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São Bernardo – Análise da obra

  • Foto do escritor: Fernando Carlos
    Fernando Carlos
  • 28 de dez. de 2018
  • 4 min de leitura

São Bernardo é escrito em primeira pessoa e no discurso do narrador, ele vai direto ao ponto, sem rodeios, inclusive ele mesmo fala que a memória dele já não é essas coisa e que poderá omitir coisas sem relevância, típico das características dessa fase do modernismo. Não posso falar que é um romance, pois ninguém se apaixona por ninguém, tudo são negócios, a partir dele mesmo e da sua futura esposa que afirma ser apenas um bom negócio o casamento com ele. Sendo mais irônico, é um anti-romance.


Paulo Honório é um homem muito prático, bruto e só conhece as primeiras letras e aritmética, um representante clássico do capitalista selvagem daquela época. Não podemos esquecer que o autor Graciliano era comunista e dessa forma vai construir uma imagem de um capitalista selvagem, ganhando dinheiro a qualquer custo, um verdadeiro rolo compressor sobre todos e o mais importante é que ele usa a crueldade e “objetifica” tudo e todos, isto é, para ele tudo é comprável como um objeto ou um animal, mas “coisificado”. Respeitando as diferenças de tempo e de escola literária, não podemos deixar de comparar ao personagem João Romão do livro de Aluísio de Azevedo “O Cortiço”, embora nessa obra o personagem é mais elegante, mais refinado, cuida da aparência da casa, diferente do Romão que é um personagem rústico demais, um ogro.


Para se firmar na fazenda que consegue sem nenhuma ética, e ampliou suas terras com sangue nas mãos com o assassinato do seu vizinho, ele se alia aos poderosos, representados pelo padre e pelo jornalismo, isto é, religião oficial e imprensa. O casamento, além de ser um bom negócio e importância social, sem amor, e isso ele afirma com convicção, que não aceitaria casar-se por amor, que é besteira, visando um herdeiro.


O personagem de Madalena tem idéias socialistas e age como tal criando o conflito da obra, mas existe uma crítica sobre a atitude dela, sendo comunista, aceita casar-se por negócio, algo que devemos refletir. Ela é ambígua, não demonstra tanta aversão ao capital.

A questão do ciúmes doentio de Paulo Honório, embora seja ciúmes sem amor, já que amor para ele significa fraqueza, um erro, isto é, o ciúmes é porque ele se depara com a forma de como ela é, nunca se dobrou as ordens de seu marido ou ao jeito grosseiro de Paulo Honório. Ela tinha opiniões formadas, cultura e seus próprios pensamentos e encantos que contagiava a todos, ela era letrada, entendia tudo que se falava e os amigos mais instruídos se voltam a dar atenção a ela e ele ficando a descanteio.


Ela vai definhando depois do nascimento do filho, o herdeiro de tudo, das ações brutais de Honório, além dos gritos e brigas cada vez mais constantes. Ele tenta comprar a felicidade dela oferecendo uma viagem que para ela não significa nada, ela tem conforto material, mas não compensa o conforto intelectual e emocional e se mata tomando veneno. Ela abandona seu próprio filho, outro ponto fraco na atitude dela.

Nas reflexões dele, tem consciência que acertou em muito e ganhou muito, mas errou muito e perdeu também, o fato é que ele não é feliz e diz isso, embora para ele isso fosse inevitável, por ter uma vida agreste, não poderia fazer diferente, mas fica infeliz e os negócios vão de mal a pior. Ele diz que a culpa é da vida agreste, mas não dele. Aqui vemos que é a visão dele, do narrador como primeira pessoa, mostra que ele foi um grande homem de sucesso, um grande empreendedor, que comeu o pão que o diabo amassou, era órfão e se tornou um homem de negócios, dono de uma fazenda invejável, portanto do ponto de vista dele, a falta de ética, da agressividade e pouca cultura ou quase nada fale a pena e é aqui que vem a grandeza de Gracialino Ramos, pois no final ele se torna triste e falido.


A linguagem da história é dura e seca como a vida do personagem, cheia de gírias e expressões regionais daquela época, que cansa um pouco e até fica confuso para nós, mas essa outra característica da escola modernista dessa fase.

Paulo Honário tem uma intenção que se diferencia dos demais, mesmo miserável, sem conhecer os pais, ser guia de cego, consegue dominar toda uma estrutura social a seu redor, aproveita a fragilidade e defeitos do dono das terras que ele deseja conquista, conhece como driblar toda essa situação para conseguir a confiança de seu antigo patrão, que agora está decadente, e dá o bote com firmeza e foco e se moderniza, ele fica a frente de todos a seu tempo, um vitorioso.

Na época da escrita vivíamos justamente o golpe de 30 com Getúlio Vargas e seu lema de mudança de foco econômico para induistrialização e o fim, das oligarquias latifundiárias e na história ele vence usando ainda seus costumes e a base da terra, mas mesmo assim, ao criar a escola mostra que seu olhar é para a modernidade, embora isso não vai para frente. A questão das críticas que ele recebe da imprensa também tem haver com o que Getúlio fazia na imprensa, com a censura. As questões das outras teorias totalitaristas, da Rússia comunista ditatorial e Itália fascista em ascensão colocada nos diálogos na mesa de jantar com os amigos.


Esse lado sócio-histórico não deixa de ser panfletário, já que o autor não esconde suas intenções, mas é colocado de uma forma tão explícita, que podemos analisar todos os lados por essa alegoria da fazenda São Bernardo, que representa o Brasil arcaico cafeicultor que estava acabando.


Já Margarida tem o papel de representar a demagogia de Vargas, ao se preocupar com os trabalhadores, dar roupas dela própria para as moradoras da fazenda, ensinar o be-a-bá para as criancinhas e sua ambiguidade na conclusão da obra, já que ela se mata sem se preocupar em ter outra atitude, de pegar seu filho e mudar da fazenda deixando o Paulo Honório, já que não estava aguentando tanta agressividade, sem falar na coitada de sua tia, que sofria calada na fazenda. Seu suicídio mostra a crise de identidade de Margarida, perdida no que não é mais, o patriarcalismo e latifúndio e o que ainda não é, os direitos trabalhistas e os direitos humanos, além da futura industrialização e urbanização.

Temos vários personagens, além desses já discutidos, mas ai fica para cada leitor se identificar com cada um deles.

 
 
 

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