O Jardim das Aflições.
- Fernando Carlos
- 29 de mai. de 2019
- 15 min de leitura

Olavo de Carvalho.
O Jardim das Aflições - De Epicuro à ressurreição de César: ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil é um livro publicado em 1995. O Jardim das Aflições juntamente com as outras obras, A Nova Era e a Revolução Cultural (1994) e O Imbecil Coletivo (1996), compõem uma trilogia daquilo que o autor considera como “obras de combate”. Hoje está listado entre os 100 mais vendidos na temática Política e Ciências Sociais, sendo o segundo livro do autor com maior expressividade comercial na plataforma. O livro inspirou um filme que leva o mesmo nome lançado em 2017dirigido pelo cineasta pernambucano Josias Teófilo com produção executiva de Matheus Bazzo. O financiamento foi coletivo, inédito no Brasil e arrecadaram 315 mil reais entre cerca de 2800 indivíduos na intenção de fugir do financiamento público. Basicamente temos o Sr. Olavo de Carvalho falando sobre o que ele pensa sobre o livro que ele escreveu, a questão do Jardim de Epicuro fazendo um paralelo com o Jardim do Edem e a relação indivíduo versus coletivo e a Teoria do Estado — elaborada a partir do debate Os EUA e a Nova Ordem Mundial, com o acadêmico russo Alexsandr Dughin em 2011, sobre a posição dos EUA no século XXI. Também é tratada a relação entre poder e simbolismo e a degradação cultural com trilhja sonora a Sinfonia número 1 de Jean Sibelius.

O documentário depois de pronto teve uma repercussão negativa e polêmica. Do que assunto tratava esse documentário? Para muitos era político e nada tinha haver com o livro e Epicuro, para o diretor era tratar de filosofia com seriedade, fato que discordo e portanto ele não foi aceito em nenhum festival e portanto sua estréia foi nos EUA, Virginia em 2017 e depois foi o grande vencedor na 21ª edição do Cine PE realizado em 3 de julho de 2017, na categoria melhor longa-metragem, além de também conquistar o troféu Calunga de melhor montagem.
Eu fui ler o livro por se tratar de filosofia, especificamente Epicuro. Polêmico, autoral, sem referências bibliográficas e fora das conformidades exigidas para compor um livro acadêmico, por ter suas referencias a opinião pessoal do autor e deve ser analisado por capítulos, devido sua complexidade e abrangência do tema.
No capítulo I o autor Olavo de Carvalho explica que participou do ciclo sobre Ética e faz uma crítica sobre o que assistiu sobre a Ética do pensamento Epicurista no MASP na década de 90 encabeçado pelo filósofo e professor da USP José Américo Motta Pessanha.

O autor ficou indignado, pois para falar de Ética, deveria abordar os gregos mais fundamentais, Platão e Aristóteles, por exemplo e o foco ficou principalmente na idéia de Pessanha em trabalhar a ética de Epicuro, sendo que Olavo de Carvalho tem muitas ressalvas sobre Pessanha, popis ele foi quem organizou a coleção Os Pensadores e para Olavo, não foi dada uma abordagem completa para os filósofos de forma justa e nessa palestra, Pessanha estava preocupado em moldar o futuro e não pensar o passado. Para Olavo, ele manipulou ao escolher um filósofo menor dentro os maiores para se discutir ética voltado para o futuro. Ele afirma que o grupo de Pessanha não estava em busca da verdade, do real, mas sim fabricá-lo.
O fato é que Epicuro é um dos mais importantes, senão o mais importante filósofo grego helenista e defende o materialismo e entende a realidade como uma forma de captar o real através dos sentidos e nosso intelecto formular. (Adendo 2)

Do capítulo dois até o capítulo seis Olavo de Carvalho vai tratar de Epicuro, sua filosofia, ética e a tese de Marx sobre esse filósofo e durante as apresentações da teoria, o autor vai fazendo suas digressões para os dias de hoje e eu ficarei focado apenas no que diz respeito a Epicuro e as entrevistas de Olavo de Carvalho sobre esse livro.
Logo no segundo capítulo, intitula somente por Epicuro. Aqui se trata de confrontar o pensamento de Epicuro em relação a outros pensadores como Santo Agostinho. Logo de início ele cita “As delícias do jardim” referente ao jardim de Epicuro (Adendo 3) em que ele distorce as palavras para dar o nome de seu livro “O jardim das aflições” pois foi depois dessa palestra que Olavo de Carvalho entrou em aflição. Epicuro é materialista, como Olavo citou, mas devemos nos referir que ele na verdade é atomista, seguidor da escola de Demócrito e ele não era totalmente ateu, pois acreditava nos deuses, mas não na morte. Sua citação ao pensamento de Santo Agostinho como adversário ferrenho a Epicuro, sobre a bondade de Deus com a existência do mal no mundo não tem nenhuma relevância ao que Epicuro não nega, mas recomenda que não tenhamos medo. Outra ironia é sobre o jardim, onde os discípulos ficam em estado contemplativo, de forma não alienada, mas buscando a atarexia (Adendo2) sem nenhum propósito para combater a corrupção como ironiza Olavo de Carvalho, sem considerar que o momento histórico de

Epicuro é justamente o governo opressivo em que viviam sob o império de Alexandre o grande.
O que mais me revoltou é a manipulação ou má fé de Olavo de Carvalho em citar as palavras de Epicuro sobre o fato de ele dizer que os deuses nada fazem para nós, realmente ele diz isso, não influenciam em nada aqui na terra, mas no sentido de não ter que se amedrontar com tais deuses. Ele não critica nenhum Deus. Sobre a busca do prazer, ele super valorizou e não é isso que Epicuro fala, pelo contrário, ele fala da felicidade e da apraxia ou o prazer sem perturbações.
Sobre a ética Pessanha realmente afirma que Epicuro condena a ética de Demócrito por ser determinista e não conservadora como Olavo fala e apóia uma ética onde os seres humanos podem ser donos de seu destino, ao que Olavo de Carvalho a chama de progressista, dando uma conotação marxista e desdenhada e faz uma analogia sem pé nem cabeça: “Aceitar a física de Epicuro por ser progressista é o mesmo que rejeitar a de Einstein por ser judaica”. AQ física de Epicuro refuta a de Demócrito, que afirma que os átomos “caem “ em linha reta e linhas paralelas e Epicuro diz que eles não poderiam ser sempre paralelas, pois nunca se encontrariam, mas sim, inclinam para o lado (Clinamen) e dessa forma deixa de ser totalmente determinista. Olavo leva isso a outras esferas: se os átomos seguem o clinamen, não são livres: obedecem ao determinismo do instinto. Ele discorda de Epicuro pelo fato de que fugir da dor e buscar o prazer não impede de que o sujeito seja determinado, seja manipulável: “Quem disse que buscar o prazer e evitar a dor”, mas não é isso que Epicuro diz, uma coisa não está atrelada a outra. A busca do prazer é um dos tetafármacos independente da fuga da dor, que é outro. Depois ele cita Pavlov que dizia exatamente o contrário: o binômio dor-prazer é usado para o determinismo, mas isso não tem nada haver com o que diz Epicuro. Outra citação inapropriada que não condiz com a filosofia epicurista é filósofo Alain, teórico do Partido Radical francês, que tornou célebre a condenação do “clinamen” em nome da liberdade: “Os homens são dóceis e manipuláveis, justamente porque buscam o prazer e fogem da dor”, mas não é isso que Epicuro prega em sua ética, pelo contrário, ele prega o desapego aos bens materiais e ao poder justamente para não ficarem a mercê da manipulação.

Como podemos ver, a filosofia de Epicuro nada tem haver com manipulação, determinismo, ou sequer alienação ou um projeto para acabar com a corrupção, pelo contrário, é introspcção, conscientização, auto-conhecimento e não sei por que Olavo de Carvalho ficou tão aflito com o Jardim de Epicuro. Segundo Olavo, que interpreta Pessanha, afirma que a ética de Epicuro é contrária a física, uma desmente a outra e que em última instância a física é só uma propaganda, ela é falsa. Na visão de Pessanha, a física que Epicuro diz para os outros não seria a física verdadeira e portanto Olavo descobre que é uma propaganda, que está Pessanha está tentando seduzir o aluno a uma prática proposta por Pessanha a sua ética, mas Olavo diz que essa ética também não é uma ética, é só uma prática e não dá para chamar de ética, porque a prática envolve o tetrafármaco, assunto para o terceiro capítulo.

No decorrer do livro ele fala do tetrafármaco. Epicuro busca a felicidade e propõe a prática utilizado esses quatro conselhos, que para Olavo é uma tentativa de enganar io sujeito que está vivendo uma época de decadência e está bastante infeliz e já que a filosofia de Epicuro é a busca da felicidade, então que se busque o tetrafármaco, mas Olavo colocar outros assuntos que não condiz com o que a filosofia de Epiciro prediz. Ele fala em neurolinguistica, técnicas atuais de psicologia, troca de idéias ruins por idéias boas, etc. Esse tetrafármaco é o primeiro livro de auto-ajuda nos moldes atuais e para Olavo é um germe dessa coisinha que depois acabou se transformando na tese do Marx de que os filósofos até agora interpretaram o mundo, mas chegou a hora de transformá-lo. Epicuro vivia numa época de grande repressão e propunha que se o mundo é hostil, vamos nos transformar a nós mesmos.

Olavo de Carvalho vai pegar justamente esse fato de que o homem de Epicuro vai transformar a si mesmo e o mundo ao seu redor pensando somente ns sua própria filosofia e traz essa análise para os dias atuais, mas ele coloca que Epicuro quer na verdade que a pessoa se auto engane para ser feliz, no caso nosso, Olavo diz que o Antônio Gramsci quer te enganar para que você faça a revolução comunista, pois ele diz exatamente assim; “ você deve se sentir, agir e pensar como se vc fosse um comunista.” Mas o leitor deve se perguntar: O que tem haver Epicuro com Gramsci? Pois é, uma das teses de Karl Marx foi justamente a ética de Demócrito e Epicuro (Adendo 1).

Olavo diz que o pensamento de Marx é que não devemos entender as coisas, mas sim transformá-las e ele se levanta contra essa tese de Marx, isto é, através de palavras e teorias decidir que não é mais interpretar o mundo e sim transformar o mundo através de sua teoria, através das suas palavras.
Olavo diz quer o Epicurismo dentro das palestras é uma auto hipnose e sair das palestras como um sonâmbulo tendo sonhos bons, imune contra a realidade de certa forma, já que a realidade é ruim. Isso para Olavo fragiliza muito as pessoas e quando você toma essa decisão de jogar fora essa interpretação de mundo em detrimento de sua própria felicidade ou até de mudar o mundo como quer o Gramsci isso deixa você totalmente vulnerável a todos os tipos de manipulações. Para Olavo de Carvalho, mais grave que a história da Bomba atômica é a possibilidade da manipulação mental em massa e isso faz parte do jogo atual, que é algo justo e é essa a preocupação de Olavo de Carvalho, nos alertar desse risco que todos corremos.

Para ele, o Pessanha e seu grupo militante gramscista tinha um único interesse nas suas palestras, não descobrir o real, mas sim fabricá-la, que é o Epicurismo e o que é o que Gramsci propôs. Com isso, a idéia era depor o então presidente Fernando Caollor de melo e colocar a esquerda por décadas.
A partir do capítulo sete, inserido na parte III ou livro IiI como ele prefere, Olavo de Carvalho vai fazer sua análise pessoal do que ele percebe da filosofia de Epicuro influenciando a visão de mundo no Brasil, mas os assuntos vão variar muito do foco inicial e como se diz no documentário baseado nesse livro, Olavo escreve de forma espiral, isto é, ele pega um assunto e vai para outro e para outro ainda numa forma de espiral sem chegar novamente a uma conclusão de fechamento, mas o que se pode visualizar a partir daqui é que ele vai analisando o mundo como Hegel analisou a filosofia, como uma linha do tempo e desenvolvimento.
Ele pega na antiguidade o grande e vasto Império Romano e torna essa idéia de império como um objetivo a se alcançar. Com a decadência do império e derrocada total do poder central em Roma, entramos na Idade Média com a fragmentação do poder e para Olavo de Carvalho criou-se um vácuo de poder e uma tentativa sempre presente de se voltar ao estágio anterior,. Isto é, de haver um modo de buscar a tomada de poder de alguma forma no sentido de centralizar tal poder em um único centro.

A igreja católica foi sem dúvida alguma um pólo centralizador durante a Idade Média, mas com a crescente expansão islâmica esse poder foi ameaçado, portanto nem a Igreja católica se manteve coesa, já que durante o renascimento, surge o protestantismo com Martinho Lutero e depois o calvinismo, portanto a idade média foi um período onde o poder circulou em vários pólos.
Notadamente a obra demonstra um processo de conspiração para se dominar as mentes dóceis e vulneráveis de todo o mundo para que os Homens sejam doutrinados e se tornem inconscientemente coministas e isso se chama teoria conspiratória.

Em entrevista a jornalistas, Olavo de Carvalho fala abertamente que foi filiado ao Partido dos Trabalhadores logo depois da sua formação e dentre os documentos existe sim a teoria de Antônio Gramsci e a aplicação do marxismo cultutal. Dessa forma, através de intelecutais infiltrados em setores estratégicos deveriam divulgar o marxismo como uma coisa boa para a população e sem que ninguém perceba, todas as pessoas que tivessem sob o alcance desses intelectuais fossem absorvendo o ideal comunista. Claro que isso é a teoria de Olavo de Carvalho, que utiliza uma extensa Bibliografia para sustentar sua teoria, na terceira edição preenche nada mais nada menos que dezoito páginas somente com os títulos de obras, que vão desde a coletânea de pessanha ”Os Pensadores” citada aqui, passando por sua própria obra,. Queer dizer, ele se cita: “A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci, Rio, IAL & Stella Cay mmi, 1994” até Russel Chandler que trata justamente da nova era “Compreendendo a Nova Era, trad. João Marques Bentes, São Paulo, Bompastor, 1993” e obviamente não poderia faltar Antonio Gramsci suas obras mais importantes: “A Concepção Dialética da História, Rio, Civilização Brasileira, 1986” e “Os Intelectuais e a Organização da Cultura, Rio, Civilização Brasileira, 1968”.

Os fatos podem falar a favor da obra, mas não exatamente como ele previu, já que até ele escrever a Nova Era, seus livros eram somente sobre Astrologia, mas mesmo assim devemos refletir que não era uma previsão tão magistral, já que se o partido dos trabalhadores subisse no poder, realmente o marxismo cultural estava previsto dentro do programa do partudo.
O fato é que depois da década de 80, que tivemos a redemocratização, sobe ao poder Fernando Collor de Melo, que teve impeachment em outubro de 1992 e sobe o vice-presidente Itamar Franco assume provisoriamente o governo e começa a escolher sua equipe ministerial o que teremos seu sucessor que era o ministro da economia Fernando Henrique Cardoso que conseguiu se eleger e se re-eleger, sendo que o que Olavo de Carvalho temia é que a esquerda tomasse o poder, coisa que somente ocorreu em 2003 com a vitória de Luiz Inácio lula da Silva, isto é, oito anos após a publicação dessa obra agora, se ele previu e se acontece realmente essa teoria conspiratória do marxismo cultural proposto por Gramsci e pelo PT, isso não é provável na minha humilde opinião, embora ele tenha milhares de seguidores nos dias de hoje que o consideram seu guru devido esta e outras obras que focam exatamente essa teoria e fica a critério de cada um ser um leitor atento e observador cético o suficiente para poder analisar e concluir..

Adendos.
Adendo 1 – Tese de Karl Marx sobre Demócrito e Epicuro.
Depois de sua graduação, Marx defendeu seu doutorado para poder ministrar aulas na Alemanha. Aluno de Hegel buscou diferenciar os pontos de vista de dois atomistas, filósofos que acreditavam que tudo no real era feito da união de pequenas partículas indivisíveis chamada de átomo, que ao se juntarem formavam as coisa e a premissa é que existiria o nada (vácuo) e os átomos. Demócrito de Abdera (460 a.C. - 370 a.C.) é considerado um filósofo pré-socrático grego e agrupado nessa escola atomista iniciada por Leucipo, buscavam de maneira racional e lógica uma explicação a respeito do princípio de todas as coisas. Ele considerava que tais partículas “caiam” e ao se encontrar com outras formavam tudo que vemos e sentimos, mas para ele a realidade era apenas a matéria e portanto não era impossível ser inteligível.

A concepção de ética não tem relação com as concepções físicas. Para ele o mais nobre bem que uma pessoa pode ter é a felicidade, que mora somente na alma, independente de se possuir bens materiais. A justiça e a razão é que nos torna felizes.
Demócrito faleceu no ano de 370 a. C. Posteriormente o principal discípulo que recebeu sua influência foi Epicuro de Samos (341 a.C – 271 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga, o fundador do “Epicurismo” – sistema filosófico que proclama o prazer obtido mediante a prática da virtude como o único bem superior do homem. O que Marx distingue dos dois é justamente o fato de que Epicuro não vê o determinismo no encontro dos átomos. Sua crítica se refere ao movimento de queda dos átomos que seguem, uma linha paralela, já para Epicuro existe uma inclinação na queda, fazendo co que os átomos se misturem entre si ao se chocarem. Dessa forma muda muita coisa, pois vai entrar o acaso, as várias possibilidades de combinações e portanto sua ética também é alterada. Outro ponto fundamental é que para Epicuro, o que é real é o que sentimos em relação a matéria, isto é, nossos 5 sentidos entrando em contato com a matéria leva tais informações para o intelecto e formamos opiniões do que é a realidade a partir da matéria, isto significa que a realidade é o que nosso intelecto formula, diferente de Demócrito que dizia que seria impossível ser percebidos pelos sentidos, podendo ser concebidos somente pelo pensamento.

Adendo 2 - A ética de Epicuro se baseia no seu modo de vida. Epicuro, assim como seu antecessor, buscava o prazer na ética, a felicidade, mas ele acreditava existir apenas o excesso e o mínimo. Sua crítica é que a felicidade se contabilizava em ter a maior quantidade de bens materiais, riqueza e poder, mas não era isso que ele pregava, pelo contrário, para ele a busca excessiva desses bens materiais, levava a insatisfação e prazeres supérfluos e essa felicidade efêmera era irreal. Ele criou sua doutrina contra a superstição e acúmulo de bens materiais. A matéria teria que ter uma utilidade objetiva e nenhuma teoria é válida se também não possuir um objetivo moral, o qual não possa ser aplicado na vida prática. A Felicidade é alcançada com a busca do equilíbrio da aquisição das coisas materiais entre o que é realmente necessário e o supérfluo descartado, controle dos medos e dos desejos, de maneira que seja possível chegar à ataraxia (não agitação, não excitação), dessa forma mantendo um estado de prazer estável e equilibrado e, consequentemente, a um estado de tranquilidade e a ausência de perturbações. Para ele existem necessidades naturais e essenciais como a necessidade de se alimentar, por exemplo , necessidades naturais e não essenciais, como o sexo e necessidades não naturais e muito menos essenciais como a riqueza. Segundo Epicuro, a posse de poucos bens materiais e a não obtenção de cargos públicos proporcionam uma vida feliz e repleta de tranquilidade interior, visto que essas coisas trazem variadas perturbações (tarexia). Por isso, as condições necessárias para a boa saúde da alma estão na humildade. Ele construiu em sua casa um jardim para que os seus alunos possam pensar, viver e interagir e obter prazer. Epicuro é um filósofo pós Aristotélico que teve o maio número de seguidores e portanto suas obras passam de 300 manuscritos de seus discípulos e ele está classificado como helenista.

Adendo 3. O quatro fármacos de Epicuro.
Epicuro cria 4 “remédios”:
1. Não se deve temer os deuses;
2. Não se deve temer a morte;
3. O Bem não é difícil de se alcançar;
4. Os males não são difíceis de suportar.
Hegel estuda Epicuro e o considera o primeiro psicólogo do mundo, pois ele prescreve medidas para ser feliz, uma forma de auto-análise. Ele é de fato materialista, mas não efetivamente ateu e isso é muito controverso. Para nosso autor, existem deuses de fato, mas o que são deuses? São seres perfeitos, que podem estar ou não ligados a criação, ou junção dos átomos ou não. Jamais saberemos. O fato é que eles são tão perfeitos e nós tão imperfeitos, cheio de dúvidas, lamentações e dores que para tais seres perfeitos nós não somos de interesse para eles e, portanto sua função seria somente causar medo na gente, portanto o que ele recomenda é que não devemos sentir medo algum dos deuses.

O que é a morte para Epicuro, sendo um materialista? Ele não fala que é o fim da alma não, mas fala que quando morremos não estamos mais aqui. A morte é a ausência da nossa existência, é o não estar e portanto e não estamos na morte, por que temê-la?
Se a felicidade se alcança através de poucas coisas materiais em detrimento da excessiva da riqueza exagerada ou um poder a custa de tudo, então o bem não será difícil buscar, pois a felicidade está na natureza, é portanto natural. No entanto é necessário saber escolher de modo que se evite os prazeres que causam maiores dores; quando o homem não sabe escolher, surge a dor e a infelicidade.
Em relação a dor e, me parece que Epicuro sofria com violentas cólicas renais, ele coloca que se uma pessoa tem uma dor insuportável por longo tempo, acaba morrendo e como a morte é o não estar, não há dor no mundo que não se possa suportar, pois se não suportar,. Morrerá e a dor findará. A virtude subordinada ao prazer só pode ser alcançada pelos seguintes itens:
Inteligência – a prudência, o ponderamento que busca o verdadeiro prazer e evita a dor;
Raciocínio – reflete sobre os ponderamentos levantados para conhecer qual prazer é mais vantajoso, qual deve ser suportado, qual pode atribuir um prazer maior, etc. O prazer como forma de suprimir a dor é um bem absoluto, pois não pode ser acrescentado a ele nenhum maior ou novo prazer.

Autodomínio – evita o que é supérfluo, como bens materiais, cultura sofisticada e participação política;
Justiça – deve ser buscada pelos frutos que produz, pois foi estipulada para que não haja prejuízo entre os homens.
Adendo 3 - Os jardins da felicidade. Epicuro soube buscar o equilíbrio e se manter bem financeiramente e em sua casa ele criou um jardim em que todos os seus discípulos pudessem usufruir se seguissem sua doutrina, dessa forma, os jardins da felicidade seria “a comunidade dos discípulos de Epicuro, que ficava na sua casa e reinava a alegria e a vida simples e todos poderiam usufruir de tudo que houvesse nesse jardim, inclusive a cama. A amizade era o melhor dos sentimentos, pois proporcionava a correção das faltas uns dos outros, permitindo as suas correções. Com isso, a moral epicurista é baseada na propagação de suas ações, sendo o exemplo vivo da doutrina que proferia”. (Por João Francisco P. Cabral)
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