O Guarani
- Fernando Carlos
- 3 de abr. de 2019
- 10 min de leitura

De José de Alencar.
A obra O Guarani é muito extensa com vários enredos paralelos e portanto é dividida em quatro partes. Para dar mais credibilidade ele coloca personagens reais, como o fidalgo Dom Antônio de Mariz. Personagem histórico relacionada com a fundação do Rio de janeiro, Alvaro de Sá, um bandeirante heróico e para representar os imigrantes ele coloca um imigrante italiano chamado Loredano, que tem um caráter bem duvidoso. Romantismo é uma escola literária que sua sustentação está no folhetim, isso é, uma novela que tende a nunca acabar e que o mocinho ama de paixão a moça e sempre existe algo que impede deles terem amor carnal, dessa forma predomina muito a visão platônica, pois nunca o sexo ou o encontro é concretizado, mas sim subtendido. Para não ficar somente no amor platônico, temos uma personagem, que é a Isabel. Ela é uma agregada, nessa época e na maioria das obras de José de Alencar,sempre teremos a presença de agregados, mas nesse caso, ela é apresentada com uma filha bastarda de uma relação imprópria e mantida na obra como a prima de Cecília, nossa grande heroína loira de olhos verdes.
Primeira parte.

O capítulo inicial é chamado de cenário e é algo que José de Alencar esbanja talento, lirismo e cultura. A obra se passa em 1604, inicio da colonização no Brasil e Alencar vai retirar a descrição da mata, da natureza e das águas da carta de Pero Vaz de Caminha, uma inspiração para descrever o mais real possível a natureza brasileira, associado a uma viagem que ele fez em Olinda – PE numa floresta para se recuperada de uma moléstia que o levou a morte, a Tuberculose. Na serra dos órgãos, próximo ai rio Paquequer Dom Antônio de Mariz recebe a sesmarias e constrói uma casa lá e teremos uma descrição romântica do local em sei páginas, algo impressionante, explorando a cor local Alencar vai citar de forma lírica e poética toda a beleza das árvores da floresta paradisíaca e tudo o mais. A casa de Dom Antônio de Mariz é a única mostra de civilização desse lugar idílico. Ele é o líder dessa região e quem ajudou a fundar o Rio de Janeiro. Casado com Dona Lauriana e pai de sua única filha Cecília, tendo como agregada a prima Isabel. Ele representa o português colonizador. Como chefe da região, todos que trabalham por lá tem que pagar uma porcentagem de seus ganhos para o Dom.

Nessa casa vão chegar os bandeirantes, homens que estão desbravando o Brasil para encontrar riquezas. Eles estão saindo da serra do Paraíba para chegar a tal casa e são liderado por Álvaro de Sá, um jovem de 28 anos, com caráter forte, índole positiva e um homem corajoso. Com ele vem um personagem meio sombrio e esquisito chamado Loredano, imigrante italiano, com postura cínica e irônica frente aos demais e aqui fica demonstrado o maniqueísmo de Alencar, polarizando um personagem bem positivo e outro bem negativo.
No trajeto os bandeirantes vão encontrar o nosso verdadeiro Heroi, o índio Peri venstindo uma camiseta de algodão branca e uma pena na cabeça. Essa história de um índio de camiseta pegou muito mal. O fato é que o Ceará, terra do autor, era o maior exportador de algodão para a Inglaterra, mas um índio no meio da selva de camiseta? Mas enfim, nossos índios não usavam nada, todos nus. Ele era da tribo Guarani, outro erro histórico, pois essa tribo não vivia nessa região, além do que eles eram canibais, portanto temos uma liberdade poética. Voltando para a cena, o que acontece é que existia uma onça espreitando os bandeirantes, pari aparece para desviar a atenção da onça, para que nada aconteça com os viajantes nem com a onça, mostrando como ele é uma pessoa heróica, corajosa e altamente brava, isto é, todos os valores positivos que uma pessoa possa adquirir, sem falar da beleza e porte físico.

Depois que ele “liberta” os bandeirantes do perigo da onça, ele volta para caçar essa mesma onça. O fato é que ele é apaionado por uma menina muito mimada, a filha de Dom, Antônio, a Cecília. Ela uma vez disse ao índio que queria ver uma onça de perto e portanto, como ele é subserviente a moça, faz tudo que ela deseja como um escravo, ele caça essa onça para elá-la a casa de Cecília poder apreciar o animal de perto.
Cecília é a típica mocinha dos romances do romantismo, sonhadora, inquieta e vivaz, cheia de pudores e uma perfeita mulher prendada, caseira e muito bem educada. Ela está sonhando com um príncipe encantado e nesse sonho aparece um selvagem que a assusta. A relação de Peri por Cecília é platônica e entrega total, quer dizer, ele a deseja faça o que ela fizer, sem defeitos, desejo total pela moça, mas ela em relação a ele não é assim, existe uma dualidade. Ao mesmo tempo em que ela o ama, sente repúdio, um certo asco por ele ser um selvagem, mas ela abusa desse amor que ele sente por ela. Ela faz dele seu brinquedo ou sua diversão.

O outro filho de Dom Antônio foi, certo dia, caçar passarinho e sem querer acertou e matou uma índia da tribo dos aimorés. Como todos sabem os índios são altamente vingativos e portanto nessa primeira parte da história, eles estão em pé de guerra. Todos na casa estão preparados para uma possível retaliação dos índios em busca de vingança e é nesse clima que chegam os bandeirantes. Álvares de Sá já é conhecido pela família e ele é apaixonado por Cecília e foi lá especificamente para dar um presente a moça mais cobiçada da obra. Ele entrega jóias como presente, mas Cicília recusa, não se interessa, mas ele insiste em dar tais presentes e vai até a janela da moça e deixa lá escondido. O fato é que Loredano também tem afeto por Cecília, vejam que já soua três homens apaixonados por Cecília e nenhum por Isabel, sua prima. Loredano pega todos os presentes da janela e joga num precipício. Quem observa tudo é Peri que resgata os presentes. Esse capítulo se chama 3 linhas, pois temos três amantes, o amor romântico de Álvaro de Sá, um amor idealizado e platônico de Peri em contraste com um amor mais carnal de Loredano.

Izabel, a mestiça de índio com português (provavelmente filha de Dom Antônio), prima de Cecília, que não é amada por ninguém, mas ama Alvaro de Sá, que ama Cecília, a mulher cobiçada e também vê sua paixão colocando os presentes recusados para sua prima, fica bastante deprimida e no final dessa parte ela revela a Cecília seu amor por Alvaro de Sá.
Parte 2
Essa parte faz um retrocesso, isto é, o enredo volta no tempo e conta como tudo que relatamos aconteceu de fato e quem é quem, enfim, como e deu as coisas.

Aqui temos a história de Loredamo. Tudo começa com uma confissão de um desbravador em busca de riquezas chamado Fernão Aires que matou o dono de um mapa do tesouro para roubar, mas agora no seu leito de morte, arrependido chama um Frei Angelo de Luca (cujop nome real é Loredano) e pede que devolva esse mapa do tesouro para uma parenta do falecido, mas é claro que depois da morte é o Loredano, o tal frei que fica com o mapa e vai para o Rio de Janeiro em busca do tesouro.
Também teremos como iniciou o encontro entre Pari e Cecília. Ela estava próxima a um precipício se refrescando quando uma enorme pedra começa a rola em direção e ela que, distraída, não percebe e Peri com sua bravura e força descomunal, vai em direção a pedra, intercepta a tal pedra, segura com as mãos e salva a vida de Cecília. Seu pai fica enormemente agradecido pela bravura do guerreiro e permite que ele fique aos redores da casa, já que não era comum um “bugre” rodear a casa dos portugueses, mas esse era a exceção dos demais.

Na verdade Peri poderia pedir muito mais, ou quase tudo, o fato é que ele revela que um dia sonhou com uma santa branca muito bonita e jurou que quando encontrasse alguém muito parecida também iria protegê-la. O fato é que ele é muito inferior a Cecília e ele sente essa desigualdade, mas por esse amor que sente pela moça, será seu protetor a vida toda, ele vai salvar a Cecília mais 4 vezes durante a obra e Cecília não retribui com nenhum carinho ou demonstração de que ela é agradecida, como ela foi colocada no altar de uma santa, ela aproveita da situação. Ela mesma sente repulsa do índio, pois sua mãe Dona Laureana é francamente racista e não gostava de índio algum, nem desse que salvou sua filha. Quando o pai pediu para que Peri frequentasse a casa, Cecília não gostou, ela não gostava desse índio e repudiava.

Peri aprendeu português numa velocidade recorde, em apenas três meses e começou a chamar Cecília de Ceci, que na língua deles significa “Dor,” pois ele sabia que ela o repudiava, então muito analistas da obra entendem que o autor José de Alencar não coloca de imediato esse amor por Cecília por Peri, devido aos costumes da época de repudiar esse tipo de relacionamento, mas na obra é isso mesmo, ela o repudia e ele sente um grande amor e devoção, mesmo sentindo dor. Dona Lauriana aproveita que o Peri trouxe uma onça para Cecília, pede para seu marido expulsar o índio e ele o faz e3 diz: - Eu te expulso da minha casa porque não compartilhamos o mesmo berço. Peri é expulso da casa e assim fechamos a segunda parte.

Parte 3
Nessa parte existe todo um preparo para a defesa do ataque indígena e com a chegada dos bravos bandeirantes na casa, fica um contingente mais forte para enfrentar os Aimorés e Dom Antônio oferece a mão de sua filha Cecília como moeda de troca pela ajuda do líder dos bandeirantes Álvaro de Sá. Isabel fica sabendo e fica arrasada. Existe um grande conflito de interesses, pois por mais que Sá tem uma queda pela Cecília, seu presentes foram rejeitados e portanto ele não está tão afim agora, já que existe um certo bril de macho.

Inicialmente retira Diogo da casa, o assassino da índia dos aimorés, mandando-o para o Rio de Janeiro. Com a saída de Diogo, Loredano começa a tirar as manguinhas de fora e mostrar quem realmente ele é. Ele invade a casa em busca do tesouro e encontra Cecília no quarto. Ela acorda com a respiração de Loredano que mostra sua excitação e parte para cima dela, tentando estuprá-la, mas eis que entra pela janela Peri e ambos saem na luta e ele salva novamente Cecília desse ataque estúpido. Dom Antônio descobre a verdadeira intenção de Loredano e do ataque a sua filha decide matá-lo e todos que estiverem com ele irão morrer. Loredano diz que concorda, mas que agora não é o momento,. Pois estão na iminência de um ataque dos Aimorés e vão precisar unir forças na luta. A condenação é adiada, mas o ataque se inicia e Peri toma uma atitude inesperada, ele se entrega aos índios bolando um plano. Sabendo que todos são canibais, ele toma veneno e quando os índios comerem sua carne morrerão também.

Isso é algo inexplicável. Um índio não se entrega por perder a honra e mesmo que ele se entregar, os canibais não comeriam a carne dele, pois eles só comem a carne de guerreiros valentes que foram capturados em batalha. Ele vai diante da tribo inimiga a se ajoelha por amo9r a Cecília, para não atiçar a raiva dos Aimorés. Isso seria uma demonstração de que ele se converteu como cristão.
Cecília tentou fazer Peri rezar, mas ele não aceitava de forma alguma, pois ele tinha sua religião, mas ao deixar a honra de lado e se entregar e não lutar contra os índios mostra que o amor por Cecília é muito maior que manter sua honra e dignidade e também que ele á mais católico que um convertido, já que todos os convertidos vão para a guerra.

Parte 4
Peri é preso pelos índios e eles oferecem uma índia para deitar-se com Pari, que não aceita, pois somente a Cecília está em sua mente. Ele escuta um grito ao longe e vê Cecília no alto de um penhasco. Como ele já havia tomado o veneno para morrer e matar os outros índios, com a visão de Cecília ele tenta expelir o veneno, pois essa visão deu desejo de continuar vivo, mas depois de eliminar o veneno, ele acaba dormindo. Aparece o bandeirante Álvaro de Sá para guerrear, mas é atingido por uma flechada e morre na frente de Peri, que acorda e se deparar com o Alvaro morto. Sua missão é pegar o corpo de Alvaro e levá-lo para Isabel, pois ela já havia contado para sua prima Cecília que o amava e ela já havia dado consentimento para ficar com Alvaro, que por sua vez também tinha aceitado o amor da Isabel. Essa missão de levar o corpo para a mulher que o amava é descrita com uma tristeza enorme. Também foi revelado que ela, Isabel, era de fato filha de Dom Antônio, portanto esse casamento seria uma gloria, se não fosse essa tragédia.

Ao chegar com o corpo de Alvaro, Isabel não se contem e busca a morte também e aqui é uma referência explícita a obra de Willian Shakespeare Romeu e Julieta, ela pede para ficar algum tempo sozinho com seu futuro marido morto. Ela o leva para seu quarto e acende várias velas aromáticas venenosas e busca respirar esse veneno para morrer e fala com o defunto: “Alvaro, meu amor, diga alguma coisa...” Nesse momento ele abre os olhos, mas ambos morrem envenenados pela fumaça aromática.
Inicia o ataque na casa pelo Aimorés e como tem muita pólvora no porão da casa, Dom Antônio pede para que Peri pegue sua filha e a leve para bem longe, pois caso aconteça o pior, a casa seria explodida com todos dentro e ela se salvaria, já que o outro filho estaria no Rio de Janeiro e assim Peri o faz.

Enquanto a casa pega fogo, começa um temporal e as águas do rio Paquequer começam a inundar tudo e eles precisam de algo para se salvar da inundação. Com a força hercúria, Peri arranca a maior árvore da selva e ambos sobem no tronco e são levados rio abaixo. Alencar coloca que Dom Antônio antes dele entregar sua filha nas mãos de Peri ele se converte ao catolicismo para ter sentido o final, embora ele deixa em aberto se os dois ficarão juntos, já quer como jjá falamos, a sociedade carioca não iria aceitar com bons olhos um casamento entre uma portuguesa com um indígena. Na sua obra maior que viria depois dessa, também indianista chamada de Iracema, o casamento se concretiza e o casal tem filhos no final, mas aqui ainda fica em aberto.

Filme
O Guarani (1997) com produção e direção de Norma Bengell. Peri (Marcio Garcia) é um jovem índio goitacá, brasileiro que se apaixona por uma bela jovem portuguesa chamada Ceci (Tatiana Issa). Um romance proibido que desafia as barreiras da cultura através da devoção e o amor de Peri por Ceci, que fazia tudo para salvar a amada. Os dois decidem fugir juntos para o meio da floresta mas são surpreendidos por uma tempestade.
Baseado no clássico de José de Alencar temos um roteiro de José Joffile titubiante, pois foge para um romantismo exagerado da obra original, sem nuances, embora Tatiana Issa está perfeita no seu papel, o ator Marcio Garcia é uma decepção, além do fato do roteirista colocar uma paixão

dela, sem que isso fique explícito na obra original, tornando o filme algo raso de se analisar. Trilha sonora de Carlos Gomes e Wagner Tiso sensacional, mas a crítica especializada considera um dos maiores fiascos da produção do cinema nacional, que custou o olho da cara aos cofres do tesouro nacional. Temos cenas belíssimas e interpretações de Gloria Pires e José Abreu excelentes, mas no geral o filme é fraco. As cenas de luta bem caricatas e o desenrolar da trama bastante confusa. Nota 2.
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