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O Retrato de Dorian Gray

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 14 de fev. de 2020
  • 11 min de leitura

Essa obra e seu autor Oscar Wilde é a obra da Irlanda mais lida no mundo e a segunda obra do Reino Unida mais lida, perdendo apenas para Shakespeare e também a mais difícil de resenhar, pois inicialmente ela foi publicada em revista, depois em livro, mas com revisão do próprio autor, mudando completamente a forma original, tanto forma quanto conteúdo ai finalmente censurada e republicada com censura. No Brasil temos uma adaptação do livro original por Clarice Lispector, mas a questão é: Qual é o livro original? Enfim, qual o problema de tantas versões e polêmica? Homossexualidade no tema da história do livro escrito no auge da Era Vitoriana em que reinava o puritanismo, mas homossexualidade era algo indecente nessa época? Não, existia uma lei chamada “Flagrante indecente” que condenava a prisão com trabalhos forçados, a homossexualidade era ilegal, já que o protestantismo e as leis da coroa britânica estavam imbricados, diferente do nosso Brasil, em que nossa democracia é laica, lá não era. Deus acima de tudo, tanto que o lema sempre foi “Deus salve a Rainha” e nos tribunais se faz o juramente com as mãos sobre a Bíblica sagrada, lembrando que na Inglaterra temos a Religião Anglicana, mas o fato de se praticar a homossexualidade sigilosamente, discretamente não é ilegal e sim a sua exposição por flagrante indecente.

Oscar Wilde era casado, tinha filhos mas era homossexual e tinha uma relação com outro homossexual que era filho do Marques John Douglas, que inconformado de ter um filho se relacionando com um plebeu homossexual, veja que nem, é o fato dele ser homossexual, mas sim pela fama desse plebeu pobre, iniciou uma perseguição ao Oscar Wilde até conseguir, através de um detetive, provas que ele saia com um garoto de programa e condená-lo a trabalhos forçados, quer dizer, após a publicação da sua única obra literária ser um fenômeno e dar fama e dinheiro ao autor, teve um declínio repentino e faleceu com 40 anos desonrado e na miséria. Na cadeia, depois de condenado ainda era muito polêmico: “Posso resistir a tudo, menos às tentações”. Obviamente ele se tornou o patrono do movimento Gay futuramente e sua lápide é visitada até os dias de hoje em sua homenagem e pelo fato dele se assumir gay sem nenhum demérito a esse comportamento. Oscar Wilde foi o primeiro homossexual que definiu o que chamamos identificação homossexual, pois até esse momento não se fazia diferença entre heterossexual e homossexual, ninguém falava ou apontava o dedo para um homem gay e falava que era algo indecente ou contra os bons costumes, não havia preconceito, mas sim se convivia normalmente entre seus pares, mas depois do julgamento do Irlandês mais famoso do mundo, com repercussão internacional é que ele passou a ser considerado um gay.


Oscar Wilde foi um influente escritor, poeta e dramaturgo britânico de origem irlandesa nascido em 1854 e faleceu com 46 anos em 1900 por sífilis. Depois de escrever de diferentes formas ao longo da década de 1880, tornou-se um dos dramaturgos mais populares de Londres e já era um gênio precoce. Formado pelas melhores escolas de Dublin, já aos 10 anos escrevia algumas coisas muito boas. Depois de se formar em jornalismo em Oxford, passou a trabalhar e já era considerado um grande conhecedor e formação sólida da arte do classicismo e dominava com fluência o grego e o latim, já que quando se fala do classicismo se remete as obras gregas de Homero e Dirceu (Odisséia e Eneida). Isso implica todas as obras do período em que se escrevia na Grécia e depois Roma, estamos falando de um período de quase 2000 anos, pois veio a Idade média e ele teve formação rigorosa dentro do protestantismo, mas depois foi para o catolicismo e teve profundo conhecimento dentro das duas linhas do cristianismo. Já escrevia para revistas, teatro e jornais contos, estórias e peças teatrais, embora muito famoso e procurado, não tinha uma obra literária como foi O Retrato de Dorian Gray, sua primeira e última, mas a obra se confunde com sua vida e com sua proposta de uma nova escola literária chamada por ele de “Esteticismo” algo totalmente novo e sua divulgação o tornou uma celebridade internacional. Essa corrente parte do pressuposto que a arte não serve para provar nada. Ou seja: o artista, na visão do autor, não tem obrigação moral, nem ética, nem política, tanto é que o personagem da obra desse livro, o Dorian passou a praticar ações, no mínimo, duvidosas, e abrir mão de qualquer sentimento positivo em nome da vaidade e a tal “beleza interior” que tanto prezam aqui é apenas clichê, mas válido. O que nós temos por dentro acaba sendo muito mais precioso para nossa vivência em sociedade do que aquilo que os olhos veem. Quanto ao estranhamento de suas obras, pela rebeldia e muitas vezes incompreensão ele disparava: “A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre”.


Quando ele foi buscar dinheiro para suas obras e vida, procurou fazer várias palestras nos Estrados Unidos em 1882 e lá já foi recebido como uma celebridade e seu nome passou a ser mais cultuado que seus escritos, mas como falamos, ele ainda não tinha uma obra de peso para ostentar, somente seus escritos em jornais e revistas e suas peças de teatro e carregava no currículo sua proposta dessa nova arte, em que reinava ainda o estilo gótico.

O Esteticismo, que carrega a premissa da arte como uma possibilidade de abertura para novas ideias e sensações, e não como uma resposta a perguntas é algo que nos remete ao pensamento filosófico de Platão e ele conhecia muito além do filósofo, pois como veremos, na obra de Dorian Gray temos o estilo de vida Hedonista, vindo da escola filosófica neo-platônica que reinou no período helenístico, no Império de Alexandre o grande. O platonismo defende que o mundo real está no campo das idéias, isto é, o real mesmo é o que nossa mente sente e compreende como tal. Para Platão, o que vemos e tocamos sensivelmente no mundo material é considerado apenas uma cópia de algo muito mais perfeito e verdadeiro. Por exemplo, eu tenho uma imagem do que é um cavalo. Ao ver o cavalo no mundo real ele pode ter vários defeitos, estar doente, ser fétido, agressivo e caquético. Pois bem, esse cavalo que eu estou vendo e tocando não é o ideal, não é o que eu tenho na minha mente, não é o verdadeiro cavalo, que só existe num mundo perfeito das idéias e para os platônicos o que importa é minha idéia, o que está na minha cabeça do que é um cavalo, o resto são cópias mal feitas do mundo ideal. Claro que seu aluno e discípulo Aristóteles discordava completamente do mestre, mas ele nem era de Atenas, ela da Macedônia e não rebatia seu mento. Bom, no esteticismo de Oscar Wilde não é a arte que copia a natureza, mas sim a natureza é quem copia a arte, isto significa que a arte é algo mais valorizado que a natureza e por isso se deve fazer a melhor arte possível para que a natureza possa se espelhar na arte e segui-la. Extremamente controverso e polêmico, mas ficou uma mensagem por trás dessa “ideologia utópica” (grifo meu) do Oscar Wilde: Fazer a arte pela arte e misturar o vida real na literatura. Isso ele fez muito bem na sua obra O Retrato de Dorian Gray, que não conseguiremos aprofundar em seu enredo devido a grandiosidade da história, a forma e o modo que ele escreveu e pela complexidade dos diálogos que nos remete a problemas filosóficos em seus diálogos, críticas sócias, como por exemplo a ociosidade e inutilidade dos nobres e a análise profunda do ponto de vista da personalidade e psicologias dos personagens tanto do ponto de vista de comportamento e conduta até dos conflitos internos e pensamentos radicais.


A história se trata de um triângulo amoroso entre três jovens homens. Temos como base do enredo o Mito de Narciso, homem muito lindo que deixavam as mulheres apaixonadas pela sua beleza, mas não se dava conta até que uma deusa o colocou de frente com sua imagem espelhada num lago e ele se apaixonou por sua imagem refletida pela água e não conseguia mai sair diante da sua imagem e morreu ali, sem comida e sem amor, porque não conseguiu mais parar de adorar sua própria imagem, mito esse que, anos depois Freud utilizou para estudar personalidade narcísica e a obra Fausto (Faust) do escritor alemão Goethe, considerado uma das grandes obras-primas. A primeira versão foi composta em 1775, mas era apenas um esboço e não chegou a ser publicado. A versão definitiva só seria escrita e publicada por Goethe no ano de 1808, sob o título Faust, eine Tragödie (Fausto, uma tragédia). Nessa obra começa no Céu, onde Mefistófeles faz uma aposta com Deus: diz que poderá conquistar a alma de Fausto um favorito de Deus. Fausto é um sábio cientista, humanista e religioso pretende usar magia para chegar ao conhecimento ilimitado. Frente ao fracasso pensa em suicídio, mas muda de ideia e faz um pacto com o diabo Mefistófeles que prometeu tudo a ele, fazer tudo o que ele quiser na Terra em troca de servir o demônio no Inferno. Mas há uma cláusula importante: a alma de Fausto será levada somente quando Mefistófeles criar uma situação de felicidade tão plena que faça com que Fausto deseje que aquele momento dure para sempre. Uma bruxa dá uma poção dá a Fausto e o torna um homem jovem e belo. Apaixona-se por Margarida. Fausto dá uma poção do sono a Margarida para adormecer a mãe, que termina matando-a, mas Margarida fica grávida de fausto e no final, obviamente sua alma é levada ao inferno.


No enredo ficam evidente essas duas referencias, mas devemos alertar que apesar da história ter semelhanças com o mito grego de Narciso e Fausto, o livro não tem nenhuma intenção declarada de passar lições de moral.pois temos um pintor chamado Basil Hallward que se apaixona pela beleza de Dorian Gray (e por ele como homem) e implora para poder pitá-lo, mas o próprio Gray não se dá conta da sua beleza e o poder que ela causa nas outras pessoas assim como Narciso, é um belo e ingênuo jovem. Certo dia, um jovem da alta sociedade local chamado Henry Wotton vê a pintura e também fica apaixonado pela beleza do retrato e pede para que o pintor apresente o modelo, mas como o pintor é apaixonado por Gray, resiste e sabe que o Henry Wotton é um homem devasso, como na historia 120 dias de Sodoma do Marques de Sade e que poderá levar Gray para um mundo de perdição, mas por insistência eles são apresentados e, de fato, com seu estilo e sedução, conquista Dorian Gray com uma personalidade cínica, libertina e bastante inteligente, Henry coloca suas ideias na cabeça de Dorian sem que ele perceba e apresenta os prazeres hedonistas da cidade. Uma de suas célebres frases Wilde diz: “Influenciar uma pessoa é dar a ela a própria alma. Ela passa a não pensar com seus pensamentos naturais”.


Ao ver o quadro Dorian faz a promessa de que daria tudo, até mesmo sua alma, para permanecer sempre com o visual nele estampado. A partir de então Dorian não mais envelhece, mas todos os pecados que comete e a idade que chega são demonstrados no retrato, cada vez mais terrível. Para que ninguém mais o veja, Dorian decide esconder o retrato no sótão de sua casa.

Aqui temos a inspiração de Fausto, que fez o pacto com o diabo com diálogos muito mais profundos e com conotação existencial, sem falar na classe e estilo único na escrita de Oscar Wilde. Wilde nos falar justamente do medo de envelhecer e perder sua beleza e juventude ou lidar com as consequências do envelhecimento. Quando somos jovens ansiamos por adiantar tais eventos e o que ele nos passa é o que ele sempre propagou: “A vida é muito curta para ser levado a sério” Devemos viver o aqui e agora intensamente, ensina a assimilar melhores coisas enquanto podemos vivê-las sem grandes expectativas.


Dorian Gray também se apaixona por uma mulher, assim como Fausto, mas ela é uma atriz especializada em representar Shakespeare e teremos dois pontos, um estético (Esteticismo), em que o amor um pelo outro se dá pela beleza e perfeição de ambos, eles se adoram pelas máscaras que usam e não pelo seu íntimo ou mentalidade, defendendo a estética, a beleza e ao amor pela perfeição. Outro ponto é o Hedonismo. Chega um ponto que a atriz passa do amor platônico e se apaixona pela pessoa que é o Dorian Gray, mas quem seria o Dorian? O retrato é quem ele é de fato, as doenças e velhice estão na pintura, os males não aparece, o caráter ruim de Dorian não está nele, mas mesmo assim ela acredita estar apaixonada pela aparência e não pela essência. Dorian, como segue o hedonismo, vive o prazer pelo prazer, e não liga para “licões de vida”. As consequências são ruins, no final, mas o objetivo do autor não parece ser puxar a orelha de ninguém: ele acreditava (e pode mesmo ser interessante) que a arte não tem que gerar nenhum tipo de reflexão, necessariamente. Às vezes algo é só mesmo muito bonito e não quer correr o risco de se perder de amor, ou se entregar para uma vida amorosa eterna somente pela paixão, mas sim prevalece o hedonismo o prazer pelo prazer e na hora que desejar ter tal prazer e ele recusa essa paixão e diz que não a ama mais e argumenta sua decisão: "a juventude e a beleza são os valores maiores.. o casamento é a destruição disto, bem como, os filhos chegam pra acabar com a relação ". Ela pensa em se matar, ele a incentiva e ignora o fato, demonstrando o extremo do hedonismo. Isso é polêmico e forte ao mesmo tempo, uma obra inigualável. Não vou comentar mais nada além daqui, pois existe o filme e o livro e sem dar “spoiler” será melhor a leitura ou assistir o filme será muito mais emocionante, só pautei algumas partes para explicar a complexidade e valo dessa obra prima inigualável. Mesmo na cadeia, mesmo fazendo trabalhos formados, Oscar Wilde não parou de escrever ou falar frases que ainda ficaram imortais, como por exemplo o fato de não repudiar quem o acusou e o condenou: “Sou tão inteligente que nem consigo entender a mim mesmo.”


Filme: O Retrato de Dorian Gray (2009) com direção de Oliver Parker. Sinopse: Londres. Dorian Gray (Ben Barnes) é um belo e ingênuo jovem, levado à alta sociedade local por Henry Wotton (Colin Firth), que lhe apresenta os prazeres hedonistas da cidade. Basil Hallward (Ben Chaplin), um artista que frequenta este meio, resolve pintar um retrato de Dorian, de forma a capturar sua beleza jovial. Ao ver o quadro Dorian faz a promessa de que daria tudo, até mesmo sua alma, para permanecer sempre com o visual nele estampado.

Este é o 3º livro de Oscar Wilde a ganhar uma versão cinematográfica pelo diretor Oliver Parker. Exibido na mostra Panorama do Cinema Mundial, no Festival do Rio 2010. Os outros filmes foram O Marido Ideal (1999) e Armadilha do Coração (2002); O filme é péssimo, o enredo confuso e não tem a essência da obra original e até se deturpa muito do que Oscar Wilde desejou passar pela sua história, um roteiro infeliz. O ator Barnes é o maior responsável pelo fracasso da produção por entregar uma performance artificial e nada profunda.

Nada nesse filme podemos criticar, nem mesmo o genial Colin Firth. Oliver Parker. A fotografia é escura, a trilha não consegue criar nenhum momento de clímax e a edição é absolutamente ordinária. (Crítica por Lucas Salgado)

Quem não leu o livro pode até ter gostado, do contrário é impossível se quer simpatizar com o filme, pois sem sombra de dúvidas pode-se chamar essa tentativa de adaptação da obra como uma forma de destruir toda a genialidade do pobre Oscar Wilde, sem contar a parte de que não tem praticamente nada com a historia original. Oscar Wilde era conhecidamente bissexual e odiava literalmente o certo e errado, o preto e branco e as visões maniqueístas sobre qualquer coisa. Na obra não temos falar entre os homossexuais de forma explícitas, pelo contrário, com uma sutileza que não percebemos o caráter sexual, mas sim sensual. Para Wilde, a sensação é maior que o fato. Nos dias de hoje eu creio que essa obra seria liberada normalmente no currículo escolar, mas os temos vão e vem. Obra única, proposta estética inovadora, foi um divisor de águas na literatura Vitoriana e Gótica, além dos romances ao estilo de Jane Austen ou as irmãs Bronte, só para comparar.

Referência

Adorocinema.com

Pensador,com

Wikipedia.com

 
 
 

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