Ubirajara
- Fernando Carlos
- 3 de abr. de 2019
- 6 min de leitura

De José de Alencar.
Essa é a terceira obra indianista do autor e a mais bem acabada, com mais de 50 referências no rodapé dando maior credibilidade do que é narrado, embora ainda seja um índio idealizado, pelo fato dele não apresentar nenhum defeito, nenhum medo ou algo que possa denegrir sua imagem. No enredo não temos nenhuma presença de algum colonizador, somente três tribos indígenas distintas e inimigas entre si. O Objetivo de Alencar é escrever a formação da nossa nação indígena, nossos antepassados cobertos de glória e bravura e depois sim, viria o colonizador para forma a real nacionalidade brasileira, mas sempre é bom pontuar que ele retira propositalmente a presença dos africanos que foram trazidos como escravos para cá para trabalhar nas fazendas e grandes latifundiários.

Essa posição contra o abolicionista não quer dizer que Alencar era de fato favorável para que perpetuasse a escravidão no Brasil, ma simplesmente porque ele era de uma época em que não existia uma saída honrosa para a liberdade dos escravos, já que eles não teriam onde trabalhar, o que não é uma verdade absoluta, mas era assim que ele via e pensava como um homem de sua época, dessa forma, a obra Ubirajara busca trazer para nós leitores um índio mais próximo do que era realmente essa civilização antes da chegada dos portugueses.
Uma coisa que fica muito nítida, além a idealização completa do indígena, são referências a culturas européias, como os grande cavaleiros medievais em busca de sal honra e casamento por mérito, coisa que Alencar justifica como sendo algo parecido nas tribos indígenas, dando referencias de estudiosos em notas de rodapé, mas todo enredo nos leva para as grandes batalhas épicas dos cavaleiros medievais europeus. Também uma referencia as tragédias gregas, como por exemplo “Édipo Rei”, já que o grande herói mata seu oponente sem nem mesmo saber que de fato ele matara seu pai e casa-se com sua mãe Jocasta.
Feita essas considerações, a obra é narrada em terceira pessoa e de uma forma lírica e brilhante e de fácil entendimento, uma obra curta de pouco mais de 60 páginas, mas repletas de subtextos, que explica e fundamenta a narrativa, tornando uma obter mais histórica que romance.

Aqui não temos um índio europeizado como na obra O Guarani, onde o personagem principal usava camiseta de algodão e falava português com fluência, mas um índio em busca de sua fama e posição na tribo.
Inicialmente temos a apresentação de Jaguari que está saindo bem jovem de sua tribo para o ritual de passagem para ser um grande guerreiro e para isso precisa vencer um inimigo poderoso que possa lhe trazer honras. Sua meta era lutar com um grande guerreiro da tribo rival Tocantins com Pojucã, que significa “matador de gente” e no seu caminho ele se depara com uma índia linda e se apaixona perdidamente. Ela apresentava uma lista vermelha bna perna, o que significa que ela ainda era virgem, não pertencia a nenhum outro. Ela chega a cortejar a índia, mas ela fala que já está prometida para outro e que para tê-la, ele teria que lugar contra os mais fortes da tribo dela. Ele aceita o desafio, mas antes ele quer buscar sua honra e seu novo nome lutando com alguém digno disso.

Ele finalmente encontra seu adversário e eles lutam por três infindáveis dias, até que chegam a um impasse e decidem fazer uma última prova, Jaguari finca sua lança de duas pontas no chão e ambos tomam distância para quem chegar ate a lança, será o vencedor da batalha, já que até então ninguém conseguiu derrotar o outro e embora Pojucã chega primeiro a tal lança, Jaguari consegue derrotá-lo em luta corporal e ele se dá por vencido e a partir de agora ele recebe o nome de Ubirajara, o “Senhor da lança” e ganha sua honra de grande guerreiro, o senhor dos guerreiros levando Pojucã como prisioneiro para sua tribo denominada de Araguaia. Agora ele está preparado para outra disputa, a mão da mulher que povoa seus pensamentos Araci, que é da tribo rival Tocantins, a mesma que Pojucã.
Jaguari era noivo de Jandira, “a abelha que faz mel,” mas agora como Ubirajara ele pode recusar se unir com ela porque só tem olhos para Araci, que significa “estrela do dia.” Ao chegar a tribo como herói, Jandira fica extremamente feliz e prepara a rede para seu pretendente e fica extremamente decepcionada quande ele revela que está apaixonado por uma outra índia, a Araci.

Pior ainda vai ficar quando o líder dos Araguai destina Jandira a ser a viúva do Pojucã, já que pelos rituais canibais, um grande guerreiro que perde em batalha será morto e comido pela tribo vencedora para que sua coragem e força passe através de sua carne. Isso é uma grande honra para Pojucã e uma tristeza para Jandira que se casará com ele e logo ficará viúva. Para o vencido sobre ser devorado ou permanecer escravo da outra tricô e portanto ele pede para Ubirajara a honra da morte. Ele aceita com a condição dele aceitar sua noiva Jandira e dar um filho guerreiro para a tribo.
Claro que Jandira não aceita nada disso e vai protestar, mas Ubirajara agora tem outro objetivo, ir até a tribo dos Tocantins para pedir a mão de Araci ao chefe da tribo. Ele vai como visitante e nas normas da época e daquela tribo, qualquer visitante em paz é recebido de braços abertos, não precisa se apresentar, mas como ele tinha outro nome, agora ele era Ubirajara, mas ele se apresenta como Jurandi, o trazido pela luz, mas somente Araci sabe que Ubirajara era o mesmo que venceu Pojucã. Dá-se inicio ao ritual para conquistar a mão de Araci, que estava perdidamente apaixonado por Ubirajara e as lutas contra os guerreiros mais fotes da tribo se iniciam e Ubirajara vence com maestria e grande folga. O líder da tribo, pai de Araci faz um ulçtimo, pedido, que ele coloque sua mão num vidro de saúvas para avaliar se ele agüenta tanto sofrimento e mesmo sendo picado ele demonstra impassividade. Para retirar sua mão do vidro tiveram que quebrar de tão inchada ficou. Finalmente vence e fica com a mão de Araci, filha do chefe da tribo, mas uma reunião de anciões impede que essa união aconteça porque descobrem que na verdade esse tal de Jaguari fora o responsável de aprisionar o irmão de Araci, o Pojucã, filho do chefe dos Tocantins e, portanto é declarado guerra entre as duas tribos. Isso não era do conhecimento de Ubirajara, mas a guerra foi declarada.

Aqui é mais colocada a questão ética e honra do que realmente cenas de guerra. Ubirajara decide libertar Pojucã para voltar a sua tribo e lutar contra, pois para eles a palavra de honra é mais valiosa do que artimanhas. Só se vence uma guerra com valores elevados. Durante a guerra ele vai lutar novamente contra guerreiros bravos que disputavam o amor de Araci, mas [é certo que ele vai vencer todos e sua tribo Araguaia vai vencer a outra Tocantis e dessa forma formar uma grande nação mais poderosa e unida.
Não adiante se lamentar, isso é fraqueza, é necessário ter paciência e constância e somente assim se matem a força e valentia de um grande guerreiro. Ele finalmente fica com Araci e teremos outro enfrentamento entre Araci e Jandira. Essa última tem uma visão do amor diferente da outro, Jandira deseja matar Araci para ficar com Ubirajara, mas Araci pensa o contrário, ela pensa em dividir, quando se ama é possível que divida o ser amado, embora na história, Jandira vai pertencer a Ubirajara e ser escrava da Araci.

Depois de grandes lutas e acordos as duas tribos passam a ser irmãs e Ubirajara fica como responsável sendo o grande guerreiro das duas tribos. Araci conquista o amor total de Ubirajara e ambos se casam e ela ganha Jandira como sua real escrava, mas ela fala com a Jandira que a partir de agora ambas são irmãs, porque as duas tribos são irmãs e portanto vai dividir o amor de Ubirajara com Jandira e dá sua escrava de presente para Ubirajara e portanto ele casa com as duas, embora para Jandira o amor é posse e para Araci o amor pode ser dividido. Assim termina essa grande obra.
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