O Silencio dos Inocentes
- Fernando Carlos
- 17 de out. de 2019
- 10 min de leitura

Thomas Harris
Na sua época, esse livro foi um divisor de águas dentro da literatura policial. Foi adaptado para o cinema e causou um fenômeno de bilheteria nunca visto para um filme desse gênero e levou 5 estatuetas do Oscar pra casa. Porém, como gosto é algo muito particular de cada um, eu pessoalmente não sou fã desse gênero, mas achei O Silêncio dos Inocentes uma obra prima e re-assisti inúmeras vezes. O personagem psicopata se tornou um dos vilões mais temidos de todos os tempos, embora a obra original não seja um livro tão bom como foi o filme, uma linguagem bastante envolvente, mas numa narrativa pouco atraente de um autor quase desconhecido pelo grande público, por isso que eu baseei essa resenha numa pronta de Karina Audi e Helen Santos.
Sinópse: “Cinco mulheres são brutalmente assassinadas foram encontrados em pequenos espaços de tempo e em diferentes margens de rios do país. Os corpos das vítimas têm o mesmo padrão: mulheres grandes e nuas, em estado avançado de decomposição, com cortes nos seios e nas costas e em cujas gargantas foram colocadas pupas de uma espécie rara de mariposa. Quando se descobre que um psiquiatra canibal possui informações sobre o assassino, a jovem e nova agende do FBI, Clarice Starling, tenta se mostrar capaz a todo o custo de desvendar esse serial killer e chegar até o criminoso, intitulado de ”Buffalo Bill” e busca contar com a ajuda do tal psiquiatra na investigação em troca de informações pessoais dela, ele daria uma análise psiquiátrica desse serial killer que foi seu paciente nos tempos em que ele ainda era um profissional conceituado na área e não tinha sua liberdade cerceada pelas grades de ferro da clínica. Para tanto, ela passaria por um constrangimento de falar de si ao psicopata preso, somente assim teria uma chance de chegar a traçar uma pista do Buffalo Bill. Ele irá ajudá-los a desvendar o caso.

Sendo assim, Jack Crawford, o chefe de Clarice, a manda entrevistar o Dr. Hannibal Lecter, preso em uma clínica, o psiquiatra é consultado para traçar o perfil psicológico do procurado assassino de cinco mulheres mortas em diferentes regiões dos Estados Unidos e é um dos mais brilhantes psiquiatras e também um dos mais temidos assassinos canibais, que se encontra numa prisão de segurança máxima e não fala com praticamente ninguém. Foi condenado a prisão perpétua, já está detido há mais de 8 anos por ter cometido 9 assassinatos e comido suas vítimas. Clarice e Crawford vêem esperanças nessas entrevistas com Dr. Hannibal, porque alguém ligado ao crime que estão tentando desvendar já foi paciente dele, e eles contam com a possibilidade de que o Doutor lhes entregue um nome, uma pista, uma luz, mas, “quid pro quo“, como diz Hannibal, e ele não dirá uma só palavra sem que tenha vantagens em troca.”

O Silêncio dos Inocentes de Thomas Harris foi lançado em 1988, jornalista de formação, estudou muito para poder escrever sua grande obra, já havia escrito “O grande Dragão” e por ser jornalista teve acesso a informações detalhadas de diversos crimes e na época de Serial Killers e em especial o caso de Ted Band um caso muito polêmico de um serial extremamente bonito na aparência, que causou alvoroço na mídia e foi base da construção do seu personagem serial. Nessa mesma época as formas de pro-file criminal estavam em desenvolvimento ainda e o termo serial Killer foi cunhado ai. Análise comportamental também começou a partir desse caso real em que se baseou o livro e o próprio Ted ajudou a desvendar outros casos. O personagem Hannibal foi criado através de uma visita que o autor fez numa prisão, inclusive ele entrevistou esse paciente no manicômio que se passou por médico psiquiatra enganando o Thomas Harris. Nessa obra que se narra a história de Clarice Starling, agente em treinamento na Academia do Bureau Federal de Investigações (FBI) designada na investigação do brutal serial-killer Buffalo Bill. Aqui temos uma premissa que é a grande sacada do autor e difere de tudo que já se escreveu, que é usar um assassino para capturar outro e, obviamente foi exaustivamente copiado em outros roteiros de outros filmes, no meio disso, uma teia de confusão acontece até que se chegue num desfecho. O Silêncio dos Inocentes é o segundo livro dessa trilogia, o primeiro (Dragão Vermelho). Depois do sucesso da adaptação do cinema desse segundo livro, o autor fez o terceiro (Hannibal). Porém, não teve grande aceitação e nem o mesmo impacto de novidade e carisma.

Embora se trate de uma história policial, naturalmente rápida e objetiva, naturalmente é cansativa desde o início, sendo que a narrativa de Thomas Harris consegue se impôr através da poeticidade das ações de Clarice, humanizando-a com a interação com os outros personagens somente da metade da obra em diante, principalmente com sua interação com o Dr. Hannibal Lecter, que por vezes nem parece um ser humano, é tão inteligente, tão sagaz, com instintos tão aguçados, que chega a duvidar do seu caráter tão ruim. E por mais que seja um assassino, dá pra criar certa empatia, mas só porque ele mesmo confunde nossas mentes, por ser tão educado, cheio de charme e de lábia.

Clarice, por sua vez, é a personagem novata que cativa pela falta de experiência, mas é uma das mais inteligentes da sua turma no FBI e tem uma habilidade extraordinária com armas e é, disparada a melhor aluna da academia daquele ano. Tem um certo treinamento em estudos forense e é excelente em coletora de provas, apesar de ser uma estudante ela se destaca e não é a toa que esta sedenta para arrancar qualquer coisa de Hannibal, se mostrando ser tão durona e inteligente quanto ele, mas sabe que não se comparar a ele, mas ela percebe que o assassino cria um sentimento de empatia por ela, a ponto de realmente cogitar a ajudá-la a capturar Buffalo Bill. Certamente o líder do FBI agente Crawford que lida com questões comportamentais, conhecido por prender diversos serial killers vai dar total liberdade para Clarice seguir com o caso, sempre aos seus olhares. As coisas começam a dar errado quando o Dr. Chilton, diretor do sanatório em que Hannibal está preso, se mete nas entrevistas e tenta fazer as coisas a seu modo. Dr. Chilton é uma pessoa tão desprezível que dá até vontade que Hannibal o corte em pedaços. E após sua intromissão em meio ao caso, tudo começa a desandar e vai de mal a pior. Ficamos eufóricos para que Clarice e Crowford consigam resolver o caso com as pistas que Hannibal já fornecidas, pois dali em diante nada mais se sabe por intermédio dele.

Ainda que o romance contenha a complexidade de um dos maiores vilões da prosa contemporânea, a história centra-se nela: a “caipira melhorada com um pouco de bom gosto” – assim chamada por Lecter – escolheu a carreira em razão da morte do pai, também policial. O parentesco impulsionou a agente a desempenhar um cuidado preciso com cenas de crime, ainda que não tenha um passado efetivo de atividade policial.
Esse livro é de uma grandiosidade tamanha que o autor Thomas Harris foi considerado como um inovador em narrativas e literatura policial. Mestre em descrever cenários, ações, jeitos, trejeitos, sentidos, aromas. Fala com bastante propriedade sobre FBI, termos policiais, mas também de medicina, psicologia e... insetos. Ele não coloca nada dentro da história sem um cunho específico. Tudo é meticulosamente detalhado e explicado para que faça sentido no final e o leitor consiga ficar preso ao grande enigma e raciocinar com a cabeça do psicopata. Uma obra bem escrita e narrada de forma inteligente e comovente. Uma novidade do gênero policial, principalmente aquelas histórias horripilantes, inundadas de detalhes, cheias de mistério e diálogos para lá de capciosos. Mesmo quem não é tão fá de livros de terror psicológico, vai se surpreender com a escrita de Thomas Harris, que merece ser conhecida, embora suas obras subseqüentes não tiveram o mesmo capricho.

Compreendemos Clarice porque nos vemos nela e nos identificamos. Starling não é uma agente genial, como a maioria dos personagens da literatura policial. É uma mulher comum, que se coloca no lugar das vítimas, em seus sofrimentos e até nas suas escolhas pessoais de vida para encontrar o atrativo uno que motivou o assassino no momento da captura. Na busca por Buffalo Bill, a protagonista visita a casa das vítimas, observa roupas e sapatos que usavam quando ainda eram vivas, notando características similares: são todas mulheres grandes, bonitas e donas de cútis bem-cuidadas. Também recolhe declarações de seus familiares e amigos para obter o mínimo sinal suspeito, um procedimento comum nas investigações de décadas anteriores quando a visita de casa em casa era fundamental para encontrar pistas ou depoimentos importantes, longe do conforto de escritórios policiais, delegacias e de casos resolvidos pela investigação forense nos laboratórios.

Essa é a grande diferença de Thomas Harris dos outros autores, ele coloca todas essas novidades de investigação, análise comportamental em seu romance, traçar o perfil do marginal, no caso se descobre que Búfalo Bill quer se tornar uma mulher e por isso que ele busca esfolar as mulheres que ele matou e por esse perfil é que os investigadores acabam chegando ao hospital local que faz cirurgia de troca de sexo e o nome real do Búfalo Bill estaria numa lista de espera. Starling chega ao desenlace a partir dos detalhes dessas mulheres. Isso explica por que ela, acreditando que a vítima primordial de Jame Gumb – nome original de Bill – era o seu principal descuido, chega ao louco covil do maníaco antes das equipes policiais, que nesse mesmo momento estavam a quilômetros de distância.
Com a ajuda de Hannibal, Clarice descobre a bizarra intenção do assassino. Agindo pela cobiça, não por loucura ou puro desejo de matar, Buffalo Bill, um costureiro experiente, ambiciona a pele das vítimas com a finalidade de costurar uma vestimenta com o seu couro, provando seus desígnios grotescos. O personagem é baseado em outro serial-killer de verdade, Ed Gein, o qual colecionava partes dos corpos de suas presas e que também foi fonte de inspiração para diversas figuras de obras famosas da ficção, como Norman Bates de Psicose; Patrick Bateman, de Psicopata Americano; e, claro, Leatherface, de O Massacre da Serra Elétrica, além de muitos outros personagens menores.

Jame Gumb cobiça a pele das mulheres porque deseja ser uma. Embora não se enquadre na condição da travestilidade – visto que transexuais na maioria das vezes são passivos e sem traços violentos, até mesmo por causa de sua posição oprimida pela sociedade –, ele se mostra feminilizado e com preocupação exagerada com a própria aparência. Uma figura egocêntrica, assim melhor dizendo, que centra em si seus desejos tornando a realidade fantasiosa. Por isso, o maníaco não pode ser considerado um transgênero legítimo. Isso é demonstrado na dinâmica da conceitualização dos testes psicológicos, quando Hannibal questiona o fato do assassino ter sido avaliado para realizar uma cirurgia de mudança de sexo. Um ponto importante, pois produz coerência com a realidade, já que Gumb foi recusado na triagem pelos médicos justamente por ter agredido um deles, o que denota uma personalidade violenta.

Tal é a confusão psicológica do antagonista que as mariposas em sua vida interpretam papel fundamental. A mariposa se metamorfoseia em fases distintas, assim como ele sonha se transformar em outro alguém. Na sua mente a ideia de fazer um traje com a pele das vítimas – e vesti-lo – é a maneira de aproximá-lo à natureza exuberante do inseto, um bizarro fetiche explicado pelo comportamento narcisista e, contrariamente, pela sua falta de aceitação como pessoa. Além disso, Gumb age somente à noite, o que também é explicado pelo hábito noturno das mariposas. A escolha em colecioná-las não é um acaso sem explicação lógica, mas sim definidora.

Clarice é a figura central do romance e agente que realiza as ações, e Hannibal, a cabeça pensante. A falta de contato físico entre eles, em razão da segurança máxima a qual o canibal foi submetido, com celas que não permitem o mínimo toque, é balanceada por uma espécie de contrato mútuo, uma relação estranha que reverbera na alta intimidade e na possível compreensão dos atos de cada um. Starling tem a confiança de Lecter porque se deixa levar por ele, pelo seu talento de adentrar na mente das pessoas e brincar com elas; ao mesmo tempo, o canibal transparece um tipo de confiança na agente federal, por esta ser uma novata esforçada, além da atração física que sente por sua presença. Juntos possuem o que toda dupla necessita em uma investigação: a química.

O Silêncio dos Inocentes é um dos thrillers psicológicos mais importantes para o gênero. Um exercício narrativo exemplar que conduz com maestria os aspectos da narrativa policial – drama, suspense e investigação –, dosados de maneira ímpar e intensificados pelo horror que projeta nos personagens, mostrando a essência do que há de pior no ser humano. Mais do que buscar o culpado, a narrativa procura entendê-lo. O resultado é uma leitura fluida e intrigante, equilibrando densidade e tensão até as últimas páginas.
A adaptação do livro para os cinemas, “The Silence of the Lambs” lançada em 1991, dirigida por Jonathan Demme e estrelada por Jodie Foster e Anthony Hopkins, além de Ted Levine como Gumb, é soberba ao captar esta química tão bem. Sinópse: “A agente do FBI, Clarice Starling (Jodie Foster) é ordenada a encontrar um assassino que arranca a pele de suas vítimas. Para entender como ele pensa, ela procura o periogoso psicopata, Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), encarcerado sob a acusação de canibalismo”.

Os olhares que Clarice troca com o psiquiatra, amplificados pelas cenas em close, expressam a confiança mútua sem o uso de palavras. A cena em que Starling conta seus sonhos dos quais é acordada pelo barulho de cordeiros – o que leva ao nome do título original – gera a mesma carga dramática do livro, mostrando que suas memórias podem ser tão aterrorizantes quanto a realidade das vítimas de Buffalo Bill. O filme capta todas as nuances do texto escrito, intensificando-as por meio de interpretações primorosas. Não à toa foi o terceiro filme na história a receber os 5 principais Oscars das cinco principais categorias do Oscar de 1991 (Melhor Atriz, Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Filme e Melhor Diretor), e última película da história do cinema a conquistar tal feito, depois de Aconteceu Naquela Noite, de 1934 e dirigido por Frank Capra, e Um Estranho no Ninho, de 1976, realizado por Miloš Forman. Este é o primeiro de dois filmes em que a personagem Clarice Sterling aparece. O posterior foi Hannibal (2001). Este o 2º de 5 filmes em que o personagem Hannibal Lecter aparece.

As críticas não poderiam fugir do obvio: “Uma grande obra, roteiro perfeito, e atuações fantásticas. Senti perfeitamente a cena de Clarice andando por aquele corredor, como se fosse ela. Aliás Jodie Foster e não é à toa que recebera o Oscar de melhor atriz, interpretou de tal forma que acredito piamente que durante as filmagens ela sentiu medo de verdade, tamanha atuação. E Hopkins com atuação brilhante, penetrante na mente, apaixonante, magnética. (Giovana M.). É raro ver hoje em dia adaptações tão fiéis quanto esse filme.

O seu elenco, primoroso, deu vida à obra-prima de Thomas Harris magnificamente. Engana-se quem pensa que uso palavras tão lisonjeias a toa, pois seria interessante pensar em outro ator que se encaixaria tão bem no papel do Dr. Hannibal Lecter quanto Anthony Hopkins, que, mesmo não sendo o protagonista, recebeu o oscar de melhor ator. O Silêncio Dos Inocentes é um filme que deveria ser "degustado" pelos mais finos paladares, à todos que apreciam o melhor do cinema mundial.(Rodrigo S.). "O Silêncio dos Inocentes" dispensa elogios. Uma obra-prima do cinema, traz um roteiro genial, que te prende do início até o fim. Mas, isso só é possível graças às atuações de Jodie Foster e Anthony Hopkins, e além disso, o filme tem uma temática inesperada, de uma agente do FBI que precisa da ajuda de um criminoso para pegar outro criminoso. Enfim, "O Silêncio dos Inocentes" mereceu mais que tudo vencer o Big Five do Oscar: Melhor atriz, melhor ator, melhor roteiro adaptado, melhor diretor e o tão almejado melhor filme. O filme não deixou nada a desejar.” (João Ricardo D.)
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O filme é sensacional e um dos maiores sucessos dos anos 90. Em destaque a excelente atuação da atriz norte-americana Jodie Foster e do ator galês Anthony Hopkins. Simplesmente uma obra-prima do gênero suspense. Um trabalho minucioso, perturbador e filosófico. Altamente recomendado a todos que gostam de uma boa dose de drama e suspense.