando Carlos
- 21 de nov. de 2019
- 8 min de leitura

Charlotte Brontê.
Uma obra vitoriana escrito e publicado em 1847 pela irmã do meio das três irmãs escritoras da Inglaterra, que viviam na casa de seu pai, sendo que o pai era pastor da igreja anglicana na época.
Uma obra vitoriana tem uma característica única, a começar pelo tom novelesco, perderia fazer capítulos e capítulos de uma obra única, nessa obra poderíamos dizer que é uma saga, já que o sub título da obra diz Jane Eyre, uma auto biografia, isso significa que a obra é escrita em primeira pessoa, contanto em forma de novela e linear desde a infância até a velhice de Eyre, mas conhecendo a vida da autora, existe muito da biografia dela, embora ela não fosse órfã, ela viveu um tempo enclausurada num convento assim como a personagem. Enquanto Jane Austen (Orgulho e Preconceito) escrevia sobre a sociedade britânica com uma vivacidade e energia encantadoras, Charlotte Brontë parece ir no exato oposto com Jane Eyre, um romance extremamente pesado
A obra não se compara com a de sua irmã O Morro dos Ventos Uivantes, pelo contrário, existem contradições que vamos discutir aqui, mas de nenhuma forma inferior as demais obras escritas na época. A autora era inconformada com a posição da mulher, vista com um ser inferior aos homens e desprovidas de força, inteligência e esse machismo é muito criticado por toda obra, não existe nenhum personagem ideal, uma característica das obras vitorianas, pelo contrário, cada personagem tem sua personalidade bem escrita de forma bastante complexa ninguém e ninguém, nem a escritora é perfeito, mas claramente os homens são os que mais defeitos têm inclusive o herói da história.
Como toda obra vitoriana, existe um grande mistério a ser desvendando, mas também bebe muito na literatura gótica. Ruídos incomuns durante a noite assombram Eyre, explicações não convincente de coisas estranhas que ocorrem dentro da casa em que ela trabalha, as viagens sem explicações de seu patrão, medo, angustia e terror tudo ao mesmo tempo em todas as passagens da heroina, e são muitas moradas e não vamos detalhar nenhuma, mas focar no centro do romance.

Ela nos conta que perdeu os pais, teve que morar na casa da tia, vista como a grande salvadora de sua vida, mas, devido aborrecimentos com seu primo, tornando um ambiente familiar em que ela é completamente desprezada e no qual possui um péssimo relacionamento entre todos e por isso fui deixada num convento para se educar e ficar preparada para a vida como uma serviçal a altura. Enviada para estudar em um colégio que forma as meninas para ser governanta e esse o ofício Jane aprende com muita propriedade, com excelência, inclusive, mas esses anos em que viveu isolada lhe transformaram em uma jovem amarga, mas obstinada em viver de maneira independente. E é assim que ela passa a ser alguém abnegada e que aprende a engolir as suas vontades em prol da realização do desejo dos outros. Lá passou vários medos, sofrimentos e desamparo, somente aplacado por uma professora que se afeiçoou com a menina, mas veio a falecer e ela ficou mais desamparada, embora estivesse se construindo em seu íntimo a mulher que seria forte, vivaz, culta e preparada para enfrentar o mundo “como os homens”, enfim, ela se dizia como um pássaro livre para alçar seu vôo, um forte apelo feminismo nos meado do século XIX e depois de preparada e enviada para trabalhar na casa de um rico homem solteiro, um pouco exótico, já que ela solitário, maduro, mas fechado no seu casarão, com poucas falas e de aspecto nada simpático, nem, atraente era, e a relação inicial entre os dois era bastante problemática, pois ele a via arrogante, embora não desse nenhum motivo para ser criticada, mas sendo jovem linda e culta, chamou a atenção de seu patrão que começou a se interessar pela moça, mas as coisas não fossem tão fáceis assim, pois ela é um pássaro livre, forte, desejante com e vontades que não condiziam muito bem para uma moça nessa época, era independe no pensar e querer, mas aos poucos começaram a se aproximar, ele se mostrava um ser embrutecido, sua ignorância e agressividade era visto e relatado e ela contrastando com sua delicadeza e sabedoria.

Nas noites era bastante tenebrosas, ela executava gritos, barulhos de pessoas, portas se abrindo ou batendo, mas ninguém dava nenhuma explicação além de que isso era coisa da maloca de uma criada, casa que haviam muitas criadas para cuidar de um home solitário, mas ela passava muito medo, desconfiava de fantasmas assombrando a casa, não eram sons normais para uma casa e uma pessoa subalterna não faria tanto barulho, sendo que ninguém na casa, exceto ela, se incomodava.
Ela sempre partia para viagens sem explicações, eram momentos que Eyre tinha sossego, pois ela era cobrada pelo patrão a todo instante, e se insinuava, mas ela não permitia nenhum avanço dele. Na obra ficam muito claras as sensações corpórea associadas com o clima. Quando ela tinha medo, falava que o sangue congelava em suas veias, quando ela sentia algo de excitante em relação ao patrão,ela falava que o calor de seu corpo aumentava e isso se refletia no clima externo. Teve um momento em que ele se declara para ela e ao fazer isso, obviamente o calor subia na cabeça de Eyre, mas começa a chover, cai um raio sobre uma árvore e parte a árvore ao meio, simbolizando que essa união não poderia ocorrer, mas por quê? Ele era um homem mais velho, mais feito que os demais, mas rico e livre. Isso bastaria? Não, mas ela aos poucos começava a sentir atração pelo patrão.

Depois de muito, mas muito conflito, medos, receios e aqui vale ressaltar que a moral cristã e os bons costumes da hipocrisia da Inglaterra foram respeitados, ela acaba cedendo as investidas de seu patrão. Ela vinha de uma tradição cristã, foi criada num convento, deveria crer em Deus e nas suas palavras, mas ela era aberta as outras possibilidades de pensamento fora do cristianismo vão dizer assim, ela acreditava em Deus, tinha fé, mas o que poderia vir de algo de fora e que ela achasse bom ela aproveitava, mas ele não acreditava em nada. Finalmente, com muito sacrifício e relutância, contra todas as regras sociais, contra toda sua crença e recusa em se entregar a um homem bruto tosco como seu patrão, ela acaba aceitando casar-se, mas impõe condições de ser uma pessoa livre pensante, com autonomia em ser mulher e tudo que as idéias de liberdade feministas defendiam, além das igualdades dentro da casa, ela não queria ser um móvel dentro da casa, mas um ser determinado, com desejos e vontades e pior, pensante, mas claro que não chegamos ao direito de voto, que viriam 70 anos depois ou liberdade do corpo e coisa que somente em fins da década de 70 do próximo século que seria pautada, mas uma mulher livre para tomar as próprias rédeas dentro da moral vigente, uma liberdade velada, vamos dizer assim.

No dia do casamento temos uma revelação inesperada que vai mudar completamente o rumo da estória. Essas situações, esses mistérios, essas coisa de surgir um fato novo que vai surpreender o leito é coisa típica das obras dessa época, mas aqui é apavorante. Seu patrão não pode se casar, pois ele já é casado e sua esposa fica presa no sótão da casa. A explicação sobrenatural dos barulhos que Jane Eyre ouvia era realizada por essa mulher. Na verdade ela era esquizofrênica, tinha problemas mentais seriíssimos e ele casou-se com ela apenas por interesses financeiros, por comodidade e a família dela escondeu os problemas mentais. Certamente ele sabia que se casaria para ter uma condição de vida privilegiada, ele casa-se por interesse sem se importar com quem estava casando. Depois de casado, ele viu que seria impossível manter um casamento normal perante a sociedade e trancafiou sua esposa no sótão de sua casa vigiada e cuidada por uma criada, que levava a culpa pelos barulhos noturnos.

Eyre fica horrorizada com essa revelação e decide sair de casa e sai sem rumo, se dinheiro, sem nada, se esperança ou objetivo, sai com as roupas do corpo e vai para um lugar qualquer. Ele se resigna a sua situação, poderia ser preso por bigamia se continuasse com esse casamento, ele se arriscou por amor, mas isso é amor ou uma paixão doentia?
Muda-se o rumo da historiam, ela começa novamente sua vida, vejam que ela já foi órfã, depois adotada e teve que rivalizar com suas primas, depois interna e teve que se destacar com aluna brilhante, chegou a ser serviçal e finalmente noiva, agora o recomeço do zero, enfim, uma mulher de várias facetas, mas não vamos nos detalhar nessa passagem, embora tenhamos muita coisa acontecendo, vamos ir direto para o final do livro.

Finalmente, depois de estabelecida como mulher livre e independente, forte e como um pássaro pronto para um vôo, ela fica sabendo que a esposa de seu ex-patrão coloca fogo na cama dele, as labaredas se espalham pela casa toda e ele quase morre no incêndio. Fica cego, manco e perde um braço no incêndio, mas ela morre. Eyre volta a procurá-lo, ele está envelhecido, mutilado e com seqüelas que deformaram sua face, seu todo, enfim, todo vigor, toda força, visão se foi e resta somente a mente, o ser pensante, pois o corpo se deteriorou. Aqui viça a conclusão mais controversa de toda a obra. Eyre nesse momento tem compaixão e resolve ficar com ele definitivamente como sua esposa, mas 10 anos se passa e ela escreve que ela é tudo que ele precisa que ela ordena e ela faz com prazer, ela é seu braço e seus olhos, enfim, ela muda sua concepção de mulher livre não submissa para ser o que ela sempre repudiou ser uma escrava do lar e serviço de um marido, e pior, agora deformado, manco, cego e brutalmente desfigurado pelas lesões do fogo.

As linhas de interpretações são várias e por isso que essa obra é algo de valor, pois certamente não é um final feliz, mas desejado desde o início. O amor vence tudo? Mas e os ideais feministas nessa estória? O que importa é o sentimento? O físico fica em segundo plano?
A personagem é conhecida por ser uma mulher forte, que sobrepujou grandes dificuldades e que lutou para ser ouvida, para fazer o que achava certo, em um período no qual as mulheres pouco tinham sua vontade atendida. Uma explicação mais razoável é que o amor transcende a vida, isso fica claro na obra de sua irmã Emilly Bronte O Morro dos ventos uivantes, o amor só se consuma depois da morte de ambos, mas aqui temos um casal que está vivo, ele nem tanto, ele depende dela para tudo, mas ela fica presa a um casamento sem futuro, enfim, uma obra que temos que refletir muito.
Filme

Jane Eyre de 2011. Direção de Cary Joji Fukunaga. Roteiro: Moira Buffini, baseado no romance homônimo de Charlotte Brontë Sinopse: Após uma infância triste, Jane Eyre (Mia Wasikowska) resolve se tornar uma governanta. Ele aceita um emprego no Thornfield Hall, onde conhece o misterioso e frio dono da casa, Sr. Rochester (Michael Fassbender). Aos poucos, eles se aproximam e Jane começa a se apaixonar pelo patrão. A jovem aproveita a recém descoberta felicidade, mas os segredos desse homem podem destruir esse sentimento.
O filme de época é brilhante, bem ambientado, os campos, o clima bucólico com o cuidado técnica para cada situação em que passa a personagem. Belíssima trilha sonora de Dario Marianelli e os figurinos de Michael O’Connor foram indicados ao Oscar 2012, mas não levou a estatueta, a fotografia "fria" que ganha cores somente na última cena. Uma curiosidade, a fotografia foi realizada pelo brasileiro Adriano Goldman. Eyre está fabulosamente interpretada por Mia Wasikowska e temos a presença da veterana Sally Hawkins representando sua tia. Mia Wasikowska consegue parecer destemida o suficiente, sorrindo muito pouco e sempre mostrando foco em suas atividades. Até, claro, surgir um homem que lhe tirasse o prumo. Homem este vivido pelo sempre competente Michael Fassbender.
O critico Rodrigo de Oliveira diz: Com direção de arte e figurinos muito bem concebidos, o longa-metragem pode não ser a melhor adaptação do livro de Charlotte Brontë, mas tem atributos suficientes para uma conferida mais de perto. Basta o espectador ter um pouco de paciência com uma narrativa mais lenta do segundo ato para o fim.
Lindo filme e o seu texto sensacional...