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Senhora

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 9 de abr. de 2019
  • 10 min de leitura

De José de Alencar.

Essa é sem sombra de dúvida a minha obra mais desejada, adorada e de cabeceira e a maior das obras de José de Alencar (1829, falecido em 1877), que faleceu dois anos depois da sua publicação em 1877, sendo sua última obra, mas a melhor, mais contundente, mais crítica e que serviu de inspiração para seu leitor número um, o grande Machado e Assis escrever futuramente, nos moldes do Romantismo chamado “Helena”.

Essa obra é tão grande que o autor dividiu em quatro partes e na mesma estrutura que fez com “O Guarani”, na primeira parte ele apresenta a trama em si, na segunda ele faz um flash back explicando quem é quem e depois na terceira e quarta ele desenvolve e conclui.


Nesse livro, os nomes dos próprios capítulos demonstram do que se trata o assunto, negócios, capitalismo: O preço, Quitação, Posse e resgate. Ele faz uma crítica do que era o casamento que, nada mais do que uma negociação entre duas partes, a moça que paga um dote relativo ao valor do noivo e o noivo que vai assumir a moça para o resto da vida, enfim, um negócio e os nomes das partes nos termos de comercio, o preço, negociação equitação, mas aqui, diferente das outras obras ele vai defender a emancipação da mulher, mesmo sendo um monarquista, conservador e anti-abolicionista, ele vai fazer uma ode a emancipação feminina defendida logo nas primeiras páginas da obra, em que ele fala em terceira pessoa, que quem vive e cuida da mocinha de 18 anos de idade é uma mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina.


Na primeira parte é apresentada para o leitor a personagem principal, que é a Aurelia, uma menina de 18 anos de idade, órfã e milionária, que já conseguia gerir suas necessidades financeiras, manipulando seu tio, detentor da herança, mas que ela poderia a qualquer momento mudar de tutor, caso ele não fizesse o que ela desejasse, enfim, ele seria uma marionete nas mãos dela.

O título da primeira parte é “o preço,” José de Alencar vai dedicar dois longos capítulos descrevendo e idealizando a mulher e realmente de forma esplêndida, não há quem não se apaixone por essa criaturazinha petulante, linda, rica, jovial e que freqüentava todos os bailes nas noites fluminense e encantava todos os jovens pretendentes a sua mão. Cabelos castanhos, magra, bela, culta, toca piano de forma esplêndida, sedutora, inteligente, criação primorosa, enfim, a mulher idealizada pelo Romantismo, mas aqui vamos ver alguma coisa de defeito psicológico. Ela decide casar-se com o noivo de uma amiga e vai usar seu tio, um aproveitador da situação da moça, agora rica, para que faça o preço de sua nova aquisição, seu futuro marido.


Aurélia, sendo órfã e herdeira de uma grande fortuna, estavam sempre acompanhada de sua parenta D. Firmina, uma viúva. Escreveu uma carta ao seu tio Sr. Lemos dando-lhe a missão de arruinar com o casamento da sua amiga Adelaide Amaral com Fernando Seixas, oferecendo um dote de 50 contos sigilosamente em nome de Sr Torquato e para Seixas um dote de 100 contos para que ele aceitasse se casar com uma dama, mas sem que ele soubesse quem era. Como ele era de uma família pobre pouco favorável e pretendia arrumar um casamento para as suas duas irmãs, ele aceitou, mas queria se manter bem nos seus luxos e recebe um adiantamento de 20 contos de reis e com isso conseguiu casar suas irmãs.

Fernando viajou para Recife na esperança de escapar do casamento com Adelaide. Com sua ausência, Adelaide se reaproximou de Dr. Torquato Ribeiro. Aurélia lhe havia devolvido cinquenta mil contos de réis que a muito lhe devia e assim o pai de Adelaide lhe consentiu a mão da filha. Quando Fernando voltou já estava livre do casamento, foi então que Lemos lhe propôs casar-se com uma moça em troca de um dote de cem mil contos de réis, ele acabou por aceitar e recebeu um adiantamento de vinte mil contos de réis, logo depois conheceu a moça, que era Aurélia.


Alegrou-se, pois sempre a amara. Fernando e Aurélia se casaram. No quarto de núpcias, quando Fernando se declarou, Aurélia friamente entregou-lhe o resto do dote e disse que ele a pertencia, afinal acabara de comprá-lo. Seixas sente uma profunda humilhação, pois em tempos passados tinha rompido o noivado com ela para ficar noivo de Adelaide, que era mais rica. Na noite de núpcias, Aurélia chama seu então marido de homem vendido. Nessas condições passaram a viver um falso casamento, dormiam em quartos separados e sempre se tratavam intimamente com sarcasmo e ironia. Fim da primeira parte.

Na segunda parte, chamada “Quitação”, é contada a história de Aurélia.


Sua mãe Dona Emília teve um relacionamento secreto por mais de 20 anos com Pedro Camargo o filho de um grande cafeicultor e nunca teve coragem de confessar ao seu pai que estava casado e teve dois filhos, um casal, mas com a pressão der seu para para casar com alguém da escolha dele, Pedro foge e escreve para Emilia a sua situação, mas morre de estresse. O fazendeiro dá um conto de reis e pede para que esqueçam tudo. Ela coloca sua filha para ajudar o irmão a trabalhar, pois ele não tinha capacidades intelectuais para cálculos e ela fazia tudo mas ele morre de pneumonia e sobram as duas sem ter o que fazer e o que resta é apenas o casamento da Aurélia. O irmão de Elimia Seixas tenta ajudar, mas acaba dando em cima da sobrinha de 16 anos de idade, jovem e bonita, mas ela tem asco do tio e busca noivar-se com um rapaz que a corteja sempre que passa pela sua janela.


O fato é que ela ficou mal falada, pois sua mãe a obrigava a ficar como um modelo de loja na janela para atrair homens pretendentes a sua mão, foi um tempo difícil e bastante humilhante, mas era o que se podia uma mulher fazer na vida, casar-se.

Ela se apaixona por Fernando Seixas, um homem pobre, mas o leão das noites fluminense e o namoro vai seguindo aos olhares da sua mãe, que ficava na sala juntamente com os dois namorados. Depois de assumir o compromisso de se casar com ela, percebe que isso não o levaria a nada, pois ele não iria ascender na carreira profissional e nem ela tinha condições de dar um dote suficiente para manter seu padrão de vida de alto luxo, embora na sua casa ele vivia com o mínimo, para sair era o melhor terno e chapel. Ele se arrepende do noivado ao saber que sua amada era uma moça pobre e órfã e assume compromisso com Adelaide, moça rica na sociedade.


Mal sabia ele que o avô de Aurélia, pouco tempo depois, iria procurá-la e deixar toda sua fortuna. Após a morte de sua mãe, Aurélia tornou-se uma moça rica. Sua tutela foi entregue a seu tio Lemos, que havia cortado as relações com a mãe de Aurélia há tempos e tinha tentando algo sexual com Aurélia. Mas ela preferiu viver em uma casa com D. Firmina, uma amiga viúva que a tinha amparado quando ficara sozinha no mundo. . Fim da segunda parte.

A terceira parte tem como título “Posse” e retoma a ultima cena da primeira parte. O momento em que Aurelia humilha Fernando ao dizer que ela havia comprado um marido, que Le se vendeu, que ele havia largado ela por dinheiro e que agora ela a pertencia como uma posse dela. Ele assume, envergonhado, que será o que ele se vendeu, será seu escravo. Ela vai humilhá-lo por um mês e aqui se descreve a rotina de Aurélia e Fernando enquanto casal. Eles vivem uma vida de aparência; desfilam de mãos dadas, trocam carinhos e gentilezas diante de bailes ou de amigos.


Mas quando estão sozinhos, trocam palavras ferinas e acusações. Fernando se vê como um escravo de Aurélia, tendo ela como sua dona e a obedece em todos os seus desejos. Ele pede permissão para poder comer, fumar, sair e tudo o mais, até trabalhar precisa da sua autorização. Numa cena ela pergunta quanto ele ganha e ele faz 6 contos de reis por mês, ela dá uma risada sarcástica e diz que seria melhor ele trabalhar para ela, que ganharia mais. Com o decorrer do tempo Fernando se dedicou ao trabalho de servidor público e Aurélia passou por um longo tempo se isolando de todos. Depois de tal isolamento dedicou-se a festas, visitas e pequenas reuniões contínuas. Numa dessas reuniões a amiga pergunta quanto pagou pelo marido, ele escuta, mas não responde nada e ela insistiu para que ele mesmo responda: Vamos diga você mesmo, foi comprado por quanto? Fernando. Ele sem titubear ver ela que foi arrematado por 100 mil contos de reis. Depois de um mês, ambos estão esgotados e ela comenta que pretende viajar para a Europa, que sua vingança estava completa, que eles teriam que dar um novo rumo a essa situação, mas não encontram uma saída decente e plausível e as humilhações continua, ela sobre e ele e ele já ano agüentando mais tanto sofrimento. Nem ela.


Na quarta e última parte, “Resgate”, temos os principais acontecimentos da trama.

O casal já está numa situação de esgotamento, ela já não tem nenhum prazer em humilha seu amado, já se sente vingada, mas ele ainda está bastante ferido. Em dois momentos, ambos se aproximam e quase esquecem de todo esse passado, esquece que é um negócio e tenta algo, mas logo interrompem, pois nada está resolvido. Ao voltar de um baile quase houve uma reconciliação, no entanto ela não aconteceu. Então durante uma valsa, em um baile próprio, Aurélia desmaiou e acabaram sozinhos no quarto dela. Nesse momento quase houve novamente uma reconciliação, mas Fernando sem querer disse palavras que ofenderam a sua esposa. Voltaram para o baile, ainda vivendo de aparências. Quando o baile acabou cada um foi para seu quarto, Aurélia, baseando-se nos recentes acontecimentos, concluiu que Fernando realmente a amava, quase foi ao encontro dele, mas precisava ter certeza e abandonou assim a ideia.


O orgulho de ambos não se deixam envolver. Podemos notar nessa parte a visível transformação de Fernando que passa a recusar o luxo que tanto já desejara. Fernando passa então a trabalhar dedicadamente e faz um negócio importante. Fernando recebeu o dinheiro que havia ganhado através de um investimento, pediu para conversar com Aurélia. Após o jantar foram para o quarto dela, ele entregou a ela um cheque com o valor que ela havia pagado pelo dote, 80 mil contos de reis e mais os outros vinte mil contos de réis dados como entrada. Declarou-se livre, pois havia lhe devolvido o dinheiro com o qual ela o havia comprado. Ela confere nota por nota e os juros acrescentados ao valor e se dá por concluída a negociação. Ela diz que ele está de fato livre do relacionamento. Ele então pede o divórcio. Comprovada a mudança de Fernando, Aurélia lhe mostra o seu testamento escrito no dia do casamento, onde é deixada para Fernando toda sua fortuna e fica de joelhos aos seus pés e pede para ele re-considerar. Diz que ela foi humilhada e buscou vingança, mas que está arrependida é declarado o seu amor por ele. Ele se mantém firme na decisão de partir, mas ela fala que ela esperava que ele não tivesse aceitado o acordo, que ele não deveria se vender e que se ele não tivesse aceito, ela daria mesmo assim, naquela época toda sua fortuna para ele. Afirmou que sendo eles agora estranhos o passado havia sido esquecido e assim podiam viver o amor que sentiam. Fernando, ao ouvir tal confissão, beijou sua esposa e assim reconciliaram. O casamento então se consuma e os dois se tornam um casal de amantes.


Análise da obra

Embora essa obra esteja dentro do período do romantismo, que a protagonista foi totalmente idealizada e que o final é típico dessa época, não podemos concluir que é essencialmente uma obra romântica, pelo contrário, “Senhora” apresenta novos elementos, que prenunciam a grande renovação realista, tais como: a crítica à futilidade comportamental e à fragilidade dos valores burgueses resultantes do capitalismo brasileiro emergente e certo grau de introspecção psicológica. Já falamos que José de Alencar é maniqueísta em suas obras, que ele coloca o bem contra o mal, que as coisas sempre ficam bem definidas em seus personagens, mas aqui temos o Fernando Seixas que não está nem entre o bom, embora ele mostre suas intenções em se casar bem para dar mais conforto a sua mãe, já que é órfão de pai, mantenedor da família, embora com emprego, mas pobre buscou casar-se com interesse para prover melhor a sua casa e dar condições para casar suas duas irmãs, mas por outro lado ele é dissimulado, noivou-se com Aurélia e o narrador explica que, ao ser oferecido um dote maior, ele

abandona Adelaide, que oferecia 30 mil reis e trocou por uma desconhecida por 100 mil reis e ele pensa justamente em não largar seu alfaiate, suas roupas caras, suas noitadas, seu luxo e futilidade. Esse caráter dúbio não faz parte do romantismo, um herói deixando-se envolver pelas aparências da vida social, ficando claro que ele não amava Adelaide, mas queria apenas o dote mostra que não passa de um oportunista, vendido, ganancioso e vil.

Durante a trama Seixas recupera sua dignidade e passa a ser valorizado aos olhos de Aurélia., mas o outro personagem que não tem nada de bom é o tio de Aurélia, o lemos, que além de tentar abusar da sobrinha num momento de maior fragilidade, foi um intermediário nas negociações e também oportunista. A todo o momento provocava o Seixas, falando de defeitos da moça, embora seixas não se deixava abalar.

Aurélia é uma mulher independente, arrogante e dona de si, o que era inconcebível naquela época, portanto se trata de uma obra revolucionária, talvez a primeira obra feminista no Brasil.


O final é bastante duvidoso, naquela época Alencar respondia a suas leitoras que exigiam um final feliz, já que a obra era escrita igual as novelas atuais, um capítulo por semana e publicado nos jornais. Se penarmos racionalmente, nenhum dos dois merecia terminar juntos, pois da mesma forma que seixas mudou de opiniões várias vezes, poderia mudar novamente, pois não é um ser confiável, a mesma coisa para Aurélia, que se mostrou vingativa, cruel e déspota e tudo por um capricho, uma vingança, enfim, uma obra para ler e re-ler várias vezes e que aponta um novo caminho para uma nova escola literárias, que seria o realismo com Machado de Assis, seu maior leitor.


Filme

Senhora (1976) Enredo e direção de Geraldo Vietri. Sinopse: Em 1870, no subúrbio carioca de Santa Teresa, a jovem e bonita Aurélia Camargo fica sabendo no dia do falecimento de seu irmão Emílio que sua mãe não era viúva, mas fora abandonada pelo marido. Pouco depois, a mãe dela falece e também seu avô, que lhe deixa uma herança que a torna rica. Aurélia então resolve usar, com a ajuda do trapaceiro Tio Lemos, o dinheiro que recebeu para se vingar de Fernando Seixas, seu antigo amado que lhe abandonara quando ainda era uma moça pobre para se casar com Adelaide por causa do dote oferecido pelo pai dela, o funcionário da alfândega Tavares do Amaral. Número musical com Francisco Petrônio.


Elenco:

· Elaine Cristina.... Aurélia Lemos Camargo

· Paulo Figueiredo.... Fernando Seixas

· Aldo César...Tavares do Amaral

· Ruthinéa de Moraes...Mariquinha Seixas, irmã de Fernando

· Annamaria Dias.... Adelaide Amaral

Uma adaptação da obra homônima e em se tratando de José de Alencar fica muito abaixo do que se espera do filme. Bela

atuação de Elaine Cristina, altiva como de fato Alencar descreveu a personagem. Não se espera que o filme passe a riqueza de várias páginas em 100 minutos. Uma boa adaptação, tentando ser consistente. As tramas paralelas à situação central são bem conduzidas. O roteiro exagerou na "vilania" da protagonista com ótimo resultado, mas acho que o final foi totalmente modificado e tirando a mensagem de Alencar, onde não aparece a Aurélia perdoando Fernando, acho que era primordial contar a quem não leu o livro tal desfecho.

 
 
 

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