Otelo
- Fernando Carlos
- 14 de mai. de 2019
- 8 min de leitura

Otelo de Willian Shakespeare

Essa obra foi citada em Dom Casmurro de Machado de Assis quando ele se afasta do estilo Romântico e passasse a seguir os mestres do Realismo (Gustave Flaubert e Liev Tolstói) e como as obras principais desses autores realistas abordavam o adultério (Madame Bovary e Anna Kariênina), por questionar a posição da mulher na sociedade, Machado de Assis também vai tratar do adultério na obra Dom Casmurro, mas não da forma que os outros dois, mas sim inspirado na obra de Shakespeare Otelo. A diferença é grande, pois Shakespeare vem de uma escola denominada Clássica, coisa que não havia aqui no Brasil e não se conhece alguém que se comparar ao gênio da Inglaterra. Pois bem, Assis superou o gênio e se tornou uma referencia no mundo tido com essa obra. O que é diferente de tudo?

1) Nas obras do realismo, os autores deixam bem claro que o casamento da forma que a igreja católica coloca, casamento por conveniência deixando livre o homem dormir com quem bem entende não funciona para Ninguém, nem para a mulher, nem para o marido e nem para os filhos. Machado de Assis coloca um casamento perfeito em que não foi por acerto entre famílias, mas sim por amor entre os dois, inclusive o marido da História ia ser padre, deixou a igreja católica para casar-se com a mulher amada, que também o ama, mas que não vai dar certo. Por que? Porque o ser humano naturalmente não é uma pessoa monogâmica, mas sim tem ambigüidades e pode se apaixonar por outro.
2) Na obra de Shakespeare fica claro que Desdêmona não traiu seu marido, mas sim foi uma armação de Iago para fazer com que Otelo acredite piamente que ele está sendo traído. Machado de Assis coloca isso como dúvida. O recurso que ele usa é contar a história na voz do marido, isto é, quem escreve a história é Bento Santiago, o marido que tem certeza que foi traído pelo seu melhor amigo. Como o autor Machado de Assis não coloca o lado da mulher Capitulina, os pensamentos dela, as falas dela, mas somente o que o marido pensa e fala não fica claro o que se passou realmente entre Capitulina e seu possível amante Escobar. Dessa forma teremos um novo estilo de escrever, o realismo, pois ele vai relatar uma história como se acontece de verdade, sem idealizar a mulher, pelo contrário, ele mesmo a coloca como uma mulher manipuladora e o herói como um homem obcecado e compulsivo obsessivo, um chato, um home que vai se tornar casmurro, ensimesmado, ciumento demais, um chato.

Otelo, o Mouro de Veneza.
A história de Otelo gira em torno de quatro personagens: Otelo, um general mouro (Negro) que serve o reino de Veneza, sua bela esposa Desdêmona, seu tenente e grande amigo Cássio, e seu sub-oficial Iago. Iago não aceita que Otelo nomeou Cássio como tenente e tenta, de todas as formas possíveis, destruir a vida de todos, plantando a “sementinha do ciúme” na mente do general para que ele desconfie de uma relação amorosa entre Desdêmona e Cássio.
Inicia-se com Iago, alferes, uma posição semelhante a tenente de Otelo, tramando com Rodrigo para chegar ao ouvido do rico senador de Veneza chamado Brabâncio, que sua filha, a gentil Desdêmona, tinha relações íntimas com Otelo. Iago queria vingar-se do general Otelo porque ele promoveu Cássio, jovem soldado florentino e grande intermediário nas relações entre Otelo e Desdêmona, ao posto de tenente e ficou muito ofendido, pois ele se achava mais preparado para o cargo, mas o que prevaleceu foi a amizade entre Otelo e Cassio. O fato é que Brabâncio desejava que sua filha se cassasse com um homem da classe senatorial, mas ela foge com Otelo e seu pai vai a sua procura para matar o Mouro. No momento em que se encontraram, chegou um comunicado do Duque de Veneza, convocando-os para uma reunião de caráter urgente no senado, que aproveitou para acusar o Mouro de ter induzido Desdêmona a casar-se com ele no plenário por meio de bruxaria, mas pela moral de Otelo foi inocentado e o casal seguiu para Chipre, em barco separados, na manhã seguinte.
Iago é um vilão inteligente que engana a todos ao se passar por um homem íntegro, obediente e conselheiro. Desdêmona é a esposa fiel, casta e passiva de Otelo. Cássio é um escudeiro fiel e trata Desdêmona com educação e cavalheirismo. Para Shakespeare quem é ciumento e possessivo geralmente acredita em qualquer mentira bem elaborada, Iago finge que “sabe de algo, mas não pode contar” e deixa a entender que Desdêmona e Cássio são amantes.

Iago sabia que, de todos os tormentos que afligem a alma, o ciúme é o mais intolerável e incontrolável. Em Chipre, Iago, que odiava Otelo e Cássio, começou a semear a discórdia entre o casal e escolheu Cassio por ser belo, diferente de Otelo, que era negro e com feições animalesca, já Cassio era o tipo de homem capaz de despertar o ciúme de um homem de idade avançada, como Otelo, por isso, começou a realizar seu plano. Fez com que Cássio, responsável por manter a ordem e a paz, se embriagasse, Ele se envolve em uma briga com Rodrigo durante uma festa ofereceram a Otelo e foi destituído de seu posto. Nessa mesma noite, Iago incita o ódio de Cássio contra Otelo, falando da péssima atitude do general e que ele deveria pedir para Desdêmona convencer Otelo a devolver-lhe o posto e aceitou a sugestão.
Iago insinuou a Otelo que Cássio e sua esposa poderiam estar tendo um caso. Nada é pior para os homens de cargo alto no exército que serem traídos e é justamente essa a arma de Iago. Otelo começou a desconfiar de Desdêmona. Iago sabe que Otelo deu um lenço de linho bordado com morangos herdado de sua mãe e induz Emília, sua esposa, a roubar o lenço de Desdêmona e diz a Otelo que sua mulher deu esse lenço a seu amante. Emília diz que as mulheres também “têm sentimentos e sentem prazer da mesma forma que o sexo masculino”. Enquanto conversa com a esposa de Otelo, Emília praticamente a incentiva a parar de ser submissa e não aceitar todas as ordens do marido.

Esse diálogo entre Emília e Desdêmona era bastante avançado para seu tempo, seria um embrião do futuro feminismo e certamente foi eliminado em muitas montagens e representações. Otelo pergunta a sua esposa sobre o lenço, pois está bastante enciumado e ela, ignorando que o lenço estava com Iago, não soube explicar onde está o tal lenço. Nesse meio tempo, Iago colocou o lenço dentro do quarto de Cassio para que ele o encontrasse.
Depois, Iago fez com que Otelo se escondesse e ouvisse uma conversa sua com Cassio. Iago fala sobre uma tal de Bianca, meretriz amante de Cassio, mas como Otelo só ouviu partes da conversa, acreditou que eles estavam falando a respeito de Desdêmona. Um pouco depois Bianca chegou e Cassio deu a ela o lenço que encontrara em seu quarto para que ela providenciasse uma cópia. As consequências disso foram terríveis: primeiro Iago, jurando lealdade a seu general, pediu permissão para matar Cassio, mas sua real intenção era matar Rodrigo e Cassio simultaneamente porque eles poderiam estragar seus planos. No entanto, ele mata Rodrigo, mas Cassio é apenas ferido na perna.

Otelo, totalmente descontrolado, foi a procura de sua esposa, certo que ela o traiu e a asfixia. Após isso, Emília, esposa de Iago, sabendo que sua senhora fora assassinada, revelou a Otelo, Ludovico (parente de Brabantio) e Montano (governador de Chipre antes de Otelo) que tudo isso foi tramado por seu marido e que Desdêmona jamais fora infiel.
A imensa agonia que sentimos ao ver Otelo matar Desdêmona é informada não apenas por uma intensidade exterior, mas, também, interior e é justamente este fato que faz de Otelo uma tragédia do ciúme, peça de construção perfeita, onde a psicologia do Mouro ciumento e a da maldade diabólica de Iago, bem como a lógica dos acontecimentos, tradução de uma fatalidade inexorável, conduzem o espectador ao clima dos grandes modelos de tragédias gregas citadas por Aristóteles.

Iago então mata Emília e foge, mas logo é capturado. Otelo, desesperado ao saber que matara sua amada esposa injustamente, apunhalou-se, caindo sobre o corpo de sua mulher e morreu beijando a quem tanto amara.
Ao finalizar a tragédia Cassio passou a ocupar o lugar de Otelo, Iago foi entregue às autoridades para ser julgado e Graciano, uma vez que seu irmão Brabantio morrera, ficou com os bens do mouro.
Otelo não suporta imaginar sua esposa fazendo sexo com Cássio, ferindo seu orgulho masculino (ele tinha baixa auto-estima). Iago cria uma situação para fazer com que Otelo fique convencido que ele sua esposa o traia de fato. O fato é que não acontece nada, como Cassio é seu fiel escudeiro, quer tratar a esposa do Otelo com o maior respeito, mas na cabeça de Otelo, já é suficiente para desconfiar da infidelidade dos dois. Chega um ponto que ele não tem mais dúvidas e com uma raiva estrondosa decide matar sua esposa infiel e Desdêmona se assusta e tenta entender o por quê ele está tão nervoso com ela e por mais que ela tenta se explicar, mais ele se convence que ela está o enganando até que ele está com tanta raiva que tira a vida de sua esposa.

Observe que é óbvio que Desdêmona não traiu Otelo, mas sim a fofoca que destruiu a sanidade do Mouro. Veja que fofoca permeou a obra toda do Russo Liev Tolstoi em Anna Kariênina, mas aqui realmente essa fofoca tinha sentido, pois o autor deixou claro que ela traiu seu marido por uma devastadora paixão pelo Vroski. Já na obra Dom Casmurro, não será algo tão fácil ligar todos esses pontos e está ai a genialidade do nosso Machado de Assis.
Análise da obra.
As grandes tragédias de Shakespeare possuem um extenso número de temas e subtemas. Dos comportamentos mais mundanos às grandes reflexões filosóficas ou explosões de ira e loucura de suas personagens. Uma tragédia escrita com a genialidade de Willian Shakespeare em que podemos constatar a importância dos sonhos e premonições na literatura inglesa, podemos observar isto, quando, conscientemente Otelo ao se casar com Desdêmona, põe em risco a auto-imagem construída a duras penas, e tem premonições corretas do caos se o amor fracassar: "Pobre querida! Quero ser maldito se não te amo! E no dia em que eu deixar de te amar, que o universo se converta de novo em caos!".

Uma obra tão grande como essa tagédia clássica é complexo analisar em poucas palavras, mas o que é de consenso geral, aborda preconceito racial e religioso, pois eles zombam de Otelo por ser negro e Rodrigo ser judeu. Ciúmes injustificado, além da união entre uma mulher branca e um mouro, que na época era um escândalo. Na crítica política, o senador chama Otelo de vilão, o que ele responde: e vós um senador.
Ler mais: https://profaclaudiacem804.webnode.com.br/news/resumo-e-analise-da-obra-otelo-william-shakespeare/

Adaptações ao cinema:
A adaptação de Orson Welles para Otelo, feita em 1952, traça de maneira muito inteligente os principais pontos da peça e não se estende muito na cadência dos eventos, conseguindo, através da direção notável de Welles e da excelente montagem, um resultado fiel e satisfatório. Nota 9.
Othello / Otelo, o Mouro de Veneza (The Tragedy of Othello: The Moor of Venice) – EUA / Itália / Marrocos / França, 1952 Direção: Orson Welles. Roteiro: William Shakespeare.
Sinópse: Otelo (Orson Welles), herói militar mouro, foge com Desdemona (Suzanne Cloutier), a filha de um aristocrata de Veneza. Enciumado, o subjugado Iago (Michael McLiammoir) age contra Otelo, Conhecendo as fraquezas dele, Iago faz um esquema para que Otelo acredite que Desdemona está sendo infiel com o tenente da equipe do militar.

A adaptação de 1995 com ator especialista da obra de Shakespeare no teatro Kenneth Branagh foi um fracasso, pois ele faz o Iago e não Otelo. O filme tem o ritmo arrastado e quem ganha a cena é Iago, que não decepciona na incorporação do vilão. Essa é a primeira versão em que Othello é interpretado por um ator negro Laurence Fishburne em uma ótima atuação, mas a direção de Oliver Parker (I) não ajuda. Os atores principais do filme, Laurence Olivier, Joyce Redman, Maggie Smith e Frank Finlay foram nominados ao Oscar, fato que nunca havia ocorrido antes em um filme baseado na obra de Shakespeare. Esse é o primeiro filme em inglês colorido da peça Othello. Existe um filme Russo colorido que antecede esse. Nota 6.

Sinopse: Othello (Laurence Olivier) , um valente general Mouro, se apaixona por Desdemona (Maggie Smith), que desafia seu pai para poder casar com seu grande amor. O tenente, Iago (Frank Finlay), secretamente nutre um ódio por ele porque Othello promoveu o jovem soldado florentino, Cassio (Derek Jacobi), ao posto de tenente. A trama se complica quando Iago inventa uma mentira que levará os personagens a uma estória trágica e sem volta.
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