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Metrópolis

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 12 de fev. de 2020
  • 9 min de leitura

Assim como em 2001: uma odisséia no Espaço, o filme e o livro se confunde na sua aparição para o mundo, ambas ficção científica e ambas revolucionaram o cinema e a literatura do seu tempo. Metrópolis foi estrado em 1927, bem na metade do período entre–guerras dirigida pelo alemão Fritz Lang com inúmeras renovações que levaram um novo estilo para o cinema e uma referencia mundial para os novos filmes de ficção, mas também não ficção, pois além de novas técnicas cinematográficas, também o enredo era inovador.

Somente agora nesse século XXI que a Editora Aleph lançou o livro original escrito por Thea Von Harbou, na época casada com o diretor Fritz Lang e para nós cinéfilos apaixonados pela história do cinema pudemos ter contato com a obra original do filme que revolucionou o cinema, sendo que o roteiro original saiu desse livro com o mesmo nome, Metrópolis.

Metrópolis é uma história que se passa num mundo distópico e num futuro distante que guarda um terrível segredo, um mundo subgterrâneo que esconde outra sociedade operando as angustiantes máquinas que geram a energia – em exaustivos turnos de 10 horas. O que os motiva é a profecia da chegada de um mediador que apaziguará os ânimos entre as classes, promovendo soluções pacíficas, visando o bem para ambas as partes, uma sociedade reprimida e explorada por uma elite poderosa e fica num subterrâneo longe da visão dos privilegiados e opressores. Expoente do expressionismo alemão, e realizado em plena depressão pós I Guerra Mundial pela qual o país passava na época, esta obra imagina um futuro pessimista, uma superprodução para a época, é um manifesto – um dos primeiros da Sétima Arte – às diferenças de classes e à opressão em prol da industrialização. O roteiro encontra espaço ainda, por meio de simbolismos, para fazer alusões ao sagrado e ao profano. Aqui a autora deixa explícito a teoria do sociólogo Karl Marx mostrando os problemas do capitalismo, principalmente a exploração dos trabalhadores que vivem num subterrâneo operando máquinas para dar conforto e poder sobreviver com o mínimo possível dando vida boa para uma elite social das camadas de cima.


Outro ponto crucial nessa trama é a eterna disputa pelo poder entre a religião e a ciência. Essa problemática já havia sido explorada pelo filósofo alemão Frederich Niezsche ao escrever “A Gaia da Ciência” em que ele coloca os avanços científicos dando explicações lógicas e racionais para tudo que antes era obscurantismo e se colocando como arauto da verdade e sabedoria, tirando o poder das religiões com suas crenças e superstições. O fato dele ser filólogo e ter como referencia seu pai, um pastor protestante fez ele escrever outro livro confrontando sua fé e colocando a “morte de Deus” na boca de um personagem em seu livro mais polêmico até os dias de hoje “Assim falou Zaratustra” em que um pregador peregrino acorda no meio da noite com uma vela a procura de Deus e como não encontra ele fica gritando: “Deus está morto e foi vocês quem o matou, fui eu quem matou Deus.” Essa referência está diretamente relacionado com seu outro livro, isto é, para Nietzsche a ciência ocupou o lugar de Deus. Embora o filósofo teve problemas mentais no final de sua vida até hoje sem uma explicação definitiva e morreu num manicômio, ao escrever “Assim Falou Zaratustra” ele estava com suas idéias bem lúcidas e sua obra é considerada uma das mais importantes da História da humanidade.


Na obra Metrópolis também temos algo que remete a essa dicotomia entre os avanços da ciência e tecnologia e a religião, mas ficando totalmente fora das críticas de Karl Marx, que escreveu em seu livro panfletário Manifesto Comunismo, que a religião é um véu sobre os olhos dos oprimidos que cega a verdade através da ideologia dos grandes opressores. Aqui no livro temos a tecnologia como representante dos opressores, pois todas as máquinas, embora sejam operadas pelos oprimidos para dar o bem estar para os opressores, causando o sofrimento e nenhum conforto ou alívio para quem as manipulam. A religião está representada aqui na figura de Maria, uma jovem carismática que faz discursos inspiradores para os trabalhadores. O filho do governante de Metrópolis Frederich vai conhecer e se apaixonar por Maria colocando em xeque essa ordem social dessa Metrópolis. Vejam a semelhança dos nomes, Frederich (Nietzsche) o pré-nome do personagem que vai se envolver com a representante da classe opressora e que entra em conflito com a vida que leva e a visão do mundo dos oprimidos ao se apaixonar por uma representante da religiosidade Maria, nome relacionado com a mãe de Jesus Cristo. Embora no filme não fale com mais profundidade o ocultismo dessa seita e retiraram outro personagem importante para se entender essa religião do subterrâneo, no livro temos a avó de Frederich que nos fala melhor sobre o ocultismos e magia não muito clara na edição final do filme, como uma cena em que Frederich tem uma visão do Deus pagão Maloch e a presença de um pentagrama na parede de um cientista representante da ciência. Nas cenas de Maria em que ela “prega” tudo remete a igrejas cristãs, com castiçais de velas e velas acesas na hora de seu discurso e toda população assistindo como se fosse uma missa. Frederich e Maria se envolverão, e buscarão uma solução para aquela situação. Ocorre que John quer impedir uma possível revolta dos operários, e para isso contará com a ajuda do 'cientista maluco' Rotwang, que constrói um androide e o faz ficar com a aparência de Maria, que deveria convencer os trabalhadores a não se rebelarem. Joh não contava, porém, que Rotwang tivesse os seus próprios interesses. O inventor programa o androide para atiçar ainda mais a plebe inconformada a invadir a superfície, abandonando as máquinas, o que provocará um verdadeiro colapso em toda a estrutura urbana da gigantesca cidade, que amargará uma série de desastres geológicos sem precedentes.


O filme original tinha mais de três horas de duração, incompatível para ser comercializada. Foi um dos filmes mais caros da história do cinema, tendo custado na época cinco milhões de marcos, e quase levou a Universum Film S.A. à falência sendo até complicado para manter uma platéia no pós-primeira grande guerra atenta ao que assistia. Estavamos vivendo a era dos musicais em Hollywood e por isso optaram para cortar metade do filme para ficar mais viável. Outros cortes se sucederam e hoje temos acesso apenas a um filme de uma hora e meia, isto é, muito mais reduzida que a original, gerando problemas para se compreender os pontos mais complexos da trama. Tais cenas se perderam no tempo e espaço e somente em 2008 foram encontrados uma cópia quase completa num, museu da Argentina. A versão original foi restaurada e exibida na edição de 2010 do Festival de Berlim, data em que o festival comemorou 60 anos.


Dentre as inovações que Fritz Lang nos brindou temos o cenário de uma cidade totalmente futurista, com edifícil altíssimos dando a impressão de uma cidade grandiosa e a grande quantidade de carros e aviões mostra a superpopulação e a poluição visual que vai inspirar futuramente Blade Runner (1982) de Ridley Scott, isso é inegável, assim Gothan City de Tim Burton em Batman (1989) segue o mesmo padrão, acrescentando o estilo “Gótico” com estilo futurista e “Art-Deco” com imensos arranha-céus com suas linhas retas e imponentes representando dinâmica e a era industrial e viadutos entrecortando o ar. Obviamente a cidade que despontava toda essa inspiração foi Manhatan em Nova York, inclusive foi revelado pelo próprio Fritz Lang. Temos também a “Torre de babel” no cenário representa o poder e é deslumbrante e tudo necessitando sets de filmagem enormes para dar vida a cidade.


O Robô de Motrópolis não foi o primeiro a entrar em cena, mas um robô andróide realmente foi uma inovação que ficou para a história e também copiado infinitamente depois desse filme em outros filmes de ficção. Fritz Lang consegue fazer um robô admirável, hipnotizante, maravilhoso e assustador ao mesmo tempo. O Robô tem a forma de uma mulher, o que seria depois transformada numa sócia de Maria. Este robô como máquina já era muito sedutora, com formatos sinuosos e curvas que agradam os olhares dos homens e muito estimulante, no sentido sexual. Ela vão ser a grande inspiração para a humanóide de Blade Runner, filme inspirado no livro “Andróides sonham com ovelhas elétricas?” De Philip K. Dick e posteriormente no filme Ex-Machina, instinto artificial (2016) filme dirigido e escrito por Alex Garland e interpretada pela impecável atriz sueca Alicia Vikanter dentre tantos outros filmes, como o criador de Star Wars Jorge Lucas revela que o Robô C-3PO foi inspirado em Metrópolis, versão masculina.

Outra inovação, mas que não foi inédito, é a figura de um cientista amalucado com várias outras derivações em que identificamos facilmente o cientista louco, um corpo inerte, fios, cabos e tubos de ensaio em volta do cenário sombrio e uma chave de força que liga a energia que, por sua vez, desencadeará uma série de 'efeitos visuais' representando raios-laser circulares em volta do humanóide que faz de tudo pela ciência, pelo bem ou para o mal. Essa figura estranha já havia sido apresentada em filmes como o Dr Frankestein (1910), o médico e o Monstro veio dois anos depois (1931), mas Em De Volta para o Futuro (1985) o professor é inspirado em todos os sentidos na figura do cientista de Metrópolis, até os cabelo desalinhados e a cara de louco. Os efeitos especiais também é algo que discorreria muitas páginas, pois Metropolis foi o alicerce para que os pilares da ficção científica, mas citaremos apenas o nome do criador para não ficarmos muioto focados no filme em si: Elgen Shufftan.

Esse filme trata, entre tantas coisas fundamentais para a humanidade em desigualdade social, o impacto tecnológico na vida de trabalhadores operariados, desemprego, luta de classe, paixão, religião e humanidade versus pensamento maniqueísta, sem falar na relação entre pai e filho, no que se refere ao legado que o pai deseja passar pela descendência.


Filme de Fritz Lang (1927) Sinópse: Metrópolis, ano 2026. Os poderosos ficam na superfície, onde há o Jardim dos Prazeres, destinado aos filhos dos mestres. Os operários, em regime de escravidão, trabalham bem abaixo da superfície, na Cidade dos Trabalhadores. Esta poderosa cidade é governada por Joh Fredersen (Alfred Abel), um insensível capitalista cujo único filho, Freder (Gustav Fröhlich), leva uma vida idílica, desfrutando dos maravilhosos jardins. Mas um dia Freder conhece Maria (Brigitte Helm), a líder espiritual dos operários, que cuida dos filhos dos escravos. Ele conversa com seu pai sobre o contraste social existente, mas recebe como resposta que é assim que as coisas devem ser. Quando Josafá (Theodor Loos) é demitido por Joh, por não ter mostrado plantas que estavam em poder dos operários, Freder pede sua ajuda. Paralelamente Rotwang (Rudolf Klein-Rogge), um inventor louco que está a serviço de Joh, diz ao seu patrão que seu trabalho está concluído, pois criou um robô à imagem do homem. Ele diz que agora não haverá necessidade de trabalhadores humanos, sendo que em breve terá um robô que ninguém conseguirá diferenciar de um ser vivo. Além disto decifra as plantas, que são de antigas catacumbas que ficam na parte mais profunda da cidade. Curioso em saber o que interessa tanto aos operários, Joh e Rotwang decidem espioná-los usando uma passagem secreta. Ao assistir a uma reunião, onde Maria prega aos operários lhes implorando que rejeitem o uso de violência para melhorar o destino e pensar em termos de amor, dizendo ainda que o Salvador algum dia virá na forma de um mediador. Mas mesmo este menor ato de desafio é muito para Joh, que ouviu a fala na companhia de Rotwang. Assim, Joh ordena que o robô tenha a aparência de Maria e diz para Rotwang escondê-la na sua casa, para que o robô se infiltre entre os operários para semear a discórdia entre eles e destruir a confiança que sentem por Maria. Mas Joh não podia imaginar uma coisa: Freder está apaixonado por Maria”.


Crítica do filme Metrópolis (1927) Por Caio Borges. “Considerado um clássico do cinema, Metrópolis foi o 12° filme a ser dirigido por Fritz Lang. O filme possui uma ótima fotografia. Lang enquadra muito bem as cenas, utilizando, na maioria das vezes, planos abertos, pois trabalha a maior parte do tempo com multidões, além de serem importantes também para representar a dimensão da fábrica, ilustrando todas as máquinas e trabalhadores no desempenhar de suas funções dentro de um mesmo enquadramento, o que também dá destaque para a cenografia da obra. As atuações são bem entregues e todos realizam boas performances, com destaque para o personagem principal de Fröhlich, que possui ótima expressões faciais. Embora estejamos falando de um filme com quase um século de idade, a obra pode ser perfeitamente discutida nos dias de hoje, por se tratar de uma questão que ainda permanece: a desigualdade social, que é claramente representada através dos ricos, que vivem nos céus, como se fosse uma espécie de paraíso, enquanto os pobres se localizam nas profundezas, uma alusão ao inferno.


Além disso, o roteiro também trata de temas complexos como psicologia de massas, a exploração do trabalho e a substituição do homem pelas máquinas. Metrópolis é um filme longo, e embora possua uma boa trilha de fundo, não possui som nos diálogos, o que, em 2019, pode tornar o filme exaustivo para algumas pessoas. Contudo, por se tratar de um dos grandes clássicos da história do cinema, e possuir um roteiro muito bem planejado e executado, trata-se de um filme indispensável para qualquer cinéfilo e entusiasta do cinema de modo geral.

Referências

Adorocinema.com

Entre Planos: Como Metrópolis Revolucionou o Cinema?

 
 
 

1 Comment


fabiovianaradialista
Feb 15, 2020

Excelente análise. Metrópolis é considerado um clássico do expressionismo alemão e também a obra-prima do cineasta alemão Fritz Lang e em 1927 a realidade do cinema ainda era tecnicamente limitada, mas a mente mais que visionária de Lang trouxe um dos primeiros longas-metragem de ficção científica da história da Sétima Arte. Lang fez de Metrópolis um filme ideologicamente absurdo e visualmente improvável para 1927, com uma história que imaginava uma sociedade distópica em 2026, onde o mundo passou por uma revolução industrial/tecnológica. Surgiam os “Ser-Máquina”, muito antes da palavra androide se tornar parte comum do vocabulário da cultura pop. Um legado que permanece presente no cinema, na música, nos quadrinhos e na televisão de grande impacto que gerou várias influências…

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