Lucíola
- Fernando Carlos
- 10 de abr. de 2019
- 8 min de leitura

O resumo da obra foi extraído de dois sites de domínio público:
/guiadoestudante.abril.com.br e /educacao.globo.com
Esta obra é a primeira da trilogia urbana de José de Alencar publicada em 1862, possui uma crítica da sociedade. Ele foi um ávido leitor das obras européias, como Emille Zola, Gustav Flauber e fez uma obra baseada em “A Dama das Camélias” de Alexandre Dumas Filho, uma obra polêmica, mas romântica cujo personagem principal é uma prostituta que morre de tuberculose no final. O livro Lucíola é narrado através de Paulo, quem viveu um tórrido romance com Lúcia, uma cortesã e é contado através das cartas dele para à Sr.ª G.M, conta a história de seu relacionamento com uma mulher, explicando inicialmente que não o fizera de viva voz em virtude de, na ocasião de uma visita a que alude, estar presente a neta da própria destinatária, uma menina de 16 anos.

Em 1855, Paulo chega ao Rio de Janeiro vindo de Olinda, Pernambuco, muito jovem e e meio bobão, com cerca de 25 anos, convidado por um amigo, o sr. Sá, a acompanhá-lo à Festa da Glória, quando vê e se apaixona por uma mulher linda que, de início, em sua simplicidade de provinciano adventício, não identificara como cortesã ( ou prostituta).
Ao ver Lúcia tivera a impressão de já conhecê-la. De fato, à noite lembra-se de que já a tinha visto antes, no dia mesmo de sua chegada ao RJ, em um carro elegante, e exclamara então para um companheiro de lado: “Que linda menina! Como deve ser pura a alma que mora naquele rosto!” e que gentilmente, após, alcançara-lhe o leque que deixara cair na rua.
Ele se apaixona a primeira vista por Lúcia. Sem conhecer sua verdadeira vida, pois enxerga nela uma encantadora menina. Lúcia era de uma rara beleza e suave aspecto, que faziam parecer uma jovem inocente. Pelo menos, essa foi a impressão de Paulo como a pintou, ela era de natureza complexa nas alternativas de sua vida e do seu temperamento. Boa nas intenções, mas devassa na prática da vida que levava; interesseira e avara na conquista do dinheiro fácil e, ao mesmo tempo, generosa ao dar esmolas e na ajuda a parentes; com um passado de luxo e dissipação, se apaixona da maneira mais romântica pelo jovem que nela descobrira bondade e ternura. Enfim, era bem feminina ao parecer tantas numa só. Paulo, no entanto, no entusiasmo da paixão, definiu-a: “Tu és um anjo, minha Lúcia!”.

Essa impressão desfaz-se na Festa da Glória, onde Sá, representante dos valores e preconceitos da sociedade, fala que a conhecia e fora seu amante. Mesmo sabendo que era uma cortesã ele continuou a idealizá-la, até nas visitas que lhe fez a seguir, francamente inocentes e cordiais. Só algum tempo depois é que se tornaram amantes. A partir de então, Paulo começa a visitar Lúcia em sua casa. Na segunda visita, Paulo deixa de lado o tratamento cortês que até então fizera a Lúcia, agarra-a e acontece o primeiro contato físico. Cada vez mais, no entanto, prendia-se a ela por um amor apaixonado que ultrapassava a simples satisfação do sexo. Não a queria como uma mundana lúbrica e sensual, famosa pelos requintes no amor, e sentia que ela também, na maneira de tratá-lo, nos seus silêncios, nos seus beijos e carícias, o amava realmente. A prova maior disso foi o seu afastamento de tudo para dedicar-se a ele. Nem logo brigaram, e ela voltou à vida antiga. Nessas alternativas de brigas e reconciliações, de ciúmes e de arrependimento, chegaram à confissão de suas vidas e à aceitação do amor com que se queriam.

No dia seguinte, há uma festa na casa de Sá onde, além de Paulo e Lúcia, são convidados também homens boêmios, como Sr. Cunha, Rochinha, Sr. Couto e outras três prostitutas, entre elas Nina. Nessa festa, a cortesã exibe-se nua diante de todos. Paulo num primeiro momento teve uma repulsão por toda aquela cena. Porém, mostra-se piedoso e compreensivo e os dois tem uma noite na mata. Esse é o ponto que marca o início da transformação de Lúcia.
Para Lúcia, Paulo é o caminho para chegar à salvação. Na tentativa de se afastar da sociedade e deixar definitivamente a vida de cortesã para trás, muda-se para uma casa mais simples no interior junto com sua irmã mais nova, Ana. Nesse momento, não existe mais o amor carnal entre Paulo e Lúcia. Há um amor espiritual – Lúcia chega até a fingir que estava doente para não mais haver contato. É nesse momento que conta o verdadeiro motivo que a levou à vida de cortesã, declarando para sempre morta a mulher que fora até então; sua família viera morar na Corte e viviam dignamente, até que a epidemia de febre amarela de 1850 atacou todos os seus parentes. Somente ela foi poupada, vendo-se obrigada a cuidar dos familiares.

Assim foi que, por necessidade, entregou o seu corpo a um ricaço de nome Couto, para conseguir ajuda e apoio. Morreram-lhe a mãe, a tia e dois irmãos; o pai, ao descobrir que ela recebera dinheiro de um homem em paga de sua honra, expulsou-a de casa. Depois disso, o caminho estava aberto à prostituição. Na sua nova vida foi morar com uma prostituta chamada Lucia, que também morreu e ela trocou os documentos, portanto para sua família ela estava morta, então, mudou de nome, pois se chamava realmente Maria da Glória, em devoção a sua madrinha Nossa Senhora da Glória e agora chama-se Lucia. Lucíola é o nome dado a um vagalume que vive no brejo, daí o nome que José de Alencar deu a obra, uma luz que vive no brejo. Ela mesma fala que seu corpo é um pasto para os homens. Depois de uma longa viagem que fizera à Europa em companhia de um amante, de volta ao Rio só encontrou de sua família uma irmãzinha de nome Ana, a quem tomou sob sua proteção e a pôs num colégio

A redenção de Lúcia após tal confissão, de que resultou um perfeito entendimento entre os dois, Lúcia foi morar numa casinha de Santa Teresa, que alugara, em companhia da irmã. Afastou-se da vida mundana para receber apenas a visita de Paulo. No ambiente bucólico daquele bairro viveram os dois um idílio simples. Passeavam nos arredores de mãos dadas como dois namorados, e nessa busca da inocência perdida, ela até se recusava, periodicamente a ser de novo sua amante. É que ela agora já adotando outra vez seu nome de batismo, Maria da Glória, culmina com a descoberta de sua gravidez e a não aceitação dela. Mesmo com o melhor parteiro afirmando que a criança em seu ventre estaria viva, Lúcia acredita que seu corpo é sujo e morto, e por isso não é capaz de gerar um filho.
Mas o idílio em que viviam durou pouco. Lúcia sofreu um aborto e, ante a recusa de tomar remédio para expelir o feto sem vida, faleceu de infecção, confessando a Paulo que o amava perdidamente desde o primeiro encontro. Pediu-lhe que se casasse com de sua irmãzinha Ana, a quem deixara em testamento a sua fortuna, cerca de cinquenta contos de réis, mas ele se recusou, mas prometeu que cuidaria dela como se fosse sua própria filha. Ante sua recusa, pediu-lhe que a protegesse, e morreu dizendo-se sua noiva eterna, sua noiva no céu. Morre, grávida. Paulo, atendendo a um pedido seu, cuida de Ana até que ela se case.
Análise da obra.

A obra certamente está dentro dos conformes do estilo romântico, o final segue o preceito do Romantismo, ou o amor vence e eles se casam por amor ou a morte é o destino mais obvio. No caso, a semelhança com a obra “A Dama das Camélias” de Alexandre Dumas é evidente, mas aqui Alencar coloca a crítica social, a situação desprivilegiada das mulheres veja que quando adulta, se não tem casamento ou uma família de destaque resta somente para as mulheres solteiras a prostituição, que é a mais desvalorizada e onde temos a supremacia de homens pagantes. O personagem principal sobre em todos os momentos ao se apaixonar por uma dessas prostitutas.
A ambigüidade da apresentação da personagem Lucia também é inovador, foge do estereótipos de menina doce, bela e pálida para alguém mais formosa com rosto de anjo, mas comportamento aberrante. Numa cena antológica a moça entre numa espécie de fúria e numa festa começa a fazer um strep tease e depois sobe numa mesa, na frente de seu amado e de outros homens e faz poses sensuais de forma avassaladora e bastante escandalosa. Essa cena vai ser novamente lembr45ada na obra Memórias Póstumas de Braz Cubas por Machado de Assis, mas vemos que a personagem é de uma complexidade psicológica, o que hoje chamaríamos de uma pessoa bipolar, pois ela sai de uma apatia e tristeza para um rompante de euforia e devassidão.

Embora bastante idealizada pelo aspecto externo, rosto de moça e anjo, linda e formosa, corpo afrodisíaco, ela mesma fala que apenas suas alma é pura, que naca vai magoá-la, mas na história em vários momentos, ela usa de sua riqueza para humilhar Paulo, seu amor de vida e Paulo é mostrando como um homem xucro, tonto e inocente demais, só que no decorrer da história, essa paixão também não tão completa assim, em várias passagens ele sente asco da sua amada, nojo mesmo e até a agride psicologicamente, portanto temos uma história rica e complexo para ser analisada e mais ainda, por se escrita em 1862 e se passar em 1855 é a mesma data do lançamento da obra que inspirou o autor, e retrata fielmente os costumes e tradições dessa sociedade patriarcal e machista.

Como falamos se enquadra nos romances urbanos de Alencar e vai formar uma trilogia com outros duas obras, Diva e Senhora, onde o cotidiano e os costumes de uma sociedade burguesa são relatados. A inovação de colocar um narrador editor, cria uma curiosidade em saber para quem Paulo escreve sua história. É algo peculiar de Alencar possuir um narrador que não apresenta. O fato de ser narrado na primeira pessoa, vemos apenas o lado de Paulo, nada sabemos dos pensamentos de Lucia. Temos uma visão crítica parcial em relação aos acontecimentos. Ou seja, não há o distanciamento dos fatos enquanto narrador. O romance certamente ofende aos mais puritanos e portanto seria impossível que no final a prostituta fosse aceita, mesmo narrando que ela mudou, e se mudou, enfim, mesmo com toda a transformação, ela era uma postututa e deveria arcar com essa responsabilidade, embora não havia outra saída para Lucia, mas inaceitável diante de uma sociedade preconceituosa. Ele também se revela preconceituoso, pois se recusa a contar a sua história, por isso que não sabemos quem seria a pessoa que recebe a carta, sabemos que é uma mulher.
Paulo é o único capaz de enxergar a cortesã além das aparências. Já no primeiro encontro, Lúcia diz que ele a purificou com seu olhar e, a partir das visitas de Paulo, ela se distancia cada vez mais da vida de cortesã e se reaproxima de sua origem, enquanto Maria da Glória. Os valores cristãos é outro ponto fundamental no romantismo, o bem como pureza e bondade contra o mal, a libertinagem. A busca da auto-piedade e o esquecimento do seu passado, porém não consegue, uma vez que a sociedade não perdoa seus atos.
Site de referência

Filme Lucíola, o anjo pecador (1975). Direção e roteiro de Alfredo Sternheim. Baseado no romance de José de Alencar (Lucíola). O advogado Paulo chega ao Rio de Janeiro e logo se interessa pela jovem e aparentemente pura, Lúcia - também conhecida como Lucíola. Contudo, quando ele descobre que ela é uma famosa cortesã de luxo na cidade, os dois precisarão passar por vários obstáculos morais e sociais para manter seu amor vivo.
Não é um grande filme é arrastado, lento e com um roteiro pouco crível, mas deu para compreender a mensagem do livro no que diz respeito a toda essa preservação da essência pura da Lucia/Maria em que ela conseguiu manter na sua alma, mesmo tendo que viver nesse mundo carnal, sujo para depois se mostrar uma mulher humana, sofrida e sem opções de escolha. A atuação deplorável de Carlo Mossy como o protagonista Paulo também não ajudou. Cenas de nudez poderiam ser minimizadas, mas atendia uma demanda dessa época (anos 70). De fato o diretor foi bastante injustiçado pela crítica quanto o difamaram como o transformador do "livro de José de Alencar num drama erótico". Vendo o filme, porém, o roteiro se perde exageradamente, fazendo com que o personagem Paulo pareça um amnésico imediatista e psicótico. Apesar de Rossana Ghessa estar exuberante como de praxe e de Helena Ramos ter uma brevíssima participação, a direção é má e o filme pior. Sem nota.
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