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Morte e Vida Severina

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 29 de mar. de 2019
  • 5 min de leitura

De João Cabral de Melo Neto.

O poema dramático "Morte e Vida Severina" é a obra-prima do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Escrito entre 1954 e 1955, trata-se de um auto de Natal de temática regionalista. Autor da terceira fase do modernismo na literatura brasileira, ele está na mesma altura de João Guimarães Rosa, mas cada um com suas peculiaridades na criação de suas obras. Considerado o ourives da poesia, pois lapida cada palavra e é obstinado ao compor, um obstinado e perfeccionista e sua obra maior é sem dúvida Morte e Vinda Severina.

Economia, racionalidade, intertextualidade são características da escrita da poesia do autor, é essencial conhecer a idéia da concepção do poema, pois ele fazia um poema para que cada um pudesse tirar sua própria compreensão, embora ele busca muita objetividade para que possa enviar sua própria mensagem, mas a obra não é fechada em si mesma, mas aberta para interpretações.


O título inverte vida e morte por Morte e vida, a vida é sempre Severina, severa, difícil e árdua, sempre tem que driblar a morte para ter a vida, pois logo no início temos um retirante chamado Severino, entre tantos Severinos, com a morte Severina que é morte que se morre de velhice antes dos 30, de emboscada antes dos 20 e de fome um pouco por dia. Severino inicia sua jornada no agreste do Sertão se deparando com a morte, primeiro um morto por bala perdida e depois um velório de um Severino.


Seguindo ele encontra uma rezadeira e questiona sobre emprego e ela diz que a melhor profissão está ligado a morte, pois é o que mais se apresenta nesse sertão, então é melhor aprender a cantar ou rezar e faz uma crítica sobre as pragas, estiagens e o descaso da política e sempre em busca do litoral vai encontrado morte pelo caminho até chegar em Recife. A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada sutis do autor. Assim, ele retrata o enterro de um homem assassinado a mando de latifundiários.


A estrutura é baseada na narrativa de cordel, sete sílabas no verso com alta musicalidade e facilidade de cantar, imitando a literatura oral. O personagem tem uma certa ingenuidade e otimismo, inicia se apresentando, depois encontrando as mortes vai perdendo essa visão, mas continua em frente. Tem um momento em que ele encontra um lugar rico e bom para plantar e novamente ele encontra uma nova morte, mais um velório e mais um Severino. Cada trageto e reza ele tem que passar por uma morte, como mais um obstáculo e nesse pedaço de terra fértil seria a representação do homem sem terra e a ocupação da terra. Num verso em que ele questiona do por que morreu, a mulher fala que ele vai ser enterrado na parte que cabe desse latifúndio.


Chegando no Recife, ele senta no muro que certa um cemitério e escuta um diálogo de 2 coveiros. Um que trabalhava Santo Amaro que é o cemitério da elite e o outro na casa amarela, cemitério para nordestino, retirante e um reclama para o outro e revela que na casa amarela tem muita procura, vem do nordeste em busca de terra e morrem para ficar numa terra seca que já a cova, já o outro trabalha pouco porque não morrem tanta gente. Severino se espanta e acaba todo seu otimismo e começa a pensar na morte, ele decide antecipar seu futuro se matar no mar. Ele vai e encontra na beira mar o José carpinteiro. Aqui é uma referencia direta ao José pai de Jesus, pois essa obra foi encomendando como um auto de natal.


Severino vai perguntar para Hosé qual o sentido da vida, pois não vê nenhum sentido para o imigrante sertanejo. Aqui chegamos no maior niilismo e desânimo do personagem. Como José não te resposta ele pergunta: Será que eu consigo me matar saltando da ponte e da vinda? Nessa hora vem uma mulher correndo e gritando seu filho nasceu, seu filho saltou para dentro da vida.

José carpinteiro vai para uma região bem pobre e assim como na Biblia, ele recebe três homens, como os reis magos, para dar presentes. Um deu um jornal, como não tem cobertor ele deu o jornal par se aquecer, outro com uma semente, outro com uma aguardente para os pais, mostrando toda a simplicidade que envolve esse amor natalino, ao mesmo tempo fazendo uma crítica aos bens materiais de outros autos natalinos e revelando essa simplicidade do poço que não tem nada.


Surgem 2 ciganas que vão ver o futuro dessa criança. Uma cena belíssima. Uma é bem pessimista, e fala que ele será como todos os outros, sujo, todo de preto, no mangue atrás de caranguejo e vejo também sua infância, que vai se acostumar a comer como os bichos e quando crescer também vai comer como os bichos e depois vem a outra cigana e dá outra interpretação, o sujo de preto se refere a graxa, pois irá trabalhar numa fábrica e lugar pela vida, num momento muito lírico, poético e otimista. Mestra carpina, o José Carpinteiro revela que: A Vida respondeu com a própria vida. Apesar das mortes, vale a pena viver a vida,. Apesar de Severina.

Filme

Morte e vida Severina (1977). Roteiro e Direção de Zelito Viana. Um curta metragem musical. Baseado nos célebres poemas de João Cabral de Melo Neto, O Rio e Morte e Vida Severina. Um nordestino (José Dumont) resolve tentar mudar de vida e vai em direção ao litoral e ao sudeste do Brasil,

esperançoso de que no caminha não encontre mais a fome, a miséria e a opressão com as quais foi forçado a se habituar. No entanto, sua jornada provará que encontrar um novo começo é muito mais difícil do que parece. Com Tania Alves, Stenio Garcia, Jofre Soares e Elba Ramalho. Trilha sonora original do filme foi composta por Airton Barbosa, um dos integrantes do Quinteto Villa-Lobos. A música de Chico Buarque também está presente. Participam do álbum os mesmos intérpretes do filme, as cantoras-atrizes Elba Ramalho e Tânia Alves, os atores Jofre Soares, Stenio Garcia, José Dumont e o próprio diretor Zelito Viana. Também estão presentes músicos como Geraldo Azevedo e Kátia de França, entre outros. O resultado em disco não podia melhor tendo ainda a direção artística de Marcus Vinicius e a produção de Marcus Pereira. Filme belíssimo, músicas cantadas pelos próprios atores e ganhador de vários prêmios: Melhor Montagem para Santeiro, Gilberto no Festival de Brasília, 10, 1977, Brasília - DF.; Margarida de Prata da CNBB, 1977 - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Rio de Janeiro, RJ.

 
 
 

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