O Morro dos Ventos Uivantes
- Fernando Carlos
- 16 de nov. de 2019
- 10 min de leitura

O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering heights)
Obra clássica, que não tem uma classificação específica, devido a diversidade de temas, modo de escrever, enredo e profundidade psicológica dos personagens, mas escrito em 1847 por Emily Brontê e pela dramaticidade do romance, seria classificado ao ultra romantismo, embora na trama temos o sobrenatural, lembrando a literatura gótica da era Vitoriana, muita tragédia e o amor impossível deixando claro que é uma obra prima e única, mas que influenciou diretamente Drácula.

Uma das coisas fundamentais é a genialidade da autora, primeiro por ser uma mulher, numa época moralista e viver reclusa na casa do seu pai, que era pastor cristão da Igreja Anglicana tendo mais duas irmãs, que também escreviam e um irmão degradado pela bebida e maus costumes, era um imprestável, tanto que morreu jovem devido complicações de sua vida desregrada, mas com poucos mais de 20 anos, escreveu essa obra prima que, muitos duvidaram que ela fosse à autora. Poucos anos depois da publicação do livre ela vem a falecer.
Uma obra extremamente complexa, dividida em duas partes, tem como narrador a criada da casa e vou tentar elencar as passagens mais importantes para a análise posterior.
Num dia de nevasca, um cidadão pede ajuda e abrigo numa casa grande de uma fazenda, que é acolhido, mas mal tratado, no sentido de se sentir que o dono da casa é alguém tosco, frio e grosso. Pouco falava e nada expressava além de um grande descaso pela visita inesperada. Foi mandado para um quarto para dormir e durante a noite ele escuta uma voz de mulher pedindo ajuda pela janela do seu quanto, que era no andar de cima, ele acorda assustado e abre a janela, mas ventava muito e ele pensou que fossem galhos de árvore batendo no vidro e decidiu fechar e dormir, mas quando ele coloca as mãos para fora, seus punhos são agarrados por uma mão de mulher e está muito fria, ele olha e vê uma jovem de uns 20 anos do lado de fora, branca como a neve e com olha desesperado e começa a pedia socorro.

O proprietário chamado de Heathcliff entre imediatamente e pergunta o que aconteceu e ele descreve a fisionomia da moça que viu na janela e bate perfeitamente com Cath ou Catherine Earnshaw, ex-moradora dessa casa e a grande paixão de Heathcliff, mas ela já está morta há 20 anos e seu fantasma vem incomodá-lo. O visitante não entende nada, não acredita em fantasmas ou assombrações, mas a governanta Ellen Dean, chamada de Nelly, conta-lhe a história que presenciou da propriedade do Morro dos Ventos Uivantes e é assim que começa tudo que está na obra.
Embora o morro dos ventos uivantes seja uma fazenda, os moradores eram somente o casal e um casal de filhos. Numa das viagens do dono da fazenda ele traz dentro de um saco uma criança cigana, que estava perdido sem pais deixado pela própria sorte. Ele decide criar como filho. O órfão recebe o nome de Heathcliff. Rapidamente, toda a afeição que o patriarca lhe demonstra enciúma seu filho legítimo, Hindley, que vê como seu rival, mas sua filha Cath o adora e fazem um pacto de amizade para sempre. Com o tempo, ele vai crescendo e o amor surge entre os dois, mas são crianças ainda.

O filho Hindley vai estudar fora para ser alguém com mais status. Cath e Heathchiff vão brincar próxima a fazenda vizinha, que vem de uma casta mais nobre e requintada e um dia, eles querem escutar música que vem de dentro da casa da Granja da Cruz dos Tordos e Cath cai do muro para o lado de dentro e é mordida por cães de guarda e socorrida pelos moradores. Como a ferida é grave, eles chamam o médico e trata lá mesmo. Ela passa a ser hóspede da casa, conhece todo outro estilo de vida, cultura, livros, músicas e novas roupas requintadas, passando a ter uma experiência que vai mudar sua cabeça. Conhece o filho herdeiro Edgar Linton, que se interessa pela moça, ela nem tanto. Ele é refinado, mas frio, embora tenha a mesma faixa de idade de Heathchiff.

Quando ela volta, já tem uma mentalidade aristocrática e cogita casar-se com o herdeiro, conversando com Nelly, deixa escapar que o Heathchiff não seria a pessoa ideal, pois ele não tem educação, requinte e condições para dar uma vida como a que o Edgar pode dar. O fato é que ele escutou por trás da porta e sauí furioso a cavalo, deixando a porteira aberta, com muita raiva e ele se transforma a partir daí, passando a ser um jovem agressivo e ao mesmo tempo melancólico. Quando a desgraça é pouca, vem mais tragédia, os pais de Cath morrem, seu irmão de sangue volta e muda tudo na fazenda que ele vai administrar agora e articular o casamento da irmã com Edgar Linton. Quanto ao Heathchiff vai tratá-lo como um serviçal e humilhar o mais que pode, judiar e deixar dormir no estaleiro, não mais na casa, ele vai jogar todo ser rancor contra o jovem, que já está bem mudado. Ele não aceita mais a Cath, que ainda o ama, mas a raixa, o descaso e as nomeações fizeram que ele se transformasse numa pessoa monstruosa, agressiva e anti-social, virou um animal no pior sentido da palavra e ela se casa com Edgar, mas sem nenhum amor.

Sem entrar em detalhes, nenhum dos personagens tem bom caráter, cada qual quer engoli o outro, não existe nenhum herói ou um bom partido nessa hora. Heathchiff odeia Cath, embora esse ódio foi devido a rejeição, mas não tem como voltar a ser como antes, ela o ama, mas por pirraça e maldade não dá o braço a torcer, e cada dia que passa fica mais deprimida e fraca. Seu marido a trata como uma mulher deve ser tratada naquela época, uma prisioneira e submissa dentro da casa e as maldades de Hindley ultrapassa qualquer medida, o fato é que ele não sabe administrar a fazenda e entre em hipotecas cada vez maiores, quase perdendo tudo e é nessa hora que Heathchiff vai embora, já homem adulto, e retorna depois de três anos rico, mas sem classe, brito como sempre, tosco e ignorante e compra a fazenda do irmão de criação, ele agora é o dono do Morro dos ventos uivantes, mas nessa mesma época, Cath está se entregando a morte, quer o suicídio, morrer com sofrimento, abre sempre a janela para pegar friagem e fica doente. Está grávida e ao dar a luz a uma menina, fica entre a vida e a morte.
Heathchiff tenta visitá-la e, mesmo com o impedimento do marido de Cath, ele invade o quarto da moribunda e escuta de sua própria boca que ela ainda o ama de paixão, mas que ele a abandonou e se ela morrer vai atormentá-lo a vida tida. Ele pergunta por que ela não disse isso antes, mas ela morre sem respostas e termina a primeira parte.

Heathchiff passa a ser um homem mais vil que antes e quer se vingar dos dois, Hindley, que está casado e tem um filho chamado Hareton e Edgar, que agora é viúvo e tem uma filha chamada Cath.
Heathchiff casa-se com Isabella, irmã de Edgar, mas a mal trata tanto que ela se arrepende desse matrimônio, mas está grávida e decide abandoná-lo. Enquanto está longe, tem um filho chamado Linton.
Hindley cai no vício do jogo e da bebida e o que lhe restava, passa tudo para Heathcliff deixando seu filho sem nenhuma herança, embora Hareton, filho de Hindley, considera Heathcliff uma pessoa de alta moral, não permitindo que se fale mal de sua pessoa.
Edgar morre e Heathcliff casa seu filho Linton com Cathy, filha de Edgar. Ela descobre-se sem bens quando Linton morre e Heathcliff apresenta um testamento onde seu filho lhe passava tudo que possuía. Pensando já ter se vingado, Heathcliff percebe nos últimos descendentes das casas da Granja da Cruz dos Tordos e do Morro dos Ventos Uivantes que eles se amam de verdade, um amor puro e apaixonante entre os dois, mas ele está morrendo sozinho em sua loucura e solidão. Como último desejo, é enterrado junto com Catherine, seu grande amor. Deste dia em diante, muitos juram ver sempre um casal vagando pelas charnecas do Morro.

Uma obra pesada, difícil de ler, pois não tem momentos de alívio, é pancada e reviravoltas sempre piorando uma situação. Nenhum dos personagens é um vendedor, todos perdem. O amor é algo visceral, algo que destrói, corroem e não contribui para elencar a humanidade como digna de amar por desejo, afeto ou carinho, não é um livro nada romântico. Na época é certo que não traiu muitos leitores, já que o romantismo tem a idealização de personagens amorosos, mas aqui é somente ódio e vingança nada representa o amor, talvez a amizade entre as duas crianças, mas mesmo entre elas, o irmão de sangue tinha inveja e ódio, ciúmes e um desejo destrutivo na relação.;
A situação entre o par romântico, vem carregado de dissabores, diferença de classes, mais ainda quando ela se dá conta que existe uma classe superior a dela, ele é um cigano sem rumo, sem história, sem passado, o passado dele são lembranças de exclusão e renuncia. O desprezo que Heathcliff recebe de Hindley motivado pelo ciúmes da extrema atenção e mimo que o pai colocará sobre o garoto, embora não justifique tal atitude é o motivo e a causa das atitudes desumanas para com Heathcliff. As dúvidas de Catherine entre o amor de Heathcliff e o dilema sobre o desejo do dinheiro e de uma nova posição social são sentimentos totalmente reais, o que torna a historia viva, com personagens reais e o reflexo do mundo da Era Vitoriana.

Ambas as personagens referente ao casal Headcliff e Cath são apresentados como a máxima perfeição no tangente ao físico, ambos são lindos, atraentes, sedutores e com, saúde. O tempo vai distorcendo o caráter de cada um. Ela se mostra birrenta, imatura e orgulhosa até a sua morte. Ele ofendido, e vingativo com um sentimento de inferioridade que só é superado com a destruição e rancor e o casal se torna horríveis, ele um monstro, animal seria pouco, embora convenhamos que do ponto de vista de Jaques Rousseau que defende o bom selvagem, a obra estaria bem apropriada, pois as crianças eram boas, mas a sociedade os corrompeu, mesmo assim, seria uma leitura leviana, pois a obra, embora fosse um resumo bem sucinto, deixa claro que as coisas são mais complexas e que o campo psicanalítico poderá dar mais respostas.

Freud, que veio depois da obre escrita e publicada, já falava que se o casal for duplas semelhantes no gosto e ideal, como se mostrou no início as duas crianças, geraria mais angustia que encontro, pois não teriam os pólos apostos para se completarem, dessa forma, como eles pareciam semelhantes, os mesmo gostos e idéias, não seriam um casal que se complete, mas sim fadado ao fracasso.
Do ponto de vista mais biológico, é uma obra naturalista, pois se fosse realizado por pesquisa de campo, como se pretendeu o naturalismo, seria um a boa obra de estudo, está mais para o expressionismo do que para o romantismo, mas como dissemos, é classificada como romantismo tardio. Temos elementos redentores somente em seu desfecho final, perto da morte, que a vingança e o ódio ficam num segundo plano e abrindo espaço para redenção e consciência do que foi feito da vida, que sempre se renova. Romance de caráter social com críticas subliminares à sociedade, "O morro dos ventos uivantes" centra-se na rivalidade de classes poderosas e sem poder. O amor desmedido é patológico e o que transcende vira vingança e ódio, até mesmo as barreiras entre a vida e a morte.

Obviamente o clima da Era Vitoriana cujas mulheres deveriam ter uma postura recatada, honesta e submissa aos homens eu creio que foi isso que gerou um desconforto na mente da autora, que tinha uma educação mais rígida que os demais, por seu pai ser pastor, certamente toda a angustia vivida foi levado à obra. Temos tantos pontos para fazer uma leitura critica, que passaríamos páginas e mais páginas se pegarmos personagem por personagem para analisar, não que isso não tenha sido feito, sim e quem desejar, vai encontrar resenhas críticas completas na web, mas vamos parando por aqui e ver o filme, que foram muitos, mas concluindo, vou deixar uma citação.
Segundo Rebeca Fuks “A maior inovação foi o fato da autora ter colorido seus personagens com traços reais, seres repletos de defeitos, provocadores de intrigas e carregados de raivas muitas vezes injustificadas. Se pensarmos que naquele período histórico os livros serviam apenas como literatura de formação e os personagens eram figuras exemplares, perceberemos o impacto que Wuthering heights causou no público leitor”.

Filme
O livro escrito por Emily Brontë já teve várias adaptações para o cinema. As mais conhecidas são O Morro dos Ventos Uivantes (1939) e Wuthering heights (2011).
O Morro dos Ventos Uivantes (1992)
Dirigido por Peter Kosminsky, a adaptação norte-americana trazia como protagonistas Juliette Binoche (no papel de Catherine Earnshaw) e Ralph Fiennes (no papel de Heathcliff).
Sinopse: No final do século XVIII, em uma área rural da Inglaterra, surge com o tempo uma violenta paixão entre Catherine Earnshaw (Juliette Binoche) e o cigano Heathcliff (Ralph Fiennes), seu irmão adotivo. Criados juntos, eles são separados pela morte do pai de Catherine e a crueldade de como Hindley Earnshaw (Jeremy Northam), seu irmão, trata Heathcliff. Quando Heathcliff fica sabendo que ela vai casar com Edgar Linton (Simon Sheperd), um homem rico e gentil, Heathcliff foge para fazer fortuna, ignorando o fato de que Catherine o ama, e não o futuro marido. Dois anos depois, Heathchliff retorna para vingar-se de Hindley e Edgar e do abandono que Catherine lhe infligiu.

Eu sou muito suspeito em criticar esse filme, pois sou muito fá dos protagonistas Ralph Fiennes e pricipalmente Juliette Binoche, que além de bela, atua como ninguém, que tenho que selecionar comentários de quem criticou e usar as palavras que eu concordo, pois os conceitos entre 5 estrelas foi de uma para cinco, que dizer, alguns acharam o filme ruim, eu adorei e minha estrela é 5, mas vamos as crítica que eu selecionei
Silvia Cristina que deu 5 estrelas: “Intensa e fiel adaptação do romance homônimo de Emily Brontë. O filme capta a aura angustiante e cruel do livro, que narra o amor socialmente impossível entre a voluntariosa Cathy e o sombrio Heathcliff. Com imagens marcantes, uma trilha sonora perturbadora e um clima tétrico (algumas cenas se assemelham a um filme de terror) ingressamos no mundo obsessivo das paixões não realizadas, em que todos são atingidos pela desgraça do casal protagonista. A sintonia entre Juliette Binoche e Ralph Fiennes é fortíssima e facilmente perceptível pela intensa troca de olhares e pela maneira desafiante que pronunciam os diálogos atrevidos. Sombrio, devastador , tragicamente belo.

“Envolvente e comovente, me fez refletir as nossas escolhas diante das convenções sociais e as suas consequências. Revela o outro lado cego e destruidor do amor”.Jaqueline.
Heloisa: “O filme é excelente, foge de todos os paradigmas e clichês dos romances, eu diria que é extremamente realista. É uma história escrita”.
As críticas contrárias se basearam em não terem lido o livro e se questionarem o por que de várias coisas, como por exemplo, porque tanto rancor exagerado de Haedcliff? Como ele enriqueceu? Do mais por se tratar de um filme duro demais, angustiante do começo ao fim e até cruel de se assistir. A obra não dá a respostas a essas dúvidas, não sabemos como ele se enriqueceu e por que tanta raiva e fúria, acho que por todo contexto e um cigano sabe como ganhar dinheiro.
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Mais um bom texto lido e vou procurar assistir as adaptações cinematográficas.